Está na hora de a Apple abrir o iPhone

Por muito tempo, eu concordei 100% com a premissa de que, já que a Apple havia se dedicado…

Mar 1, 2025 - 16:32
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Está na hora de a Apple abrir o iPhone
iPhone e logo da Apple com cadeado

Por muito tempo, eu concordei 100% com a premissa de que, já que a Apple havia se dedicado a investir os tubos para desenvolver um produto como o iPhone e toda a estrutura que o acompanha, era natural que ela colhesse os frutos disso como melhor lhe conviesse. O iPhone é dela — logo, ela dita as regras. Mesma coisa para o Android, por sinal.

Sob essa lógica, cada desenvolvedor ou fabricante de acessório deveria apenas agradecer por poder usar o produto de uma outra empresa para levar seu próprio trabalho a milhões de pessoas ao redor do mundo. Sem smartphone, sem trabalho. Certo?

Pois bem. Ao longo dos últimos anos, tenho percebido que talvez essa não seja a única forma de se olhar para essa situação.

E não falo apenas sobre as regras da App Store ou o valor da comissão que a Apple cobra. Falo sobre a importância que o smartphone, como categoria de produto, acumulou no cotidiano da humanidade e, no caso específico do iPhone (e, mais especificamente ainda, do iOS), sobre como a exploração de todo o potencial que ele oferece tem sido prejudicada ou pelo menos atrasada pela própria empresa.

Com o fracasso e a descontinuação do Humane Ai Pin, passei os últimos dias pensando o seguinte: o que um novo produto precisa fazer para ter alguma chance dar certo em um segmento no qual tanto clientes quanto fabricantes estão igualmente em desvantagem na relação com a Apple e o Google?

E que fique absolutamente claro: a lista de tiros no pé que a Humane deu e que contribuíram para o fracasso do Ai Pin é enorme. Ele esquentava demais 1, custava caro demais 2, sua bateria durava pouco 3, sua oferta de apps era quase inexistente 4, sua utilidade era bastante limitada 5, era estranho para ser usado normalmente em público 6, exigia uma assinatura, requeria um novo número telefônico de uma operadora específica e, obviamente, nunca teve a menor chance de substituir o celular como prometido.

Ainda assim, imagine que nos próximos meses surja uma startup que desenvolva um produto que acerte no design, no preço, no modelo de negócio, no equilíbrio entre forma e função, e que verdadeiramente identifique um jeito novo, natural e — principalmente — útil de facilitar a vida do usuário para algumas tarefas que hoje são executadas com um certo atrito (ou que são impossíveis de se executar) no smartphone.

Sabe o que aconteceria com esse produto? Muito provavelmente ele também fracassaria.

Parquinho fechado

No podcast Upgrade, o jornalista Jason Snell — que acompanha a Apple há mais tempo do que muitos leitores do MacMagazine estão vivos — costuma falar sobre como Steve Jobs desprezava fabricantes de acessórios, e sobre como a empresa perpetua essa atitude até hoje.

Em março do ano passado, Snell argumentou o seguinte, no contexto da má vontade da companhia para cumprir as determinações do lei europeia de mercados digitais (Digital Markets Act, ou DMA):

Isso mostra o quão mesquinha e vingativa a Apple pode ser. […] (Essa atitude) é compreensível até certo ponto, quando você está lutando pela própria vida […]. Quando Steve Jobs voltou, a Apple estava lutando pela própria vida. Mas eu acho que isso era uma característica dele, e que foi transferida para a empresa. Porque ele sempre sentiu que a Apple estava fazendo um grande trabalho, enquanto os outros só lucravam em cima dela. Ele sentia que os outros eram sanguessugas da grandeza da Apple.

Quando o iPhone surgiu, ele era basicamente um brinquedo interessante, porém nada essencial para o dia a dia dos seus poucos usuários. Ele apresentava uma forma nova de fazer algumas das coisas que fazíamos no PC, ainda que de um jeito mais atrapalhado — porém infinitamente mais divertido.

Never forget.                         </div>
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