Apple: EUA não querem Reino Unido espiando iPhones
Governo britânico exige que Apple instale uma "porta dos fundos" em todos os iPhones, ato que enfureceu republicanos e democratas nos EUA Apple: EUA não querem Reino Unido espiando iPhones

Tão certo quanto o Sol que nasce todas as manhãs, congressistas dos Estados Unidos estão fulos da vida com o mais recente rolo envolvendo a Apple e o Reino Unido.
- Apple: Reino Unido quer acesso às contas de TODOS os usuários
- Reino Unido: Lei de Segurança Online é "vigilância como padrão"
Oficiais do governo britânico teriam ordenado à maçã a se sujeitar à Lei de Segurança Online, que entrou em vigor em dezembro de 2024, e conceda às autoridades acesso pleno às contas criptografadas de usuários do iPhone, iPad, e demais gadgets.

Como previsto, congressistas dos EUA de ambos os lados estão furiosos com o governo britânico (Crédito: Ronaldo Gogoni/Meio Bit)
O problema, a ordem não se limita a consumidores da Apple em solo britânico, mas a todos os usuários de seus serviços, em todo o mundo, o que foi entendido como espionagem por políticos dos EUA, republicanos e democratas; estes exigiram que o Reino Unido abandone a ideia.
Apple vs. Reino Unido vs. EUA
Para quem não lembra, a Lei de Segurança Online do Reino Unido, proposta em 2022 e aprovada em 2023, exige que plataformas digitais que operam no país implemente "portas dos fundos" em seus sistemas de comunicação, incluindo mensageiros instantâneos que usam recursos de criptografia de ponta a ponta, como o WhatsApp.
As empresas devem permitir o acesso, por oficiais do governo, a conteúdos e mensagens em qualquer plataforma, protegida ou não, com a justificativa de combater o abuso infantil. Segundo a lei, a porta de acesso deve ser mantida protegida a todo custo, o que por si só é contraditório, se há uma vulnerabilidade ela será explorada por hackers, mais cedo ou mais tarde.
Profissionais de segurança e grupos de defesa dos direitos humanos são contra a medida, que não tem precedente em nenhum país democrático do planeta, ao verem a lei como a implementação de um estado de vigilância por padrão.
Assim que a lei entrou em vigor, oficiais do governo teriam selecionado a Apple como o primeiro alvo, por esta ser a companhia mais valiosa do mundo, e teriam sido bem claros: segundo fontes, a maçã deve permitir acesso total às contas de todos os usuários de serviços como iMessage, FaceTime e iCloud, independente de sua nacionalidade, e a companhia é obrigada a fazê-lo dentro do prazo, mesmo que recorra judicialmente, o que ela tem direito de fazer.
Continua, claro: mesmo que a Apple, que é obviamente contra a lei, cumpra sua ameaça de retirar os serviços de criptografia do Reino Unido, tal ato não satisfaz a exigência, e é legalmente proibida de informar os usuários, ou outros governos, de que os dados foram acessados por membros do governo britânico, o que poderia ser facilmente entendido como espionagem.
Foi exatamente isso o que aconteceu, para a surpresa de absolutamente ninguém, assim que a notícia chegou aos membros do governo dos Estados Unidos, que estariam fumegando de raiva com os britânicos querendo bancar a polícia do mundo, ou mais precisamente, fuçando dados de oficiais e políticos locais.
Após informações sobre a exigência imposta à Apple serem publicadas pelo jornal The Washington Post, por Ron Wyden (DEM/Oregon), membro do Comitê de Inteligência do Senado, e Andy Biggs (GOP/Arizona), do Comitê Judiciário da Câmara de Representantes, enviaram uma carta a Tulsi Gabbard, diretora de Inteligência Nacional (órgão que supervisiona a CIA, a NSA, o NRO, e vários outros órgãos similares), para que ela pressione o Reino Unido.
A preocupação de ambos, em um raro caso de alinhamento bipartidário, é de que os britânicos usem a brecha para espionar membros do alto escalão e oficiais em posições sensíveis, além de todos os cidadãos americanos; não é uma questão de se preocupar com o resto do mundo, e sim um claro "aqui, não!", priorizando obviamente a Segurança Nacional.
Vale lembrar que a Lei de Segurança Online vale para todas as companhias que operam no Reino Unido, de Google e Microsoft ao Meta e Amazon, do TikTok e X ao BlueSky, da Sony à Nintendo, do Telegram e Signal ao Element e Discord.
A Apple foi apenas a primeira da lista e o alvo mais suculento, para servir de exemplo aos demais; no que depender de Londres, ninguém, em nenhum canto do planeta, que use serviços de dados e comunicação online de qualquer tipo, vai escapar de ter seus dados e conversas acessíveis aos "homens do Rei".

Ron Widen (esq.) e Andy Biggs (dir.) querem que Tulsi Gabbard (centro) pressione o Reino Unido (Crédito: Kevin Dietsch/Getty Images/Aaron Schwartz/Sipa USA/Drew Angerer/Getty Images)
Wyden e Biggs mencionam na carta que a "porta dos fundos" (ou da frente, a essa altura) "colocará em risco a segurança de dados dos americanos, e de diversas agências federais, estaduais, e locais" que confiam na segurança dos serviços de criptografia da Apple, e lembraram que a diretora disse que medidas do tipo "violam a Quarta Emenda da Constituição (sobre buscas e apreensões ilegais), e direitos civis".
Claro, vale lembrar que ninguém é santo nessa história: desde o caso Snowden é sabido que os EUA também querem ter acesso a dados de todo mundo em todo lugar, e o FBI já defendeu uma "porta dos fundos" em dispositivos móveis. Esta é mais uma situação de "casa de ferreiro, espeto de pau", a América só não quer ser ela mesma um alvo, principalmente de aliados próximos, como o Reino Unido.
Por enquanto, Gabbard (que não é benquista entre os democratas, mas foi nomeada por Donald Trump e recém-confirmada como chefe de Inteligência, então, paciência) não fez nenhuma declaração pública sobre o caso, mas é bem provável que a lei britânica enfrentará resistência de outros governos, não apenas nos EUA, dadas as possíveis consequências de oficiais de um país acessando dados de todos os usuários de iGadgets do mundo, e posteriormente, de todos os produtos e serviços online disponíveis na terra do Rei.
Fonte: The Washington Post