Galaxy S25 e a importância de tirar a IA da mão dos nerds
O Galaxy S25 impressiona pela experiência de uso e integração da IA, destacando-se em recursos como filtro de ruídos e edição de imagens. A verdadeira inovação está em soluções práticas, não apenas na tecnologia em si Galaxy S25 e a importância de tirar a IA da mão dos nerds

O Galaxy S25 está sendo apresentado para a mídia em eventos da Samsung pelo Brasil, fui convidado e fiquei impressionado. Não pelo aparelho em si, excelente como todo Flagship, não pela IA, que é discreta, mas pela falta de hype e pela maturidade da proposta. É algo que vai muito além de um simples celular.

A entrada do evento da Samsung (Crédito: Carlos Cardoso/Meio Bit)
OK, simples celular não é bem o termo correto para um bicho com tela AMOLED de 3120 x 1440 pixels a 120Hz, 1TB de armazenamento, 12GB de RAM, câmera principal de 200Mpx e inúmeros outros recursos high-end que você encontra em detalhes no site oficial, mas o foco não é o aparelho.
É a experiência.
Renato Citrini, Gerente Senior da Samsung, demonstrou os vários usos da IA da empresa, alguns realmente úteis, como o filtro de ruídos, uma versão portátil de algo que algum tempo atrás exigia uma GPU parruda.

Renato Citrini, da Samsung, apresenta a Galaxy AI (Crédito: Carlos Cardoso/Meio Bit)
Também vimos os efeitos de edição, removendo e movendo objetos de imagens, algo divertido e útil, se você quer se livrar de seu cunhado. As câmeras do S25 também usam bastante de aprimoramento de imagens via IA. Até demais, diriam alguns.
Há recursos de criação de personagens, integração com o Gemini e uma notável ausência: durante toda a apresentação o Bixby não foi mencionado uma única vez.
Vendido como assistente de IA, o Bixby é a resposta da Samsung para a Siri da Apple e a falecida Cortana da Microsoft, todas netas da Alexa da Amazon, um grupo de assistentes de voz que se tornaram comicamente inadequadas com a popularização dos Large Language Models.
O assistente da vez agora é o Gemini, do Google, perfeitamente integrado ao S25, mas isso não é o futuro. É um primeiro passo, mas não ajuda realmente a popularizar a IA. A Samsung está cometendo o mesmo erro que a Apple, Microsoft, Google, Meta, etc. Um foco muito grande em IA como IA tentando convencer o consumidor que ele precisa de IA em sua vida. Não precisa.
O consumidor não tem que “querer”. Henry Ford disse que se fosse ouvir o que os consumidores queriam, a resposta seria “cavalos mais rápidos”. O consumidor tem um problema sério em imaginar -e querer- inovação.
Em um artigo clássico, eu contei a história de como os macfags fãs da Apple reagiram quando o projeto secreto da empresa foi revelado, e era o iPod. Você sabe, o tocador de música integrado com o computador e com uma loja própria, algo que mudou como o MUNDO consome música, inventou o conceito de podcasts, e revolucionou alguns mercados.
- “Hey, algumas idéias, Apple: Ao invés de entrar no mundo dos brinquedos e gadgets, que tal gastar um pouco de tempo resolvendo sua pateticamente cara linha de servidores? Ou vocês realmente querem se tornar uma glorificada empresa de gadgets de consumo?”
- “US$400 por um MP3 Player!”
- “Todo esse hype em torno de um MP3 Player? Dispositivo Digital Revolucionário? O campo de distorção da realidade está distorcendo a mente do Steve se ele pensa por um segundo que essa coisa vai decolar”
- “Esse iPod é para garotos ricos mimados com pais insanos ou fãs da Apple fanáticos como Talibãs. Ele tem boas caracteristicas mas esqueça comprar um por US$399!!! Nunca, quem comprar essa coisa é uma pessoa muito estúpida!”
- “Steve Jobs está sob efeito de uma consultoria terrível ou muita maconha. A proposta não é realista. Se a Apple fizer algo assim de novo, vai falir”
Spoiler: Não faliu.
Não estou dizendo que o consumidor não sabe o que quer, ele apenas não sabe o que não quer. “Esse celular é melhor, pois tem IA” não diz nada, é uma complicação a mais, que gera hesitação e desconfiança, ainda mais com a Velha Mídia em campanha forte contra IA, toda hora alertando de seus “perigos”.
Ficar apontando as tecnologias subjacentes não tornam um recurso mais atraente, apenas mais confuso. Ninguém quer ou precisa saber como uma furadeira de impacto funciona, basta que ela fure de forma impactante.

Galaxy S25. É lindo, mas não é pro meu bico (Crédito: Carlos Cardoso/Meio Bit)
As empresas estão agindo como butiques de IA esquecendo que seus consumidores querem resultados. Ninguém compra tecnologia, a gente compra soluções.
Há toneladas de IA, Machine Learning e assemelhados em tudo que seu celular faz, do sensor de digitais à forma com que ele faz mágica para suas fotos ficarem minimamente decentes, mesmo que você não entenda absolutamente nada de fotografia.
Faz diferença destrinchar todos os algoritmos, técnicas e Papers usados para chegar no resultado final? Não, para o consumidor o que importa é que o celular “faz fotos excelentes”, mesmo desconhecendo todo o trabalho por trás disso.
IA é o termo da moda, todo mundo tem que usar, ou fica parecendo desatualizado, mas não deveria carregar as empresas nas costas. Ela é importante demais para virar mais um blockchain ou XML da vida.
Alguns falam que para se popularizar, a IA precisa de uma killer app. Discordo totalmente. Qual a Killer App da eletricidade? Da Internet? A IA mudará o mundo, mas os vencedores não serão aqueles com a melhor IA, serão aqueles com as melhores soluções, não uma solução única.
Eu estava testando um teclado que comprei para usar com o S23 FE (excelente aparelho, adquirido com meu dinheiro). O tecladinho é legal, ultraportátil, é este aqui, para quem quiser tem no Mercado Livre (link sem afiliado).
Depois de brigar um pouco com a acentuação, percebi que ele era meio incômodo para gente com mão grande como eu. (não, não é verdade o que dizem)
Resolvi então testar um truque: Abri a App de Notas da Samsung, que já conta com IA. Escrevi sem acentos, igual fazíamos no tempo da computação a vapor. Saiu tudo muito mais rápido, apenas horrível de ler, claro. Corrigir depois consumiria bastante tempo, mesmo com o corretor do Word, que iria palavra a palavra.

Mágica (Crédito: Reprodução/Samsung)
Pois bem! Cliquei no ícone da IA da Samsung. Selecionei Ortografia e Gramática. Em uma fração de segundo meu texto estava lindo, corrigido e acentuado. Primeiro uso “real” da IA no S23, aprovadíssimo. Um uso simples, mas muito mais convincente do que uma apresentação inteira.
Essa correção funcionou como mágica, e é isso que os consumidores querem: mágica. Então, queridas empresas, entreguem mágica.