ISS: Elon Musk quer derrubar a estação até 2027
Planos da NASA para a ISS preveem descomissionamento em 2030; para Elon Musk, estação "não tem mais utilidade" e deve ser derrubada ISS: Elon Musk quer derrubar a estação até 2027

Elon Musk mais uma vez chamou a atenção por conta de sua boca grande: enquanto o DOGE, o departamento de eficiência, corta cabeças por todas as agências federais dos Estados Unidos, o bilionário dono da SpaceX disse que, em prol de um total foco da exploração espacial em Marte, a Estação Espacial Internacional (ISS) deve ser descartada quanto antes.
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A NASA originalmente tem planos para o descomissionamento e uma descida controlada, executada por um rebocador cujo contrato a SpaceX garantiu, apenas a partir de 2030, mas Musk defende a derrubada para até 2027, de modo a voltar todo o esforço americano no Espaço em direção ao planeta vermelho.

Plano da NASA para uma descida controlada da ISS envolvem rebocador e orçamento do Congresso (Crédito: Divulgação/NASA)
Fim da linha para a ISS?
O cronograma para o inevitável descomissionamento da ISS é conhecido desde 2021. Por mais manutenção que se faça, ela está em operação desde novembro de 1998, incríveis 26 anos, e está no limite. Para dar uma ideia, a estação espacial Mir, construída pela União Soviética, operou por "apenas" 15 anos.
Por mais que a estação tenha sido um esforço conjunto de diversas nações (você não, Brasil), você só pode fazer reparos e instalar puxadinhos até certo ponto. Os EUA têm planos para uma nova estação, a Gateway, a ser posicionada na órbita da Lua, originalmente parte do Programa Artemis, mas o plano já sofreu vários atrasos.
Ao mesmo tempo, Rússia e China não deverão fazer parte do esforço, com a segunda trabalhando firmemente para estabelecer sua própria estação, e contar eventualmente com suporte de Moscou, e até a Índia tem planos próprios, que se considerarmos o sucesso da sonda MOM, que chegou à Marte de primeira, o que ninguém mais conseguiu, não é algo tão difícil de acontecer.
Por questões óbvias o governo dos EUA, especialmente o Congresso, não está tão à vontade para encerrar as operações da ISS, visto que não há a menor previsão de quando a Gateway ficará pronta, mas isso era no governo de Joe Biden. Na gestão atual, e sob a insistência de Elon Musk, que para todos os efeitos é o administrador de facto da NASA, só Marte importa, mesmo com Donald Trump inicialmente favorecendo também o retorno de astronautas à Lua.
Desde que assumiu a posição oficial de conselheiro da Casa Branca, Musk mais de uma vez demonstrou que a Lua é uma "distração", e que todo o Programa Artemis, incluindo a Gateway, deveria ser cancelado, para que os esforços fossem totalmente direcionados a Marte. Mais recentemente, a NASA anunciou a saída do COO e administrador associado James "Jim" Free, que trabalhou por 30 anos na agência, e era um ferrenho defensor da missão lunar.
Nisso, sobra a ISS. A estação originalmente deveria ser mantida até 2030, quando o processo de descida controlada, usando um rebocador construído pela SpaceX, será iniciado. A previsão é de que toda a estrutura mergulhe no Oceano Pacífico no início de 2031, mas Musk não quer esperar, e deu seus motivos.
Em sua conta no X, em meio às habituais groselhas que publica todos os dias, o dono da SpaceX disse que "é hora de iniciar os preparativos" para a descida da ISS, defendendo mais uma vez que "temos que ir para Marte" o mais rápido possível. A desculpa, a estação "cumpriu seu propósito", e "possui pouca utilidade incremental".
Ao ser questionado por Eric Berger, editor do site Ars Technica, se isso significava ir contra os planos originais que preveem a operação para 2030, como definido no contrato de US$ 843 milhões para a construção do rebocador (fora custos de lançamento) que a SpaceX assinou, o bilionário disse que "a decisão cabe ao presidente" Trump, e sua recomendação é de que a operação seja realizada "o mais rápido possível", no máximo, até o início de 2027.
Claro que falar, qualquer um fala, e assim como papel, redes sociais aceitam qualquer coisa, mas há uma série de complicações na proposta apressada de Musk. Primeiro, mesmo que Trump determine o descomissionamento imediato da ISS, aliado à retórica de que os astronautas da cápsula Starliner estão presos na estação (não estão), o orçamento para a construção do rebocador deve ser liberado pelo Congresso, que não vê o fim da ISS com bons olhos.
O sedador republicano Ted Cruz, por exemplo, representa o estado do Texas, que gerencia o laboratório orbital, e é um dos defensores pela manutenção da estação pelo tempo que for necessário, no caso, até uma substituta (Gateway) ser estabelecida, para não depender de realizar experimentos na Estação Espacial Tiangong, administrada pela China.
Segundo fontes, Cruz teria ficado furioso com as declarações recentes de Musk, e é quase certo que isso será usado na audiência para confirmar Jared Isaacman como o futuro administrador da NASA. Fato, muitos entendem que ele será apenas um "poste", e é o dono da SpaceX quem já manda na agência espacial, com aval de Trump, que o autorizou a auditar seus próprios conflitos de interesse.

Senador Ted Cruz (GOP/Texas) teria ficado furioso com declarações de Musk, segundo fontes (Crédito: David Paul Morris/Bloomberg/Getty Images)
Qual o motivo de tanta pressa? O mais óbvio, o segundo mandato de Trump como presidente se encerra em janeiro de 2029, e Musk está fazendo de tudo para convencê-lo que focar em uma conquista no Espaço é mais viável do que atacar duas frentes.
Colocar astronautas em Marte, e o mais rápido possível, seria um recado de supremacia americana muito mais impactante do que voltar à Lua; na cabeça do executivo, não há mérito em ir onde já estivemos, e nesse sentido, cortar o Programa Artemis, cancelar o SLS, e derrubar a ISS para não mais gastar com missões já agendadas, reverteriam todo o esforço (e orçamento) na direção do quarto planeta.
Não esquecer também que o cancelamento do SLS desferiria um golpe violento na Boeing, concorrente da SpaceX, então livre para promover a Starship como a única espaçonave pronta para o desafio, e disponível. A interferência de Musk na NASA também poderia significar perda de espaço de companhias como Blue Origin, ULA e Northrop Grumman, entre outras.
No momento a NASA, assim como todas as agências federais, está passando pelo escrutínio do DOGE e teve cerca de 1.000 funcionários em diversos setores, entre recém-contratados e profissionais de carreira, incluindo cientistas aeroespaciais do Laboratório de Propulsão a Jato (JPL), marcados para demissão, o que foi revisto de última hora, mas mesmo estes não estão 100% seguros.
A situação atual é de caos e incerteza, e as declarações de Musk, que não sabe a hora de enfiar o pé na boca, em nada ajudam.
Fonte: Ars Technica