Obsessão
Tenho usado o Manual do Usuário como desculpa para mergulhar em algumas obsessões improdutivas. Quando digo “obsessões”, é a sério, num sentido quase ou talvez clínico.

Tenho usado o Manual do Usuário como desculpa para mergulhar em algumas obsessões improdutivas. Quando digo “obsessões”, é a sério, num sentido quase ou talvez clínico.
Não é só culpa deste site, acho. Minha “dieta informacional”, blogs de estrangeiros preocupados com minúcias como qual app usar para isso e aquilo, canais de YouTube que analisam em detalhes celulares que uma pessoa normal não conseguiria distinguir dos cinco modelos anteriores e coisas do tipo meio que criaram uma realidade paralela a princípio atraente, mas que a certa altura tornou-se sufocante.
Gasto uma quantidade de tempo nada saudável pensando em onde hospedar meus arquivos e e-mails, em alternativas livres/FOSS a produtos que já tenho e que me são perfeitamente funcionais, atento e testando novos aplicativos que prometem ser melhores que os que já uso e me satisfazem.
A maior e mais recente manifestação dessa obsessão foi a troca do meu iPhone por um celular Android.
Trocar de celular não é apenas… trocar de celular. Mesmo me dando bem com o Android, a troca tem consumido ainda mais tempo em incursões malucas em busca de coisas de que, a rigor, não preciso. O que é divertido, mas um buraco negro sem fundo de tempo (que tenho achado) mal gasto.
Nesse sentido, a fruição é meio como alimentar-se de fast food: gostoso no momento, indigesto depois e perigoso a longo prazo.
E para piorar, o celular é enorme. Sentar-me com ele no bolso é incômodo, minhas mãos doem para digitar um mensagem um pouco maior e não há posição confortável para ler qualquer coisa.
Tinha comigo que dar esse passo por impulso, sem pensar muito, mitigaria a obsessão. Meio como um alcoólatra que toma um porre antes de comprometer-se com a sobriedade, sabe? Acho que deu certo, porque estou numa baita ressaca após divertir-me um tanto deixando o Android do jeito que eu queria. Apesar disso, vou abortar a migração — não tanto pelo Android, que achei bem maneiro, mais pelo celular pequeno que é o iPhone. (E, em algum momento, vou retomar o assunto da escassez de celulares pequenos no mercado.)
Tudo isso soa patético, quase cômico — ou tragicômico, pois sério; afeta a mim e ao Manual do Usuário. Se a proposta aqui é promover uma relação saudável com a tecnologia na medida do possível, preciso dar dois passos atrás e repensar algumas coisas.