Análise: Post Trauma entrega um survival horror clássico com cara de moderno — com problemas do passado e presente

Sendo o primeiro jogo do estúdio espanhol Red Soul Games, Post Trauma tem como proposta uma ode modernizada dos survival horror dos anos 2000, incluindo câmera fixa e a proposta de terror mais psicológico. Propondo uma jogabilidade focada em puzzles complexos e uma narrativa debatível, será que nos foi entregue uma boa estreia?Caindo na MelancoliaDescrever a trama de Post Trauma é uma tarefa complicada, pois começamos a jornada com dúvidas e saímos com mais questionamentos. Na maior parte do tempo, estamos na pele de Roman, um homem na casa dos 50 anos que acorda em uma estação de metrô sinistra. Não demora muito para descobrirmos que estamos em uma dimensão sombria chamada de Melancolia, tomada por criaturas e “raízes” de carne espalhadas por aí.Roman não é o único que foi parar nesse ambiente estranho, e logo descobrimos que não estamos sozinhos nessa jornada. Em certos momentos, controlamos Carlos e Freya, outras vítimas da ocasião, com seus próprios motivos e traumas por estarem nesse mundo.O interessante é que a jogabilidade muda de acordo com quem estamos controlando. Enquanto Carlos é controlado em perspectiva de primeira pessoa, Freya permanece em terceira pessoa, como Roman, mas dependendo de um celular para se comunicar e possuindo maior agilidade para explorar os cenários.O controle e a estrutura de jogabilidade são imediatamente familiares para quem está acostumado com Resident Evil e, principalmente, Silent Hill. Câmera fixa, administração (muito leve) de recursos, backtracking, combate contra criaturas e puzzles são elementos presentes em cada ato, e nosso objetivo é sair daquele lugar fechado para prosseguir.Roman pode se defender dos inimigos usando armas brancas improvisadas ou uma pistola. Assim como um survival horror do tipo, é necessário prestar atenção na ação do inimigo e sempre estar cauteloso para fugir caso seja necessário. Entretanto, a IA deles é bem fácil de lidar e não precisei correr de nenhum embate tendo uma arma em mãos, o que me tirou um pouco da tensão do perigo iminente.Apesar disso, a ambientação segura o climão de terror de Post Trauma. Nada é tão criativo em relação aos locais que passamos, como hospitais e escolas, porém houve um trabalho de tornar cada ambiente crível o suficiente para dar um certo medinho de andar por corredores escuros.O som também acerta nesse quesito, com barulhos bizarros soando pelos corredores vazios de repente e músicas ambientais macabras. Em momentos de diálogo, há algumas trilhas sonoras com total inspiração nas composições de Akira Yamaoka em Silent Hill, mas longe de serem tão marcantes quanto.Esse mistério todo também perdura na narrativa, mas de uma maneira negativa. As raras cenas de diálogo não nos dizem muita coisa sobre o que está acontecendo, não há arquivos de texto para serem descobertos e, no máximo, podemos achar quatro fitas ao longo da campanha. A ideia é deixar certas pontas abertas a interpretações, só que foram longe demais.Ambição vs. recursosPost Trauma é tecnicamente uma produção ambiciosa, dado o escopo do time de desenvolvimento. Utilizando a Unreal Engine 5, há bastante ênfase na iluminação e uso de sombras, com detalhamento de cenários com vários objetos, além do estilo artístico ser mais fotorrealista.Os ângulos fixos de câmera dão um ar cinematográfico para alguns enquadramentos que são realmente bonitos, especialmente quando usam iluminação de cores específicas com esculturas macabras. Nem todos os pontos de vista nos auxiliam na exploração, porém é uma característica que acaba dando uma personalidade a mais para o título.Contudo, basta jogar um pouco para perceber onde estão os locais sacrificados para a qualidade visual. As animações gerais são esquisitas, bugs gráficos ocorrem em transições de cena com quedas severas de fps e carregamento lento de assets, expressões faciais simples, entre outros problemas.E, infelizmente, temos mais uma vítima do uso desleixado da Unreal Engine 5 com Post Trauma: a otimização é bem pobre. Mesmo sendo um jogo quase todo escuro e estritamente linear, foram raros os momentos que consegui atingir os 60 fps mesmo utilizando FSR em modo qualidade.Ao menos o framerate não atrapalha para um jogo desse estilo, já que toda a jornada que teremos é majoritariamente acompanhada por quebra-cabeças que nos exigem ficar minutos ou até horas olhando para uma tela tentando entender a lógica pedida. O estilo dos puzzles também remete a Silent Hill, na maior parte do tempo exigindo correlação e lógica para a solução dos problemas.Não vou mentir, normalmente não gosto de ficar preso em puzzles e sou péssimo com lógica no geral, mas achei a proposta interessante por um motivo: o incentivo ao uso de caderno ou alguma maneira de realizar anotações de cada canto suspeito. O primeiro quebra-cabeça mesmo envolve associar números com formas geométricas para decodificar um cadeado, dando-nos uma prévia do que está por vir.Mas nem tudo funciona tão bem assim. Mesmo com alguns desafios intrigantes de desc

Mai 1, 2025 - 14:35
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Análise: Post Trauma entrega um survival horror clássico com cara de moderno — com problemas do passado e presente
Sendo o primeiro jogo do estúdio espanhol Red Soul Games, Post Trauma tem como proposta uma ode modernizada dos survival horror dos anos 2000, incluindo câmera fixa e a proposta de terror mais psicológico. Propondo uma jogabilidade focada em puzzles complexos e uma narrativa debatível, será que nos foi entregue uma boa estreia?

Caindo na Melancolia

Descrever a trama de Post Trauma é uma tarefa complicada, pois começamos a jornada com dúvidas e saímos com mais questionamentos. Na maior parte do tempo, estamos na pele de Roman, um homem na casa dos 50 anos que acorda em uma estação de metrô sinistra. Não demora muito para descobrirmos que estamos em uma dimensão sombria chamada de Melancolia, tomada por criaturas e “raízes” de carne espalhadas por aí.

Roman não é o único que foi parar nesse ambiente estranho, e logo descobrimos que não estamos sozinhos nessa jornada. Em certos momentos, controlamos Carlos e Freya, outras vítimas da ocasião, com seus próprios motivos e traumas por estarem nesse mundo.

O interessante é que a jogabilidade muda de acordo com quem estamos controlando. Enquanto Carlos é controlado em perspectiva de primeira pessoa, Freya permanece em terceira pessoa, como Roman, mas dependendo de um celular para se comunicar e possuindo maior agilidade para explorar os cenários.

O controle e a estrutura de jogabilidade são imediatamente familiares para quem está acostumado com Resident Evil e, principalmente, Silent Hill. Câmera fixa, administração (muito leve) de recursos, backtracking, combate contra criaturas e puzzles são elementos presentes em cada ato, e nosso objetivo é sair daquele lugar fechado para prosseguir.

Roman pode se defender dos inimigos usando armas brancas improvisadas ou uma pistola. Assim como um survival horror do tipo, é necessário prestar atenção na ação do inimigo e sempre estar cauteloso para fugir caso seja necessário. Entretanto, a IA deles é bem fácil de lidar e não precisei correr de nenhum embate tendo uma arma em mãos, o que me tirou um pouco da tensão do perigo iminente.

Apesar disso, a ambientação segura o climão de terror de Post Trauma. Nada é tão criativo em relação aos locais que passamos, como hospitais e escolas, porém houve um trabalho de tornar cada ambiente crível o suficiente para dar um certo medinho de andar por corredores escuros.

O som também acerta nesse quesito, com barulhos bizarros soando pelos corredores vazios de repente e músicas ambientais macabras. Em momentos de diálogo, há algumas trilhas sonoras com total inspiração nas composições de Akira Yamaoka em Silent Hill, mas longe de serem tão marcantes quanto.

Esse mistério todo também perdura na narrativa, mas de uma maneira negativa. As raras cenas de diálogo não nos dizem muita coisa sobre o que está acontecendo, não há arquivos de texto para serem descobertos e, no máximo, podemos achar quatro fitas ao longo da campanha. A ideia é deixar certas pontas abertas a interpretações, só que foram longe demais.

Ambição vs. recursos

Post Trauma é tecnicamente uma produção ambiciosa, dado o escopo do time de desenvolvimento. Utilizando a Unreal Engine 5, há bastante ênfase na iluminação e uso de sombras, com detalhamento de cenários com vários objetos, além do estilo artístico ser mais fotorrealista.

Os ângulos fixos de câmera dão um ar cinematográfico para alguns enquadramentos que são realmente bonitos, especialmente quando usam iluminação de cores específicas com esculturas macabras. Nem todos os pontos de vista nos auxiliam na exploração, porém é uma característica que acaba dando uma personalidade a mais para o título.

Contudo, basta jogar um pouco para perceber onde estão os locais sacrificados para a qualidade visual. As animações gerais são esquisitas, bugs gráficos ocorrem em transições de cena com quedas severas de fps e carregamento lento de assets, expressões faciais simples, entre outros problemas.

E, infelizmente, temos mais uma vítima do uso desleixado da Unreal Engine 5 com Post Trauma: a otimização é bem pobre. Mesmo sendo um jogo quase todo escuro e estritamente linear, foram raros os momentos que consegui atingir os 60 fps mesmo utilizando FSR em modo qualidade.

Ao menos o framerate não atrapalha para um jogo desse estilo, já que toda a jornada que teremos é majoritariamente acompanhada por quebra-cabeças que nos exigem ficar minutos ou até horas olhando para uma tela tentando entender a lógica pedida. O estilo dos puzzles também remete a Silent Hill, na maior parte do tempo exigindo correlação e lógica para a solução dos problemas.

Não vou mentir, normalmente não gosto de ficar preso em puzzles e sou péssimo com lógica no geral, mas achei a proposta interessante por um motivo: o incentivo ao uso de caderno ou alguma maneira de realizar anotações de cada canto suspeito. O primeiro quebra-cabeça mesmo envolve associar números com formas geométricas para decodificar um cadeado, dando-nos uma prévia do que está por vir.

Mas nem tudo funciona tão bem assim. Mesmo com alguns desafios intrigantes de descobrir, há alguns deles que são crípticos demais. O ato 4, em especial, me deixou preso por alguns bons momentos para solucionar seus enigmas, e vale lembrar que não há dicas ou algum recurso de acessibilidade para nos auxiliar.

Consigo ver essa dificuldade acentuada das charadas sendo um fator que chame a atenção de quem curte esse tipo de proposta, porém há uma má distribuição delas ao longo das mais de 6 horas de campanha. Somados ao vai e vem constante e à falta de alguma ajuda, o ritmo pode ficar cansativo com o tempo.

O velho e o novo, com acertos e problemas

Post Trauma é uma boa homenagem aos survival horrors clássicos e parece ter saído diretamente da era do PlayStation 2, porém com visual disfarçado de geração atual. O estilo dos puzzles, exploração e combate são tão únicos que vão agradar aqueles que sentem saudade de uma experiência do tipo.

Mas parece que tentaram alçar voos muito altos na parte técnica, com bugs visuais, animações desengonçadas, decisões de design estranhas e um péssimo trabalho de otimização no PC. Somados aos quebra-cabeças crípticos e história vaga demais, é um jogo que pode cativar alguns e afastar outros completamente.

Prós:

  • Ambientação amedrontadora que contribui bem para o clima de terror;
  • Iluminação consegue trazer alguns momentos artísticos belíssimos;
  • Puzzles complexos que testam quem procura desafios de lógica;
  • Apesar de simples, a ideia de cada personagem controlável trazer sua própria abordagem para a exploração é um belo toque.

Contras:

  • Alguns quebra-cabeças exigem lógicas tão específicas que podem render um bom tempo para solucioná-los;
  • História vaga e sem muito contexto;
  • Problemas técnicos e de otimização que atrapalham a experiência geral.
Post Trauma — PC/PS5/XSX — Nota: 6.5
Versão utilizada para análise: PC
Revisão: Alessandra Ribeiro
Análise produzida com cópia cedida pela Raw Fury
Post Trauma 6.5 PC Post Trauma is a solid homage to classic survival horror games, largely thanks to its puzzle design, fixed camera angles, and combat style. However, visual bugs, clunky animations, odd design choices, and poor optimization on PC end up undermining the experience.