Análise: Promise Mascot Agency cumpre com perfeição a vasta lista de coisas às quais se propõe
Quando se fala em Promise Mascot Agency, segundo jogo da Kaizen Game Works, é extremamente difícil não recorrer a comparações com a gigante série Yakuza, algo que até os próprios criadores destacaram na entrevista que concederam ao GameBlast. Não é só pelo mero fato de se tratar de uma história sobre a máfia japonesa, cujo protagonista é dublado por Takaya Kuroda — não, tem a ver com o casamento íntimo que ambos arranjam entre o dramático e o bizarro.A paleta de inspirações do título, contudo, não se limita apenas à franquia: clássicos do cinema yakuza, livros sobre o assunto e até certa página do Twitter (atual X) sobre mascotes ao redor do Japão são todos parte de seu DNA. Tudo se combina para uma história progressista sobre um tema tão antiquado quanto os usuais pontos de enredo que outras obras adoram tanto utilizar. Sob supervisão de diversos nativos (principalmente Ikumi Nakamura, designer de personagens e protagonista de uma lendária apresentação na E3 2019), o trio de britânicos no comando da Kaizen Game Works criou uma história autenticamente japonesa — mas também universal, de várias maneiras. Bora conhecer!Pois pro-me-ta!Em Promise Mascot Agency, assumimos o papel de Michizane “Michi” Sugawara, um tenente da Família Shimazu, nativa de Fukuoka, conhecido como o “Zelador”. Sua matriarca o incumbe, junto de seu irmão de juramento, Tokihira, de entregar 12 milhões de ienes a um grupo de Tóquio, a fim de selar uma importante aliança. Contudo, as coisas desandam: forçado a escolher entre a vida do amigo e o dinheiro, Michi deixa que ladrões de uma família rival fujam com a bolada.Como punição, ele é exilado para Kaso-Machi, uma cidadezinha interiorana moribunda onde os Shimazu mantêm seu último ganha-pão: uma agência de mascotes transformada em motel por falta de demanda. A missão do Zelador é limpar a bagunça que arrumou e se tornar um empreendedor de sucesso; para isso, ele terá a ajuda da agressiva Pinky, atual dona da agência e filha de um de seus chefes. Coincidentemente, ela é um enorme mindinho e ele acabou de ter de cortar o próprio fora. A dinâmica entre os dois é facilmente a melhor parte do jogo: Michi é estoico e não se abala com muito, mas Pinky é um vulcãozinho em ebulição. Isso fica claro quando a dupla precisa reaver a licença de operação da agência, que foi suspensa anos atrás porque a “mindinha” tocou o terror na festa de aniversário da neta do prefeito. Em companhia caótica, os segredos de Kaso-Machi, tida como uma cidade amaldiçoada onde homens yakuza têm sua energia sugada por espíritos, são revelados pouco a pouco no tecer de uma fantástica teia narrativa. Aqui se exploram os fantasmas do passado, as mazelas do presente e as promessas do futuro com maestria, se utilizando também da história e cenário atual da yakuza do mundo real para elaborar seus comentários.Os temas de redenção, comunidade e progresso são muito bem aprofundados; destaca-se também o grande elenco feminino, gênero frequentemente desprezado por histórias criminais. As mulheres da cidade representam um contraponto às entidades que a fizeram sofrer por tantos anos e veem o potencial de futuro em um lugar tão maltratado. Entre elas, a melhor é a matriarca Shimazu, a brilhante chefe de Michi que sonha em unir todas as células yakuza de Kyushu: ela é intensa, mas também tem um lado fofo irresistível.Se há uma crítica a ser feita, contudo, é pelo fato de muitos personagens serem relativamente rasos (isso não inclui os dois excelentes protagonistas). Todos os NPCs têm uma sidequest própria na qual o jogador pode conhecê-los melhor, mas alguns são meramente utilitários e outros não têm nenhum tipo de arco, talvez porque já passem a impressão de estarem resolvidos com as próprias vidas. Entendo o foco no todo acima das partes, mas ainda fiquei um pouco decepcionada.Carreta Furacão que se cuideAs estrelas de Promise Mascot Agency são, claro, as mascotes gerenciadas pela titular agência. São criaturinhas de todos os tipos, descritas como os “malucos e desajustados” que chamam Kaso-Machi de lar. Temos um bloco de tofu que não consegue parar de chorar, uma bola de musgo que só fala em código Morse, uma gatinha feita de matcha que quer comprar uma fazenda abandonada — e muito mais!Às vezes, essas mascotes se meterão em encrencas tão graves quanto incutir a raiva dos espíritos da montanha ou se prender em uma porta de tamanho normal. Para ajudá-las a saírem desses pepinos, inspirados em infinitas compilações online de mascotes se dando mal em eventos, é aí que entram em ação as Cartas de Herói, que compõem um curto segmento deckbuilder: derrote o obstáculo intransponível enquanto presta atenção ao número de turnos que restam. Elas estão espalhadas pela cidade e proporcionam um bom motivo para explorar cada canto desta. Falando no mundo aberto, ele segue tão divertido de se explorar quanto na demo: o kei truck de Michi é praticamente o próprio personagem, um guerreiro sofrido que eu adoro colocar nas piores enrascadas — eu

A paleta de inspirações do título, contudo, não se limita apenas à franquia: clássicos do cinema yakuza, livros sobre o assunto e até certa página do Twitter (atual X) sobre mascotes ao redor do Japão são todos parte de seu DNA. Tudo se combina para uma história progressista sobre um tema tão antiquado quanto os usuais pontos de enredo que outras obras adoram tanto utilizar.
Sob supervisão de diversos nativos (principalmente Ikumi Nakamura, designer de personagens e protagonista de uma lendária apresentação na E3 2019), o trio de britânicos no comando da Kaizen Game Works criou uma história autenticamente japonesa — mas também universal, de várias maneiras. Bora conhecer!
Pois pro-me-ta!
Em Promise Mascot Agency, assumimos o papel de Michizane “Michi” Sugawara, um tenente da Família Shimazu, nativa de Fukuoka, conhecido como o “Zelador”. Sua matriarca o incumbe, junto de seu irmão de juramento, Tokihira, de entregar 12 milhões de ienes a um grupo de Tóquio, a fim de selar uma importante aliança. Contudo, as coisas desandam: forçado a escolher entre a vida do amigo e o dinheiro, Michi deixa que ladrões de uma família rival fujam com a bolada.
Como punição, ele é exilado para Kaso-Machi, uma cidadezinha interiorana moribunda onde os Shimazu mantêm seu último ganha-pão: uma agência de mascotes transformada em motel por falta de demanda. A missão do Zelador é limpar a bagunça que arrumou e se tornar um empreendedor de sucesso; para isso, ele terá a ajuda da agressiva Pinky, atual dona da agência e filha de um de seus chefes. Coincidentemente, ela é um enorme mindinho e ele acabou de ter de cortar o próprio fora.A dinâmica entre os dois é facilmente a melhor parte do jogo: Michi é estoico e não se abala com muito, mas Pinky é um vulcãozinho em ebulição. Isso fica claro quando a dupla precisa reaver a licença de operação da agência, que foi suspensa anos atrás porque a “mindinha” tocou o terror na festa de aniversário da neta do prefeito.
Em companhia caótica, os segredos de Kaso-Machi, tida como uma cidade amaldiçoada onde homens yakuza têm sua energia sugada por espíritos, são revelados pouco a pouco no tecer de uma fantástica teia narrativa. Aqui se exploram os fantasmas do passado, as mazelas do presente e as promessas do futuro com maestria, se utilizando também da história e cenário atual da yakuza do mundo real para elaborar seus comentários.
Os temas de redenção, comunidade e progresso são muito bem aprofundados; destaca-se também o grande elenco feminino, gênero frequentemente desprezado por histórias criminais. As mulheres da cidade representam um contraponto às entidades que a fizeram sofrer por tantos anos e veem o potencial de futuro em um lugar tão maltratado. Entre elas, a melhor é a matriarca Shimazu, a brilhante chefe de Michi que sonha em unir todas as células yakuza de Kyushu: ela é intensa, mas também tem um lado fofo irresistível.Se há uma crítica a ser feita, contudo, é pelo fato de muitos personagens serem relativamente rasos (isso não inclui os dois excelentes protagonistas). Todos os NPCs têm uma sidequest própria na qual o jogador pode conhecê-los melhor, mas alguns são meramente utilitários e outros não têm nenhum tipo de arco, talvez porque já passem a impressão de estarem resolvidos com as próprias vidas. Entendo o foco no todo acima das partes, mas ainda fiquei um pouco decepcionada.
Carreta Furacão que se cuide
As estrelas de Promise Mascot Agency são, claro, as mascotes gerenciadas pela titular agência. São criaturinhas de todos os tipos, descritas como os “malucos e desajustados” que chamam Kaso-Machi de lar. Temos um bloco de tofu que não consegue parar de chorar, uma bola de musgo que só fala em código Morse, uma gatinha feita de matcha que quer comprar uma fazenda abandonada — e muito mais!
Às vezes, essas mascotes se meterão em encrencas tão graves quanto incutir a raiva dos espíritos da montanha ou se prender em uma porta de tamanho normal. Para ajudá-las a saírem desses pepinos, inspirados em infinitas compilações online de mascotes se dando mal em eventos, é aí que entram em ação as Cartas de Herói, que compõem um curto segmento deckbuilder: derrote o obstáculo intransponível enquanto presta atenção ao número de turnos que restam. Elas estão espalhadas pela cidade e proporcionam um bom motivo para explorar cada canto desta.Falando no mundo aberto, ele segue tão divertido de se explorar quanto na demo: o kei truck de Michi é praticamente o próprio personagem, um guerreiro sofrido que eu adoro colocar nas piores enrascadas — eu pego atalhos me jogando de morros, faço escalada onde não deveria, obrigo o coitado a dirigir na água, destruo a propaganda do rival político da Pinky e me divirto causando acidentes de trânsito. Até os bugs nos quais o caminhão se entala no chão foram hilários e adicionaram à experiência.
Entre Promise Mascot Agency e Caravan SandWitch, acho que encontrei meu novo gênero favorito: jogo de carro que faz bagunça. Só podia ser melhor controlar o bicho no modo voo, que é tão deprimente de se estabilizar que me fez desistir de várias caçadas a colecionáveis. Certos eventos do mundo aberto, como as campanhas eleitorais contra o prefeito Maeda, também tocam as mesmas cutscenes toda vez, que são impossíveis de serem puladas; faltou um pouquinho de qualidade de vida.
Voltando à parte de gerenciamento das mascotes por um momento, é louvável especialmente a progressão da curva de dificuldade. Michi tem a missão de ganhar de volta aqueles 12 milhões que perdeu e mandar dinheiro pouco a pouco para a matriarca Shimazu — se ele demorar demais, ela será morta pelos rivais da família, que só se aquietam quando veem a cor da grana. O mínimo por vez é 50 mil ienes, o que pode ser bem difícil de conseguir nos estágios iniciais; desta forma, conseguimos sentir muito bem o tamanho do peso nas costas do Zelador.Em suma, a gameplay de Promise Mascot Agency é mais um golaço da Kaizen Game Works, que aperfeiçoou ainda mais sua filosofia de design de mundo aberto desde seu primeiro título. Falando nele…
A bem mais do que dois passos do paraíso
Como os leitores mais frequentes do GameBlast devem saber, praticamente todas as notícias sobre Promise Mascot Agency por aqui são de minha autoria. Eu acompanhei cada momento do ciclo midiático do jogo, por um motivo muito simples: ele é filho do estúdio que criou Paradise Killer, presença no meu top 5 de melhores games de todos os tempos desde que o conheci em 2022.
Paradise Killer é uma história singular, inspirada pelos clássicos do desenvolvedor Suda51: você controla Lady Love Dies, uma investigadora libertada do exílio para desvendar o misterioso assassinato dos governantes de um culto que busca criar a sociedade perfeita. Todos os personagens têm nomes bizarros, o pano de fundo é incompreensível até certo ponto e a estética parece que foi produzida por um Dreamcast que deu pau. É tudo lindo.
Seu irmão mais novo da yakuza, por outro lado, é bem diferente. Apesar das mascotes engraçadinhas, Promise Mascot Agency tem os pés mais no chão: sua aparência evoca os anos finais da era Showa, período da história japonesa que vai de 1926 a 1989. A visão coesa da diretora de arte Rachel Noy trabalha em perfeita harmonia com as incríveis ilustrações em estilo mangá da artista Inko Ai Takita, a música de Alpha Chrome Yayo e Ryo Koike e os designs de personagem de Ikumi Nakamura e Mai Mattori; tudo traz os jogadores a esse exato momento no tempo.
Outra diferença importante entre os dois títulos é o tom da narrativa. Paradise Killer conquistou meu coração por sua maneira de apresentar o mundo ao seu redor: 99% dos personagens com quem conversamos, todos possíveis criminosos, são parte do Sindicato, o alto escalão. São pessoas ricas e imortais que atualmente se ocupam em culpar um único homem da classe trabalhadora por todos os eventos grotescos daquela noite — ninguém quer considerar que alguém da elite tenha sido tão cruel. Lady Love Dies tem a plena capacidade de se recusar a investigar e decidir executar o burro de carga por tudo, independentemente da verdade.Promise Mascot Agency prefere uma abordagem diferente a crenças similares. Assim como em Paradise Killer, as figuras de poder são quem mais drena a comunidade (no caso do primeiro jogo, literalmente: toda a população é morta quando a sociedade atual é considerada um fracasso): aqui, contudo, Michi e Pinky não têm a escolha apresentada a Love Dies, de simplesmente fingir que não há nada de errado. Melhorar Kaso-Machi como um todo é a única solução em suas mentes; quando conseguimos ver os resultados materiais do que eles fazem espalhados pelo mundo aberto, sabemos que eles estão plenamente certos.
Enquanto Paradise Killer se enluta por uma comunidade que nunca terá a chance de progredir, explorada como é pelo culto que a estrangula, Promise Mascot Agency faz, bem, a promessa de um mundo melhor. Não há falta de raiva e desdém pelo establishment por aqui, forças utilizadas para demolir o opressor e devolver a cidade a quem se importa verdadeiramente com ela. O mundo real precisa de mais Michis e Pinkies.
(Aliás, não quero dar muito spoiler, mas fãs de Paradise Killer vão encontrar várias surpresas agradabilíssimas por aqui!)
Kaso-Machi dá um pau em Kamurocho
Promise Mascot Agency traz nova vida ao gênero yakuza, conforme sua história busca novos caminhos para a organização, enquanto se utiliza de muitas das artimanhas dos clássicos, entre a pura bizarrice e o amor pela honra. Não é tão esotérico quanto seu irmão mais velho, mas quem quiser visitar Kaso-Machi, conhecer seu povo e se comprometer com seu renascimento com certeza não se arrependerá do tempo que por aqui passar.
Prós
- Excelente narrativa com temas bem amarrados;
- Humor ácido e divertidíssimo;
- Ótimo elenco feminino, raridade no gênero yakuza;
- Modo deckbuilder simples e amigável a novatos;
- Mundo aberto confortável, gostoso de explorar;
- Dirigir o kei truck é caótico na medida certa;
- Curva de dificuldade serve bem à história;
- Belíssima arte, designs de personagem e trilha sonora.
Contras
- Alguns personagens são relativamente rasos;
- Modo voo é difícil de controlar;
- Cutscenes comuns não podem ser puladas.
Promise Mascot Agency — PC/PS5/XSX/Switch — Nota final: 10
Versão utilizada para análise: PS5
Revisão: Juliana Paiva Zapparoli
Análise produzida com cópia digital cedida pela Kaizen Game Works