Guerra tarifária iniciada pelos EUA atinge em cheio o setor de tecnologia
Preços dos iPhones podem subir 43% no mercado americano, e Apple estaria cogitando ampliar produção no Brasil; Nintendo interrompe pré-venda do novo console Switch 2

Na última quarta-feira, os EUA anunciaram que vão aumentar as tarifas de importação impostas aos produtos de 185 países e territórios. São elevações radicais, que causaram perplexidade no setor produtivo e espalharam pânico nos mercados financeiros, em meio a temores de uma guerra comercial: a China, atingida com uma tarifa de 34%, decidiu responder à altura, impondo a mesma alíquota a mercadorias e insumos vindos dos EUA.
A guerra tarifária pode encarecer fortemente diversos produtos, incluindo os de tecnologia. Estima-se que o iPhone 16 Pro Max, por exemplo, hoje vendido nos EUA por US$ 1.599, poderia saltar para US$ 2.300, uma elevação de 43,8%; outros produtos da Apple, como os demais iPhones, iPads, Airpods e MacBooks, teriam aumentos similares.
Isso poderá ocorrer porque esses produtos, assim como a grande maioria dos eletrônicos, são fabricados na China. As ações da Apple caíram 17,7% desde o anúncio das tarifas, que foi batizado por Donald Trump de “liberation day” (dia da libertação), mas apelidado no mercado financeiro de “obliteration day” – dia da obliteração, em referência às fortes quedas no valor das ações de praticamente todas as empresas.
Já a Nintendo, que na semana passada apresentou seu novo console, o Switch 2, decidiu adiar a pré-venda do produto. Segundo a empresa, o lançamento nos EUA está mantido para a data original, 5 de junho, mas a pré-venda do console não irá começar na data prevista, 9 de abril, para que a Nintendo possa “avaliar o potencial impacto das tarifas e condições de mercado”, segundo informou a empresa ao site americano Gamespot.
Durante o primeiro governo Trump, no qual houve um conflito comercial entre EUA e China, a Nintendo transferiu parte da sua produção de hardware para o Vietnã e o Camboja. Mas esses países foram ainda mais duramente afetados pelas novas tarifas – 46% e 49%, respectivamente.

Se essas tarifas de fato entrarem em vigor (os EUA não recuarem após negociações diretas com os países envolvidos), o preço do console, que é US$ 449 nos EUA, talvez tenha de ser aumentado. Isso poderia afetar as chances de sucesso do Switch 2, que já é bem mais caro do que o Switch atual (US$ 299, ou US$ 349 na versão OLED).
A elevação das tarifas, e uma possível guerra comercial, afetará praticamente todos os setores industriais – que buscam soluções para tentar lidar com o cenário caótico. No final de semana, a Jaguar Land Rover anunciou que está pausando a exportação de seus carros para os EUA.
Já a Apple pode tentar ampliar a fabricação de iPhones e outros produtos fora da China, em suas linhas de montagem na Índia e no Brasil, países um pouco menos afetados pelas tarifas – receberam alíquotas de 26% e 10%, respectivamente.
Segundo a revista Exame, que cita fontes não-identificadas, a empresa estaria estudando ampliar sua linha de montagem na fábrica da chinesa Foxconn em Jundiaí, que atualmente produz os modelos iPhones 13, 14, 15 e recentemente recebeu autorização da Anatel para montar o iPhone 16.
A eventual ampliação da linha de montagem em Jundiaí não necessariamente reduziria os preços cobrados pelos iPhones no Brasil (o que até hoje não ocorreu), mas poderia transformar o Brasil em polo de exportação desses smartphones para o mercado americano, aproveitando a vantagem tarifária do País.