As razões pelas quais algumas pessoas lembram mais dos seus sonhos do que outras

O mundo dos sonhos é um território cheio de mistérios. Cada noite, nossa mente viaja por cenários surreais, histórias desconexas… Esse As razões pelas quais algumas pessoas lembram mais dos seus sonhos do que outras foi publicado primeiro no Misterios do Mundo. Cópias não são autorizadas.

Mar 29, 2025 - 21:52
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As razões pelas quais algumas pessoas lembram mais dos seus sonhos do que outras
As razões pelas quais algumas pessoas lembram mais dos seus sonhos do que outras

O mundo dos sonhos é um território cheio de mistérios. Cada noite, nossa mente viaja por cenários surreais, histórias desconexas e emoções intensas, mas, ao acordar, muitas vezes nos perguntamos: por que alguns lembram de cada detalhe do que sonharam, enquanto outros mal conseguem recordar fragmentos?

A resposta está em uma combinação de fatores que vão desde a personalidade até a fase do sono em que acordamos. Um estudo recente publicado na revista Communications Psychology trouxe novas descobertas sobre esse fenômeno, revelando que a capacidade de lembrar dos sonhos não é apenas uma questão de sorte, mas está ligada a características cognitivas, hábitos e até à época do ano.

O Desafio de Estudar os Sonhos

Antes de mergulhar nas descobertas, é importante entender por que os sonhos são tão difíceis de estudar. A neurocientista Valentina Elce, uma das autoras da pesquisa, explica que os sonhos são experiências subjetivas e efêmeras. A memória deles é frágil, influenciada por emoções, estresse, saúde e até pelo que vivemos no dia anterior. Além disso, o cérebro durante o sono opera em padrões diferentes dos da vigília, o que torna complexo rastrear como as informações são armazenadas ou perdidas.

Para contornar essas limitações, os pesquisadores analisaram 217 voluntários entre 18 e 70 anos durante quatro anos (2020 a 2024). Os participantes registraram seus sonhos em diários, passaram por avaliações psicológicas, testes cognitivos e exames de eletroencefalografia (que medem a atividade cerebral). Dispositivos também monitoraram seus padrões de sono, permitindo cruzar dados sobre como cada fase do repouso influenciava a memória dos sonhos.

A Batalha Contra as Distrações

Um dos achados mais curiosos do estudo está relacionado à interferência cognitiva. Esse termo se refere à dificuldade de focar em uma tarefa quando há estímulos externos competindo por nossa atenção. Imagine acordar com o barulho do despertador, pensar nas obrigações do dia ou correr para não chegar atrasado ao trabalho. Segundo Elce, esses fatores funcionam como “gritos” que abafam a voz suave dos sonhos, tornando quase impossível recuperar suas memórias.

Pessoas com maior habilidade para ignorar distrações mostraram mais facilidade em recordar o que sonharam. A analogia usada pela pesquisadora é precisa: é como tentar ouvir um amigo sussurrar em um canto da sala enquanto todo mundo está falando alto ao redor. Quem consegue filtrar o ruído externo tem mais chances de capturar os fragmentos do sonho antes que eles desapareçam.

As razões pelas quais algumas pessoas lembram mais dos seus sonhos do que outras

Personalidade e Interesse Pelos Sonhos

Outro fator decisivo é o interesse individual pelos próprios sonhos. Quem atribui significado a eles — seja por curiosidade, crença ou hábito de análise — tende a lembrar mais detalhes. Isso acontece porque essas pessoas costumam adotar estratégias para preservar as memórias oníricas, como escrever em um diário assim que acordam. Francisco Segarra, psicólogo especialista em sono, ressalta que esse perfil costuma ser mais introspectivo e reflexivo, características que os mantêm “sintonizados” com o universo dos sonhos mesmo durante a vigília.

A pesquisa também identificou que indivíduos propensos à divagação mental (aqueles que se perdem em pensamentos ou reflexões internas com frequência) têm maior probabilidade de recordar sonhos. Isso sugere que a mente que vagueia durante o dia está mais treinada para acessar conteúdos subconscientes, como os gerados durante o sono.

Fases do Sono: REM vs. Sono Profundo

Os sonhos mais vívidos — aqueles que parecem filmes — geralmente ocorrem na fase REM (Movimento Rápido dos Olhos), quando a atividade cerebral é intensa e similar à de quando estamos acordados. Despertar durante essa fase aumenta as chances de lembrar do sonho, mas os cientistas alertam: sonhamos em quase todas as etapas do sono, não apenas no REM.

Por outro lado, o sono profundo (caracterizado por ondas cerebrais lentas) parece prejudicar a memória dos sonhos. Nessa fase, o cérebro prioriza funções como recuperação física e consolidação de memórias de longo prazo, mas não é eficiente em “arquivar” as experiências oníricas. Valentina Elce compara o processo a tentar anotar um sonho em um papel que está sendo constantemente apagado. Se o cérebro não consegue consolidar a memória antes do despertar, o conteúdo se perde rapidamente.

Idade e Estações do Ano: Influências Surpreendentes

O estudo também explorou como a idade e as estações do ano afetam a lembrança dos sonhos. Embora a capacidade de sonhar não diminua com o envelhecimento, a memória dos sonhos se torna menos frequente. Pessoas mais jovens têm maior facilidade para reter essas experiências, graças a uma combinação de memória mais afiada e maior capacidade de concentração. Com o tempo, o declínio natural dessas habilidades torna o processo mais desafiador.

Já em relação às estações, os participantes relataram menor recordação de sonhos durante o inverno. Uma possível explicação vem de outro estudo de 2024, que associou os dias mais curtos e escuros dessa época a um sono mais profundo e menos interrompido. Como o sono profundo reduz a probabilidade de acordar durante a fase REM, as memórias dos sonhos ficariam mais “enterradas” no subconsciente.

Sonhar Como um Treino Para a Vida Real?

Uma das questões mais intrigantes levantadas pela pesquisa é se existe uma vantagem evolutiva em recordar sonhos. A ciência ainda não tem uma resposta definitiva, mas algumas hipóteses ganham força. Por exemplo, sonhar pode ajudar a processar emoções difíceis, como medos e ansiedades, permitindo que o cérebro simule cenários de risco em um ambiente seguro. Lembrar desses sonhos poderia, teoricamente, ajudar na resolução de problemas ou na preparação para desafios reais.

Valentina Elce destaca que os sonhos frequentemente refletem preocupações do cotidiano, e recordá-los pode oferecer insights valiosos. “Eles funcionam como um ensaio mental”, explica. “Mesmo que não tenhamos consciência disso, o cérebro pode estar treinando respostas para situações futuras.”

As razões pelas quais algumas pessoas lembram mais dos seus sonhos do que outras

Como Aumentar a Lembrança dos Sonhos

Embora o estudo não tenha focado em técnicas práticas, as descobertas sugerem caminhos para quem quer melhorar a recordação de sonhos. Manter um diário próximo à cama e anotar os fragmentos assim que acordar é uma estratégia clássica, mas eficaz. Além disso, reduzir interferências cognitivas ao despertar — como evitar checar o celular imediatamente — pode ajudar a priorizar a memória do sonho antes que as distrações do dia a dia ocupem a mente.

Para os mais curiosos, praticar a atenção plena (mindfulness) durante o dia pode treinar o cérebro a ficar mais consciente de pensamentos internos, aumentando a sensibilidade aos conteúdos oníricos. E, claro, entender em qual fase do sono você acorda faz diferença: dispositivos de monitoramento ou aplicativos que detectam a fase REM podem ser úteis para programar o despertador em momentos ideais.

O Que Ainda Está Por Vir

Apesar dos avanços, Valentina Elce reforça que o estudo dos sonhos ainda está em estágio inicial. Questões como “por que sonhamos?” ou “como exatamente o cérebro constrói narrativas tão complexas durante o sono?” continuam sem respostas completas. O que sabemos, por enquanto, é que a interação entre a mente ativa, o ambiente e as características individuais molda essa experiência única — e que cada descoberta nos aproxima de decifrar um pouco mais esse universo noturno que habita todos nós.

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