Clair Obscur: Expedition 33 fez o Ocidente amar combate por turnos

Há uma grande resistência do Ocidente quando o assunto é RPG de turnos. Seja esse aspecto limitado ao combate — como em Persona — ou presente em sua totalidade, como em Baldur’s Gate 3, essa resistência é real. Embora exista uma parcela de jogadores que aprecia esse estilo, ele não é algo que estúdios ocidentais costumam desenvolver com frequência. Por outro lado, o Japão sempre foi a casa desse tipo de experiência, com a maioria dos seus RPGs baseados neste estilo. No entanto, Clair Obscur: Expedition 33 veio para quebrar esse paradigma e provar que um estúdio ocidental também pode criar um excelente RPG por turnos.

Lançado na última quinta-feira (24) para PS5, Xbox Series, PC e Game Pass, o título se tornou uma das grandes sensações da semana. É até surpreendente imaginar um RPG com combate por turnos tendo um alcance tão amplo no Ocidente. Ele vai além do público já acostumado com esse estilo. Mas há um motivo por trás desse sucesso: pela primeira vez em muito tempo, o jogador não é apenas um espectador passivo clicando em comandos, mas um elemento ativo e constante dentro da batalha.

É fato que o combate por turnos pode ser metódico e demorado. Isso afasta o jogador acostumado com combates em tempo real. Persona 5, por exemplo, conseguiu transformar esse sistema em algo dinâmico, mudando a forma como o gênero era percebido.

O remake de Final Fantasy VII adotou um sistema híbrido, misturando tempo real e turnos com liberdade de alternância. Já Metaphor: ReFantazio (2024) trouxe o sistema “Fast & Tactic”. Ele permite derrotar inimigos mais fracos em tempo real e ativar o modo tradicional por turnos contra adversários mais fortes.

Mesmo com essas evoluções, esse estilo de jogo ainda carregava uma sensação de repetição e cansaço com o tempo. Até agora.

A evolução

Clair Obscur: Expedition 33 consegue, de forma magistral, manter a essência do combate por turnos. Ao mesmo tempo, insere elementos que exigem constante ação do jogador, como esquiva, aparo, salto e esmaecer.

Além disso, o jogo apresenta QTEs (Quick Time Events) que amplificam o poder dos ataques se acionados no momento certo. Embora essa mecânica não seja nova — já presente em jogos como Legend of Dragoon e Mario RPG — a forma como ela é integrada aqui transmite a sensação de um combate em tempo real. O jogador precisa se defender e atacar com precisão.

O resultado é uma verdadeira dança mortal, fluida e acelerada. Ela evita o cansaço mesmo após longos combates ou sessões de farm.

Além do combate frenético, o jogo oferece um sistema robusto de habilidades ativas e passivas. Elas são baseadas em Pictos e Luminas, que abrem um vasto leque de possibilidades para criação de builds, evolução de atributos e desbloqueio de novas técnicas.

Tudo isso contribui para uma experiência estratégica, mas também empolgante. Todas essas mecânicas trabalham em harmonia. Elas entregam batalhas épicas, visualmente impactantes e com coreografias de tirar o fôlego.

Uma nova escola de RPG por turnos

Clair Obscur: Expedition 33 é uma anomalia positiva dentro do cenário de RPGs por turnos, nascida de um estúdio ocidental. Seus elementos inspirados em jogos Souls, como o aparo, somados às mecânicas vistas em títulos como Mario RPG, agradam tanto fãs antigos quanto novos jogadores.

Mais do que isso, o jogo estabelece um novo marco dentro do gênero. A partir de agora, podemos dizer que existem dois tipos distintos de combate por turnos: o japonês — e o de Clair Obscur: Expedition 33.

Finalmente, o Ocidente tem um RPG de turno para chamar de seu — e há muito do que se orgulhar.

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