Entrevista com Vanessa Guedes, da newsletter Segredos em órbita

Nesta entrevista, Vanessa Guedes, da newsletter Segredos em órbita, conta seu processo criativo, como surgiu sua newsletter e outros detalhes dos seus escritos.

Mar 15, 2025 - 12:40
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Entrevista com Vanessa Guedes, da newsletter Segredos em órbita

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Qual é a sua newsletter?

Segredos em órbita.

Fale um pouco de você, Vanessa.

Eu tenho 1,69m, cabelo bem comprido pintado de vermelho e verde, pele clara e olhos negros. Tenho uma pinta na parte direita do rosto, ao lado do nariz e embaixo do olho. Tenho uma tatuagem de mula-sem-cabeça que é excelente para fazer amigos fora do Brasil sem que eu precise puxar conversa, uma coisa ótima para mim, que odeio puxar conversa e moro fora do Brasil. Eu gosto muito de morango e caju e odeio banana (não faço idea do motivo, diz minha mãe que isso vem desde que eu era um nenê com 4 dentes de leite). Eu costumo dormir cedo e acordar cedo, não tenho capacidade de formar um pensamento coerente depois das 9h da noite.

Ah, eu também gosto de escrever códigos para máquinas e histórias para humanos, mas é só detalhe. Eu escolhi a profissão que paga as contas para isso: pagar as contas. Sonhar em ganhar a vida com algo que eu amo veio depois dos 30. A essa altura eu sei que pareço muito estranha para maioria das pessoas e isso tem consequências meio estapafúrdias. Eu até gosto de causar estranhamentos, mas não sempre. No dia a dia, eu gosto de me misturar na multidão e passar despercebida. Na internet, eu gosto de dançar.

Como surgiu a ideia de lançar uma newsletter?

Eu criei a newsletter para encontrar leitores. Simples assim.

Apesar de ser uma newsletter de ensaios críticos, portanto, de não-ficção, essa noção da necessidade específica de “encontrar leitores” veio quando eu comecei a publicar ficção. Eu queria ser lida, mas não apenas pelos meus amigos e minha mãe. Então comecei a me fazer a pergunta ao contrário: eu, como leitora, leio escritores desconhecidos? Porque é isso que eu sou, uma escritora desconhecida.

Então pensei comigo, se eu mesma dificilmente encontraria textos de autores quase anônimos de forma natural, por que me sentir frustrada se os meus textos não são encontrados?

Apesar de ser cronicamente online hás uns 20 anos, eu nunca tive nenhum número expressivo de seguidores em nenhuma rede social e nunca fui de “produzir conteúdo” nas minhas redes – eu escrevia não-ficção nos meus blogs, nos blogs dos outros e escrevi ocasionalmente artigos em sites como Papo de Homem, Blogueiras Feministas etc.

Com a popularização das redes sociais na última década, eu notei que se tornou muito difícil alcançar as pessoas se a gente não tiver milhares e milhares de seguidores. E mesmo assim, não é garantia. Publicar links para as pessoas clicarem e abrirem é uma ilusão – poucos realmente clicam. Mas isso é tudo de caso pensado, claro, quem desenha a rede social tem o objetivo de que você nunca mais saia dela. A solução seria publicar meus textos nas próprias redes sociais; uma ideia pavorosa. Eu me sentia uma pamonha com a expectativa de, do nada, postar um textão nas redes, onde estão pessoas que não tem nada a ver com essa parte da minha vida. Eu detesto a ideia dos meus colegas de trabalho lendo meus textos, por exemplo.

Então fiquei anos pensando em investir meu tempo numa newsletter, mas eu resistia à ideia porque poucas pessoas sabiam o que é uma newsletter. Eu sei que parece besta, mas era um problema real.

Quando eu topei com a newsletter da Patti Smith, eu percebi que esse problema seria rapidamente resolvido. Foi assim que conheci o Substack em 2020 e fiquei pesquisando a plataforma por um ano inteiro antes de criar a minha newsletter, Segredos em órbita. Notei que o Substack tinha duas vantagens muito específicas. Primeiro, ele duplicava a edição da newsletter em um blog (bem bonitinho, em comparação com a versão web dos arquivos do MailChimp, por exemplo, e suas URLs gigantes). Isso faz com que meus textos sejam facilmente “encontráveis”. E segundo, ele tinha o botãozinho de coração, o curtir. O Substack tem vários problemas fundamentais, mas eu escolhi usá-lo porque vi ali o potencial para popularizar as newsletters. E eu acho que, por mais críticos que a gente possa ser, a plataforma fez isso sim — eles conseguiram adaptar a experiência da rede social para a newsletter e isso fez com que muita gente aprendesse o que é newsletter.

No mais, mesmo que eu tenha criado a Segredos em órbita por causa dos meus trabalhos de ficção, eu sabia que a chance de conquistar leitores escrevendo ficção era baixíssima. Se você está se perguntando agora o motivo, eu lhe convido a pensar: quantas newsletters de histórias de ficção você lê regularmente? Então.

Foi por isso que resolvi escrever ensaios sobre assuntos que me intrigam. Tem sido muito bom, porque nesse processo eu me descobri apaixonada pelos formatos crônica e ensaio. O objetivo disso tudo é criar um laço de conexão com quem me lê e, nessa relação de confiança, me sentir segura de que quando eu lançar livros, eu já tenho um público leitor mínimo com quem contar. :)

Qual é o seu processo criativo para escrever uma nova edição?

Eu começo consultando meu arquivo de ideias, escolho uma, faço uma pesquisa sobre o tema, começo a escrever e deixo o rascunho numa pasta. Raramente eu publico algo logo depois do primeiro rascunho, meus textos demoram meses marinando até verem a luz do dia.

Minha pasta de rascunhos tem pouco mais de 20 textos no momento, alguns deles estão ali há dois ou três anos, mas a maioria foi rascunhado esse ano [2024; a entrevista foi feita em dezembro de 2024].

Depois de um tempo, eu leio o rascunho e verifico como eu me sinto sobre o assunto no momento, faço mais pesquisa e aí eu edito e reescrevo o que precisar. Muitos textos em rascunho estão sem fechamento, então é bom visitá-los meses depois, com a cabeça fresca, pois consigo fechar o pensamento melhor. Inclusive porque tive tempo para remoer as ideias.

Às vezes eu mando o texto antes para alguma pessoa de confiança e peço feedback antes de publicar. E caso eu cite alguma pessoa viva conhecida, eu mando o texto para essa pessoa ler antes também.

Sua newsletter tem uma assinatura paga ou gera dinheiro de alguma outra forma?

Sim.

Fale um pouco da newsletter enquanto negócio.

Me sinto pouco apta a falar disso, mas tenho promovido ações de monetização. Estou escrevendo essa resposta em dezembro de 2024, quando tenho pouco mais de seis mil leitores e cerca de 70 pessoas apoiam financeiramente a newsletter. O dinheiro arrecadado esse ano está pagando parte do trabalho de uma designer que chamei para fazer um “glow-up” da parte visual. Para arrecadar, eu uso a ferramenta de assinatura do Substack em conjunto com o Apoia-se. Apoiadores ganham edição extra, a coluna Expedições Criativas, onde eu falo sobre criatividade sob ângulos pouco convencionais e às vezes até com um viés mais político.

Não sei muito o que comentar, eu ainda estou me educando nessa parte do “negócio”. Talvez no futuro eu tenha algo melhor para contar.

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