Médico “em forma e saudável” ignorou os próprios sintomas de câncer por meses e faleceu tragicamente 3 semanas após diagnóstico

Em 2019, Jonathan Ainsworth, um médico de Londres, começou a sentir dores abdominais persistentes. Apesar de seu conhecimento na área da saúde, ele adiou a busca por ajuda médica. Sua esposa, Thelma Ainsworth, de 50 anos, relembra que os sintomas se arrastaram por meses, até que a perda de peso repentina do marido a levou a insistir por exames. O diagnóstico, porém, chegou tarde: em outubro daquele ano, Jonathan descobriu um câncer raro e agressivo nos ductos biliares. Três semanas depois, ele faleceu.

Thelma, advogada, escritora e ex-oficial jurídica da Força Aérea Britânica, compartilha a história do marido não apenas para honrar sua memória, mas para alertar sobre a importância de procurar ajuda diante de sintomas incomuns. “Ele era médico, mas esperou até ser tarde demais”, disse Thelma em entrevista.

Jonathan foi diagnosticado com câncer no ducto biliar em 2019 (PA Real Life).

O câncer de ducto biliar, responsável por menos de 1% dos casos oncológicos, muitas vezes evolui sem sintomas claros. Quando aparecem, incluem pele ou olhos amarelados (menos perceptíveis em peles mais escuras), coceira, urina escura, fezes claras, perda de apetite, cansaço extremo e febre.

Jonathan só descobriu a doença ao analisar seu próprio sangue, durante a espera por uma consulta especializada. Os exames revelaram que o câncer já havia se espalhado. “Estávamos sempre cinco passos atrás da doença”, contou Thelma. A rápida progressão deixou a família sem chances de tratamento. Hoje, ela usa a própria dor para conscientizar outros: “Se notar algo diferente, vá ao médico. Não espere”.

Thelma, Jonathan e seus dois filhos, Dominic e Richard (PA Real Life).

Além do alerta, Thelma transformou o luto em arte. Mãe de Dominic, 12 anos, e Richard, 8, ela canalizou a dor em I Am A Wolf Tonight, primeiro livro da série Surviving Badly, que aborda perda e luto. A obra nasceu de anotações brutas feitas após a morte do marido, nas quais ela chegou a se culpar pelas dificuldades no relacionamento e pela demora em incentivá-lo a se cuidar. “Precisava extrair aquilo que me bloqueava por dentro”, explicou. O processo de escrita a ajudou a entender que a jornada de superação é longa e única para cada pessoa.

O câncer de ducto biliar, embora raro, serve como exemplo de como até profissionais da saúde podem subestimar sinais do próprio corpo. A história de Jonathan reforça que sintomas aparentemente comuns, como dor abdominal ou fadiga, merecem atenção — especialmente se persistentes. A mensagem de Thelma é clara: não normalizar o desconforto. “Assim que suspeitar que algo está errado, procure um especialista”, enfatiza.

Thelma escreveu um livro sobre luto e perda (PA Real Life).

Enquanto reconstroem a vida, Thelma e os filhos carregam a missão de espalhar conscientização. O livro, mais que uma narrativa pessoal, é um convite para que outros enfrentem medos e vulnerabilidades. “Todos temos um animal interior que surge para nos fazer sobreviver”, reflete. E, no caso de Jonathan, a lição permanece: detectar precocemente pode ser a diferença entre a vida e um desfecho trágico.

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