MotoGP 25 – Review
Corrida com motos sempre foi visto, sobretudo aqui no Brasil onde a tradição da categoria é bem menor que a com carros de turismo e monopostos, como um esporte menos badalado, uma segunda linha de competição em alta velocidade. Isso se reflete também no mercado de videogames, onde o formato sempre esteve nas sombras …
Corrida com motos sempre foi visto, sobretudo aqui no Brasil onde a tradição da categoria é bem menor que a com carros de turismo e monopostos, como um esporte menos badalado, uma segunda linha de competição em alta velocidade. Isso se reflete também no mercado de videogames, onde o formato sempre esteve nas sombras dos principais jogos do gênero, considerando-se tanto o hype como o marketing.
MotoGP, dentro deste contexto, sempre foi considerado um jogo de nicho, ainda que seja a referência máxima quando se trata de disputas sobre duas rodas, fruto de um trabalho bastante sólido liderado pelos desenvolvedores da Milestone, a mesma de Monster Energy Supercross, cujo jogo mais recente foi analisado há alguns dias aqui.
Enquanto Rider é reconhecido pela simulação e realismo plenos, MotoGP é o equilíbrio entre um modelo mais sofisticado de controle e formas menos compromissadas com as nuances mais profundas da categoria. Ao representar os principais eventos competitivos do mundo, o jogo representa hoje o equivalente tanto em formato quanto em jogabilidade ao que se tornou a franquia F1.
A edição deste ano da série, chamada apropriadamente como MotoGP 25, traz algumas inovações em relação aos seus antecessores, mergulhando de vez na geração atual (mesmo ainda mantendo versões para PS4 e XBox One) e se apropriando da poderosa Unreal Engine 5, algo que imediatamente pode ser percebido em um modelo de corrida belíssimo e ainda mais deslumbrante.
Os visuais em momentos de gameplay são impecáveis. Seja na chuva ou com o tempo limpo; com o sol a pino ou ao cair da tarde, tudo funciona bem a partir de um clima dinâmico, com alguns detalhes de encher os olhos, incluindo gotas de água atrapalhando a visão ao emular condições desfavoráveis para quem está praticamente deitado no asfalto a centenas de quilômetros por hora debaixo de um verdadeiro dilúvio.
A mixagem de som se destaca positivamente mesmo sem ousar tanto, refletindo a sonoplastia típica dos circuitos perfeitamente, o que significa que o game está muito longe de se apoiar em zunidos genéricos que, em sessões mais alongadas, acabariam parecendo pernilongos azucrinando a nossa vida. Há uma atenção especial com as variações do giro dos motores, bem como com a ambiência e a bela trilha musical importada diretamente das transmissões televisivas. É um conjunto muito bem orquestrado.
O ponto baixo na questão artística segue sendo fora das pistas, principalmente quando as figuras humanas são melhor destacadas em suas interações tanto nas cenas de corte nos mais diversos modos, seja na imersão especifica do modo Carreira, problema semelhante ao percebido em Monster Energy Supercross 25, que também passou pelo mesmo processo de atualização do motor gráfico.
Aquela sensação do vale da estranheza parece cada vez mais incômoda sempre que se dá um passo na direção da fidelidade estética, principalmente quando se busca representar pessoas do mundo real de modo digital. Felizmente, tudo o que acontece fora das disputas é secundário e acaba esquecido quando as luzes vermelhas se apagam e tudo o que mais queremos é nos manter em cima da moto o mais rápido possível.
É aqui onde MotoGP 25 faz o trabalho de casa direitinho, com um esforço genuíno na adaptabilidade para o estilo do jogador. Uma jogabilidade arcade nos apresenta os comandos básicos e mesmo os menos simpáticos ao gênero poderão se apropriar dos princípios de aceleração e frenagem, mas principalmente de controle da dirigibilidade, que na primeira curva já se faz notar como algo diferente dos jogos com carros.
Isso porque o timing da tomada de curva não é o mesmo ao considerar a física de mudança de posição corporal dos personagens, dos principais aos NPCs. Entender a tomada de curva para além do ponto de desaceleração, é o cerne de uma boa pilotagem, e confesso que a memória muscular mais acostumada aos veículos com quatro rodas me fez demorar um pouco para me adaptar aos controles, mesmo com os auxílios de traçado ligados.
Uma grande vantagem nesta construção de um conjunto de capacidades está na boa resposta do DualSense que não só transmite o peso de uma aceleração intensa nos gatilhos adaptáveis, como também das trepidações em terrenos hostis ou nas formas (displicentes ou bem planejadas) de desaceleração e retomada da potência. A soma de audiovisual e das características do controle funcionam em uma consonância fundamental para que, por mais exigente que o jogo seja, estejamos municiados para assumir os riscos e as benesses de nossas ações.
Aos poucos, esta percepção se ajusta e possibilita que ajustes mais ousados sejam feitos para uma maior sensação de controle e precisão, ampliando a percepção de velocidade e do risco de queda eminente regado pelo sentimento de dever cumprido a cada ultrapassagem em curva. Se a habilidade de retroceder para a correção de erros bobos é uma segurança nas primeiras voltas, é a competência pela experiência que recompensa de verdade.
O modo mais especializado, chamado aqui de Experiência Pro, entretanto, não se restringe ao domínio completo das mecânicas de jogo em corrida, mas também a uma verdadeira liderança de equipe, permitindo que tracemos estratégias que envolvam o controle dos diferentes mecanismos da máquina, controle de consumo de combustível, ajustes específicos e outras variáveis que se mostram um deleite para os fãs fervorosos de esportes a motor.
Entre o céu e o inferno, é bom saber, há uma infinidade de possibilidades. Não só pelas escolhas entre facilitações e controle minucioso, como também pelas características da dificuldade adaptável que retorna para equilibrar as coisas. Este recurso, ao que parece, está muito mais dedicado à nossa relação com a moto e menos quanto às ações adversárias, que estão longe das mais espertas.
Tudo isso tem o seu preço, claro, e aqui ele se manifesta no tempo de dedicação. Mesmo um grande prêmio isolado nas dificuldades amenas oferece uma série de opções para dar profundidade e cobrar compromisso do jogador, permitindo que participemos de todas as sessões de treino livre, classificação e corrida sprint antes do evento principal. Em outras palavras, você pode escolher um evento único de três voltas e investir uma hora ou mais nisso.
Isso se estende por toda uma temporada ao decidirmos participar do campeonato assumindo um dos pilotos oficiais devidamente licenciados, como o espanhol octacampeão Marc Márquez em mais uma temporada correndo pela Ducati, ou Fabio Quartararo que mais uma vez surge com a sua Yamaha como um dos principais postulantes ao protagonismo deste ano. Ou para os mais intrépidos, alguém do fim do grid na vida real para testar de verdade suas capacidades contra os melhores do mundo.
O principal modo single player, porém, fica mais uma vez sob responsabilidade da Campanha, que nos permite levar um desconhecido e relativamente bem customizável piloto até o verdadeiro estrelato e, para tanto, alguns recursos como interações pelas mídias sociais – algo que se mostra interessante no começo mas enjoativo conforme avançamos na trama – bem como melhorias constantes na sua motocicleta como resultante dos pontos conquistados em metas atingidas.
A gestão da carreira, aliás, é um tempero muito bem-vindo para um modelo já bem estabelecido em jogos do tipo. Não há grandes inovações na forma como lidamos com o mercado de pilotos ou a progressão do equipamento, mas certamente há um investimento perene no engajamento em uma jornada tão longa, onde cada final de semana rende ciclos de causas e consequências únicos.
E para quem procura algo mais inteligente que uma CPU ainda com problemas em reconhecer a nossa presença na pista (gerando encontros inesperados, outros embates irritantes, e por outro lado algumas ultrapassagens sem resistência), há um modo dedicado à tela dividida para o multiplayer local e, obviamente, sistemas on-line ranqueados ou casuais para nos colocar diante adversários que realmente se importam se vão ou não espalhar na curva para prejudicar seus adversários.
Aliás, o controle de comportamento nas corridas segue a linha das edições anteriores na rigidez com alertas e punições. Atravessar a pista de forma agressiva com adversários ou mesmo dar aquele passeio involuntário pela grama geram alertas e, dependendo da gravidade, ações mais severas. Ao que parece, o monitoramento de conduta está mais avançado que a conduta da IA em si.
Se todas estas opções tradicionais não forem suficientes, o jogo ainda oferece um arsenal de possibilidades que já vimos antes tanto nesta franquia quanto em outros jogos similares, mas que sempre fazem bem, como o Time Attack possibilitando a tomada de tempo e o estudo de cada circuito, além de corridas de revezamento e eliminação. Há também modos paralelos que nos colocam no comando de outras variações sobre duas rodas em pistas menos óbvias, aumentando a sensação de diversidade em um game centrado em competições de alto desempenho.
Considerando que estes desenvolvedores tem assumido poucas ideias ousadas em seus jogos mais recentes, continua sendo fácil recomendar MotoGP 25 tanto para os fãs de longa data, que encontrarão aqui algumas melhorias importantes na comparação com o que veio antes, quanto para novos interessados que gostariam de se arriscar no gênero sem o sentimento de punição contínua de jogos mais dedicados à simulação pura. Mesmo sem grandes transformações, portanto, este é um dos melhores games sobre duas rodas disponíveis no mercado.
MotoGP 25 está disponível para PlayStation 5, Xbox Series, PlayStation 4, Xbox One, Switch e PC (Steam, Epic Games Store). Esta análise é da versão PS5 e foi realizada com um código fornecido pela Milestone.