O Eternauta: conheça a HQ que virou o Dia do Quadrinho Argentino

Logo após os eventos da Segunda Guerra Mundial, o mundo seguia por um rumo incerto. Nos anos 1950 estávamos longe do primeiro passo na Lua (que ocorreu em 1969) e ainda sentindo os efeitos do conflito que envolveu os Estados Unidos, toda a Europa e suas consequências.  10 melhores quadrinhos de todos os tempos 6 HQs de heróis tão tristes que depois de ler você precisará de um abraço Havia uma ânsia pelo início da corrida espacial, descobrir vida extraterrestre e os principais mistérios das estrelas e planetas. EUA e Rússia já estavam trabalhando em prol desta iniciativa, o que trouxe mais esperança para o futuro da humanidade. Logo, a Terra não nos limitaria mais.  Porém, o temor sobre o espaço e alienígenas sempre existiu. No fim do Século XIX, o livro Guerra dos Mundos já abordava sobre isso. Porém, era uma ideia distante. Quase que uma “loucura”. Quase 60 anos depois, em 1957, o autor Hector Germán Oesterheld e o desenhista Francisco Solano López publicaram na Argentina uma HQ que seria um divisor de águas no gênero: O Eternauta. -Entre no Canal do WhatsApp do Canaltech e fique por dentro das últimas notícias sobre tecnologia, lançamentos, dicas e tutoriais incríveis.- O início da publicação de O Eternauta Os primeiros capítulos da história em quadrinhos O Eternauta foram publicadas na revista argentina Hora Cero Semanal, trazendo ao centro da trama o personagem Juan Salvo. Ele é um sobrevivente que passou por diversas adversidades: uma nevasca brutal que caiu na região de Buenos Aires, sobreviventes sedentos por comida e até alienígenas. A trama de O Eternauta se mistura com política e temas sociais (Imagem: Reprodução/Pipoca & Nanquim) A HQ rapidamente se tornou uma das grandes obras do país, já que era perceptível as nuances de sua narrativa que apontavam críticas ao cenário político, modo de vida e outras questões sócio-culturais que existiam no fim da década de 1950. Enquanto os vilões sempre eram retratados como invasores, forças externas que orquestraram a tomada do poder em meio da violência, a Argentina passava por um golpe militar. E a resistência nunca contava com um grande herói, Juan Salvo sozinho não representava qualquer ameaça: mas sim a força conjunta, a coletividade. Foi utilizando referências sutis a este período em seu país e contando uma história que tocava — não apenas pela ação, mas também pelas nuances da sociedade e da humanidade — que Oesterheld e López se tornaram verdadeiros ícones na América do Sul e em todo o planeta. Influência na Europa Por ser escrita em espanhol, logo O Eternauta ganhou força internacional e parou em diversos outros países. E não demorou para a obra passar a influenciar a forma como outros escritores abordam o gênero de ficção científica. Através da trama, autores europeus passaram a adotar um tom mais político dentro de suas obras sci-fi. Isso também mexeu com o fato de que as histórias do continente, antes focadas em um herói ou um personagem que aparece e resolve tudo, passasse a depender mais dos outros e buscasse apoio para cobrir suas fraquezas. O Eternauta sempre foca no coletivo, ninguém salva o mundo sozinho (Imagem: Reprodução/Pipoca & Nanquim) Isso sem contar que O Eternauta se destaca por trazer sua história diretamente para Buenos Aires. Enquanto outros sempre idealizavam cenários futuristas ou terras fictícias, após sua criação passou a existir uma movimentação maior para retratar a própria comunidade e locais que conhecemos para passar uma sensação de realismo e proximidade do público às histórias.  Nos anos 1980 pudemos ver HQs como O Incal (França, 1981) e A Trilogia Nikopol (França, 1980) sendo diretamente impactadas pela forma como Hector Germán Oesterheld contava sua história. Hugo Pratt, autor italiano que criou Corto Maltese (1967), também utilizou alguns conceitos para construir suas aventuras.  Diversas versões e um trágico fim Apesar de O Eternauta ter sido produzido em 1957, ele foi revisto em outras versões. O próprio Oesterheld decidiu recontar sua história, de forma mais atual, no ano de 1969 — quando vimos o ápice da corrida espacial e com o tema em discussão de todas as formas pela mídia.  Solano López não trabalhou nesta edição, mas voltou à obra com o lançamento da sequência oficial da história, lançada em 1976. Ainda que seja conhecido por debater temas políticos e sociais em sua HQ, a continuação tinha um foco muito maior neste aspecto — buscando denunciar os males do golpe militar que a Argentina sofria.  Nesta mesma época, Hector Germán Oesterheld se uniu a um grupo de guerrilheiros chamado Montoneros para enfrentar a opressão. Porém, o autor desapareceu no ano de 1977, antes de finalizar o roteiro da sequência de O Eternauta. É importante mencionar que a Argentina só voltou a ter um governo democrático em 1983. A partir dali, outros autores e desenhistas adaptaram a obra sob seu ponto de vista dos conflitos apresentados pelo autor original da obra. As adaptações de O Eternauta En

Mai 2, 2025 - 22:52
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O Eternauta: conheça a HQ que virou o Dia do Quadrinho Argentino

Logo após os eventos da Segunda Guerra Mundial, o mundo seguia por um rumo incerto. Nos anos 1950 estávamos longe do primeiro passo na Lua (que ocorreu em 1969) e ainda sentindo os efeitos do conflito que envolveu os Estados Unidos, toda a Europa e suas consequências. 

Havia uma ânsia pelo início da corrida espacial, descobrir vida extraterrestre e os principais mistérios das estrelas e planetas. EUA e Rússia já estavam trabalhando em prol desta iniciativa, o que trouxe mais esperança para o futuro da humanidade. Logo, a Terra não nos limitaria mais. 

Porém, o temor sobre o espaço e alienígenas sempre existiu. No fim do Século XIX, o livro Guerra dos Mundos já abordava sobre isso. Porém, era uma ideia distante. Quase que uma “loucura”. Quase 60 anos depois, em 1957, o autor Hector Germán Oesterheld e o desenhista Francisco Solano López publicaram na Argentina uma HQ que seria um divisor de águas no gênero: O Eternauta.

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O início da publicação de O Eternauta

Os primeiros capítulos da história em quadrinhos O Eternauta foram publicadas na revista argentina Hora Cero Semanal, trazendo ao centro da trama o personagem Juan Salvo. Ele é um sobrevivente que passou por diversas adversidades: uma nevasca brutal que caiu na região de Buenos Aires, sobreviventes sedentos por comida e até alienígenas.

Imagem de O Eternauta
A trama de O Eternauta se mistura com política e temas sociais (Imagem: Reprodução/Pipoca & Nanquim)

A HQ rapidamente se tornou uma das grandes obras do país, já que era perceptível as nuances de sua narrativa que apontavam críticas ao cenário político, modo de vida e outras questões sócio-culturais que existiam no fim da década de 1950.

Enquanto os vilões sempre eram retratados como invasores, forças externas que orquestraram a tomada do poder em meio da violência, a Argentina passava por um golpe militar. E a resistência nunca contava com um grande herói, Juan Salvo sozinho não representava qualquer ameaça: mas sim a força conjunta, a coletividade.

Foi utilizando referências sutis a este período em seu país e contando uma história que tocava — não apenas pela ação, mas também pelas nuances da sociedade e da humanidade — que Oesterheld e López se tornaram verdadeiros ícones na América do Sul e em todo o planeta.

Influência na Europa

Por ser escrita em espanhol, logo O Eternauta ganhou força internacional e parou em diversos outros países. E não demorou para a obra passar a influenciar a forma como outros escritores abordam o gênero de ficção científica.

Através da trama, autores europeus passaram a adotar um tom mais político dentro de suas obras sci-fi. Isso também mexeu com o fato de que as histórias do continente, antes focadas em um herói ou um personagem que aparece e resolve tudo, passasse a depender mais dos outros e buscasse apoio para cobrir suas fraquezas.

Imagem do O Eternauta
O Eternauta sempre foca no coletivo, ninguém salva o mundo sozinho (Imagem: Reprodução/Pipoca & Nanquim)

Isso sem contar que O Eternauta se destaca por trazer sua história diretamente para Buenos Aires. Enquanto outros sempre idealizavam cenários futuristas ou terras fictícias, após sua criação passou a existir uma movimentação maior para retratar a própria comunidade e locais que conhecemos para passar uma sensação de realismo e proximidade do público às histórias. 

Nos anos 1980 pudemos ver HQs como O Incal (França, 1981) e A Trilogia Nikopol (França, 1980) sendo diretamente impactadas pela forma como Hector Germán Oesterheld contava sua história. Hugo Pratt, autor italiano que criou Corto Maltese (1967), também utilizou alguns conceitos para construir suas aventuras. 

Diversas versões e um trágico fim

Apesar de O Eternauta ter sido produzido em 1957, ele foi revisto em outras versões. O próprio Oesterheld decidiu recontar sua história, de forma mais atual, no ano de 1969 — quando vimos o ápice da corrida espacial e com o tema em discussão de todas as formas pela mídia. 

Solano López não trabalhou nesta edição, mas voltou à obra com o lançamento da sequência oficial da história, lançada em 1976. Ainda que seja conhecido por debater temas políticos e sociais em sua HQ, a continuação tinha um foco muito maior neste aspecto — buscando denunciar os males do golpe militar que a Argentina sofria. 

Nesta mesma época, Hector Germán Oesterheld se uniu a um grupo de guerrilheiros chamado Montoneros para enfrentar a opressão. Porém, o autor desapareceu no ano de 1977, antes de finalizar o roteiro da sequência de O Eternauta.

É importante mencionar que a Argentina só voltou a ter um governo democrático em 1983. A partir dali, outros autores e desenhistas adaptaram a obra sob seu ponto de vista dos conflitos apresentados pelo autor original da obra.

As adaptações de O Eternauta

Enquanto Oesterheld trabalhava na versão mais atual de O Eternauta, um acordo foi traçado com a produtora Gil & Bertolini em 1968 para ter os direitos de desenvolver uma animação baseada na sua trama. No entanto, esta versão teve apenas um episódio piloto produzido — com introdução do próprio autor da HQ.

É dito que o projeto foi cancelado por estar atrelado à técnica de rotoscopia, um procedimento de animação caro demais na época. Nunca foi revelado se os custos que levaram o projeto a ser cancelado ou se foram problemas políticos relacionados aos governos autoritários. 

A adaptação mais recente foi exibida pela Netflix neste ano de 2025, trazendo Ricardo Darin no papel de Juan Salvo e o neto do autor da HQ original — Martin Oesterheld — como consultor da produção. O sucesso da primeira temporada já garantiu a produção de um segundo ano, continuando a história do sobrevivente. 

 

O Dia dos Quadrinhos na Argentina

O Eternauta foi tão emblemático para o mundo das HQs na Argentina que o Dia dos Quadrinhos do país é celebrado em homenagem a obras como a de Oesterheld. A data foi escolhida em 2005 por grandes nomes da indústria, sendo definida como 4 de setembro.

Ela foi selecionada para coincidir com a data em que a revista Hora Cero Semanal foi lançada, em 1957. Esta era a publicação que O Eternauta foi publicada originalmente, o que traz um grande significado tanto para os fãs quanto para todos que trabalham na mídia hoje em dia.

Leia O Eternauta

Além da série da Netflix, é recomendável também buscar O Eternauta para ler e conhecer uma versão mais profunda da história idealizada por pessoas que buscavam um mundo melhor — para si e para as pessoas ao seu redor. Isso era um tema bem vivo nas HQs também, o que acaba trazendo uma sincronia de narrativa e do autor.

Atualmente a história em quadrinhos é publicada no Brasil através de coletâneas, como a versão da editora Pipoca & Nanquim. Você pode adquirir a sua edição através de lojas como a Amazon.

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