Telecomunicações latino-americanas, 1T2025
O setor de telecomunicações da América Latina inicia o ano de 2025 enfrentando turbulências reais e fictícias. Muitos operadores estão passando por uma fase de transição, na qual buscam reencontrar sua verdadeira identidade — que nada mais é do que responder às demandas do mercado. Assim, trava-se uma batalha entre as exigências de aumento de investimentos e o desejo de adotar uma abordagem conservadora no lançamento de novas tecnologias. Isso é especialmente perceptível nos países onde, nos últimos quatro anos — o período pós-COVID —, os governos em exercício atribuíram espectro radioelétrico com o objetivo de impulsionar o crescimento e a adoção do 5G. O resultado é que muitos provedores de serviço, ao se depararem com os requisitos de implantação de infraestrutura, percebem que a dinâmica competitiva do mercado não corresponde àquela que previram ao elaborar os planos de negócios que justificavam as promessas de investimento ou o valor ofertado pelo espectro. Os exemplos são numerosos e bastante claros, com operadoras que decidiram devolver espectro no Brasil ou aquelas no Chile e na Colômbia que reclamaram que as obrigações de implantação de infraestrutura as levaram à beira do colapso financeiro. -Entre no Canal do WhatsApp do Canaltech e fique por dentro das últimas notícias sobre tecnologia, lançamentos, dicas e tutoriais incríveis.- Essa situação pode se agravar em países onde os serviços já começam a sofrer pela falta de espectro radioelétrico suficiente, ou onde as atribuições estão vinculadas a processos de renovação que impactam negativamente as finanças das operadoras móveis. Estas, por sua vez, se veem obrigadas a continuar a expansão do 5G enquanto tentam promover a migração de seus usuários para dispositivos compatíveis com essa tecnologia — uma estratégia que não tem se mostrado totalmente satisfatória devido ao alto preço ainda praticado pelos telefones 5G em comparação com os de gerações anteriores. De toda forma, mercados como Brasil, Chile e Uruguai estão apresentando números de crescimento em usuários de 5G que superam o restante da região. É verdade que essas economias exibem ARPUs mais saudáveis do que a grande maioria dos mercados latino-americanos e uma parcela significativa de sua população com um poder aquisitivo acima da média regional. Como se isso não bastasse, o crescimento das redes 5G também exerce pressão sobre os provedores de fibra óptica e de infraestrutura de torres, que precisam ampliar sua cobertura para oferecer a capacidade de backhaul adequada a essas redes. Esse serviço, por sua vez, está passando por uma transição, impulsionada pela queda nos preços do mercado de serviços satelitais de acesso à banda larga e transporte de capacidade. O resultado é uma espécie de pesadelo para as autoridades responsáveis por zelar pela concorrência, devido ao fortalecimento das assimetrias nos mercados. Assim como os altos preços — em alguns casos, pelo espectro radioelétrico — e os investimentos em infraestrutura afetaram o fluxo de caixa das operadoras, também é verdade que os atores com maiores receitas e participação de mercado foram os que mais rapidamente expandiram suas redes, aproveitando a impossibilidade de seus concorrentes de igualar esses esforços de investimento no curto e médio prazo. O 5G, então, torna-se uma vitamina que fortalece os chamados operadores móveis dominantes em mercados como Colômbia ou México. Claro que tudo depende da perspectiva sob a qual se analisa. Por exemplo, as autoridades da região estão cientes dos graves problemas de conectividade em suas respectivas jurisdições. Esses desafios vão desde levar acesso a localidades atualmente desconectadas até educar as pessoas sobre os benefícios da tecnologia, criar aplicações de governo eletrônico e integrar a tecnologia aos serviços de saúde e educação. No entanto, o desafio é enorme e continua exigindo investimentos significativos. Além disso, a pobreza em áreas rurais impede que muitas pessoas, mesmo em regiões onde já existem serviços de telecomunicações, consigam acessá-los simplesmente porque não podem pagar por eles. Em outras palavras, a conectividade é uma questão que vai além das autoridades governamentais responsáveis pelo setor tecnológico e de telecomunicações. Por isso, deve-se desenhar uma política holística que complemente a cobertura com iniciativas para reduzir a pobreza, aumentar a acessibilidade dos serviços, melhorar a educação digital e fomentar o desenvolvimento de aplicações que aumentem a eficiência dos processos governamentais. O principal desafio é que os tomadores de decisão compreendam que, para aumentar a conectividade, é necessário reduzir a pobreza. É preciso entender que é mais importante falar de acessibilidade e da presença de infraestrutura civil antes de considerar os prazos de chegada das redes de telecomunicações a novos territórios, geralmente marcados por altos níveis de informalidade no trabalho, pobreza extrema e, infelizmente, em países como Colômbia

O setor de telecomunicações da América Latina inicia o ano de 2025 enfrentando turbulências reais e fictícias. Muitos operadores estão passando por uma fase de transição, na qual buscam reencontrar sua verdadeira identidade — que nada mais é do que responder às demandas do mercado. Assim, trava-se uma batalha entre as exigências de aumento de investimentos e o desejo de adotar uma abordagem conservadora no lançamento de novas tecnologias.
Isso é especialmente perceptível nos países onde, nos últimos quatro anos — o período pós-COVID —, os governos em exercício atribuíram espectro radioelétrico com o objetivo de impulsionar o crescimento e a adoção do 5G. O resultado é que muitos provedores de serviço, ao se depararem com os requisitos de implantação de infraestrutura, percebem que a dinâmica competitiva do mercado não corresponde àquela que previram ao elaborar os planos de negócios que justificavam as promessas de investimento ou o valor ofertado pelo espectro.
Os exemplos são numerosos e bastante claros, com operadoras que decidiram devolver espectro no Brasil ou aquelas no Chile e na Colômbia que reclamaram que as obrigações de implantação de infraestrutura as levaram à beira do colapso financeiro.
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Essa situação pode se agravar em países onde os serviços já começam a sofrer pela falta de espectro radioelétrico suficiente, ou onde as atribuições estão vinculadas a processos de renovação que impactam negativamente as finanças das operadoras móveis. Estas, por sua vez, se veem obrigadas a continuar a expansão do 5G enquanto tentam promover a migração de seus usuários para dispositivos compatíveis com essa tecnologia — uma estratégia que não tem se mostrado totalmente satisfatória devido ao alto preço ainda praticado pelos telefones 5G em comparação com os de gerações anteriores.
De toda forma, mercados como Brasil, Chile e Uruguai estão apresentando números de crescimento em usuários de 5G que superam o restante da região. É verdade que essas economias exibem ARPUs mais saudáveis do que a grande maioria dos mercados latino-americanos e uma parcela significativa de sua população com um poder aquisitivo acima da média regional.
Como se isso não bastasse, o crescimento das redes 5G também exerce pressão sobre os provedores de fibra óptica e de infraestrutura de torres, que precisam ampliar sua cobertura para oferecer a capacidade de backhaul adequada a essas redes. Esse serviço, por sua vez, está passando por uma transição, impulsionada pela queda nos preços do mercado de serviços satelitais de acesso à banda larga e transporte de capacidade.
O resultado é uma espécie de pesadelo para as autoridades responsáveis por zelar pela concorrência, devido ao fortalecimento das assimetrias nos mercados. Assim como os altos preços — em alguns casos, pelo espectro radioelétrico — e os investimentos em infraestrutura afetaram o fluxo de caixa das operadoras, também é verdade que os atores com maiores receitas e participação de mercado foram os que mais rapidamente expandiram suas redes, aproveitando a impossibilidade de seus concorrentes de igualar esses esforços de investimento no curto e médio prazo. O 5G, então, torna-se uma vitamina que fortalece os chamados operadores móveis dominantes em mercados como Colômbia ou México.
Claro que tudo depende da perspectiva sob a qual se analisa. Por exemplo, as autoridades da região estão cientes dos graves problemas de conectividade em suas respectivas jurisdições. Esses desafios vão desde levar acesso a localidades atualmente desconectadas até educar as pessoas sobre os benefícios da tecnologia, criar aplicações de governo eletrônico e integrar a tecnologia aos serviços de saúde e educação.
No entanto, o desafio é enorme e continua exigindo investimentos significativos. Além disso, a pobreza em áreas rurais impede que muitas pessoas, mesmo em regiões onde já existem serviços de telecomunicações, consigam acessá-los simplesmente porque não podem pagar por eles. Em outras palavras, a conectividade é uma questão que vai além das autoridades governamentais responsáveis pelo setor tecnológico e de telecomunicações. Por isso, deve-se desenhar uma política holística que complemente a cobertura com iniciativas para reduzir a pobreza, aumentar a acessibilidade dos serviços, melhorar a educação digital e fomentar o desenvolvimento de aplicações que aumentem a eficiência dos processos governamentais.
O principal desafio é que os tomadores de decisão compreendam que, para aumentar a conectividade, é necessário reduzir a pobreza. É preciso entender que é mais importante falar de acessibilidade e da presença de infraestrutura civil antes de considerar os prazos de chegada das redes de telecomunicações a novos territórios, geralmente marcados por altos níveis de informalidade no trabalho, pobreza extrema e, infelizmente, em países como Colômbia, Equador e México, por uma crescente insegurança derivada do narcotráfico e de grupos armados.
É hora de pensar em um novo paradigma, no qual as empresas que surgiram em zonas rurais — como, por exemplo, os chamados wisperos na Colômbia, as
cooperativas na Argentina ou as centenas de operadores rurais independentes do Brasil e do México— sejam reconhecidas como atores-chave para fechar as diversas lacunas digitais e impulsionar a conectividade. O governo deve abandonar a receita centrada exclusivamente nos grandes operadores nacionais e adotar uma abordagem mais eclética, na qual todos os provedores, independentemente do seu porte, tenham um papel a desempenhar.
Afinal, são os operadores rurais que conhecem de perto as reais necessidades de seus territórios. Não se pode resolver os problemas de conectividade sem atender às demandas dos habitantes da ruralidade latino-americana. As tradicionais receitas homogêneas ditadas a partir da Cidade do México, Buenos Aires, Brasília ou Bogotá para as regiões mais afastadas devem ser reformuladas com base no retorno vindo das áreas rurais: uma abordagem que parte das bases rumo à liderança nacional.
O desenvolvimento das telecomunicações e das TIC depende de iniciativas voltadas para a eliminação da pobreza, a melhoria do estado da infraestrutura civil — como estradas e redes de energia elétrica —, a atualização dos currículos universitários e o incentivo à adoção de novas tecnologias por parte do Estado. Se não se adotar uma abordagem tecnológica que leve em conta esse cenário básico, será muito difícil planejar adequadamente iniciativas que eliminem as lacunas digitais ainda presentes no Brasil e no restante da América Latina.
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