Microsoft 50 Anos – a empresa que mudou o mundo – Parte 3

A Microsoft roubou a Apple, ou salvou a empresa? Nesta terceira parte da História da Microsoft, vamos conhecer esse momento conturbado! Microsoft 50 Anos – a empresa que mudou o mundo – Parte 3

Abr 12, 2025 - 07:09
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Microsoft 50 Anos – a empresa que mudou o mundo – Parte 3

A Microsoft não inventou a interface gráfica. Nem a Apple. Nem foi roubada da Xerox. Piratas do Vale do Silício é um excelente filme, mas simplifica e distorce muita coisa, assim como Hidden Figures, é ótimo, mas é fanfic. Sobre o último, artigo no Contraditorium em breve. Sobre a Microsoft, vamos prosseguir com a História de quando Bill Gates mordeu mais do que conseguia abocanhar, e passou por quatro gerentes de produto sem conseguir entregar o Windows.

A imagem mostra um homem sentado no banco de trás de um carro, trabalhando em um laptop. Ele está vestindo um terno e gravata e parece estar focado na tela do laptop. Na mesa à sua frente, há um livro azul com texto em branco e uma caneta. Há outras pessoas no carro, algumas das quais estão segurando câmeras e tirando fotos. O carro está estacionado em uma rua com prédios visíveis ao fundo.

Bill Gates, no começo dos Anos 1990 (Crédito: Divulgação/Microsoft)

A idéia de interface gráfica no final dos Anos 70 não era mais revolucionária, mas também não era popular, sendo algo restrito a pesquisadores. A adoção geral demorou bastante, mesmo depois do lançamento do Macintosh em 1984, articulistas como Chrys Goyens insistiam que interfaces gráficas eram uma moda passageira.

Um dos reais pioneiros foi o Alto, um computador criado pela Xerox, mais precisamente pelo PARC – o Centro de Pesquisas de Palo Alto, uma organização criada pela Xerox para fazer exclusivamente pesquisa, e seguiram ao pé da letra. Raríssimas vezes a tecnologia desenvolvida por eles era transformada em produto.

O PARC inventou a Interface Gráfica, otimizou o uso de Mouse, criou Ethernet e até a impressora-laser. Todos esses produtos acabaram sendo vendidos por outras empresas.

Quando o Apple II foi lançado em 1977, com sua interface de texto, a Xerox já tinha um computador com mouse e interface gráfica desde 1973. Era o Xerox Alto,

Com tela WYSIWYG de alta resolução (pra época, 606 × 808), 128KB de RAM, CPU de 5.8MHz, o Alto era um monstro. Mas não um segredo. Mais de 2000 foram construídos e estavam disponíveis para o público acadêmico. Os que tinham dinheiro, claro. Cada unidade custava em 1973 US$32 mil, equivalente a US$230 mil em 2025.

Quando Steve Jobs, com engenheiros da Apple, visitou o PARC, em 1979, os conceitos apresentados não eram mais segredo, o que os impressionou foi a maturidade com que foram apresentados.

A tal visita também não foi de graça. A Apple concordou em vender para a Xerox 100 mil ações a US$ 10 cada, antes da abertura de capital da empresa, em dezembro. Em valore de hoje, um investimento de quase US$ 4,5 milhões. Valeu? Digamos que quando a Apple fez seu IPO, cada ação foi oferecida a US$22. Nada mal pra uma empresa de frutas.

O preço por comprar ações baratas, foi a visita guiada VIP ao PARC, que impressionou profundamente Steve Jobs. Ele redirecionou os esforços da Apple, criando o Lisa e depois o Macintosh. O Lisa herdou muito do Alto, inclusive seu preço. Um Apple Lisa custava US$1 0 mil, US$ 32 mil em valores atuais.

Não precisa explicar por que todo mundo continuava brincando com os Apple II, Commodores e TRS-80s...

No mundo de gente grande, a Microsoft também começou a se interessar por interfaces gráficas, depois que Bill Gates viu uma demonstração do Visi On, uma interface criada pela VisiCorp, em 1982.

A imagem é uma captura de tela de uma tela de computador com fundo preto e texto em branco. No centro da tela, há uma barra de menus com opções como "Serviços", "Tutorial", "Word", "Gráfico", "Converter em gráfico", "Arquivos" e "Serviços". Abaixo da barra de menus, existem dois botões - "Ajuda", "Close", "Open", "Full Frame", "Opções", "Transfer" e uma "Stop". A barra de menus tem uma seta branca apontando para a direita, indicando que o usuário está no processo de conversão em um gráfico.

Interface do Visi On (Crédito: Wikimedia Commons)

Quando a Apple lançou o Lisa, em 1983, a Microsoft já estava trabalhando no Windows. Ambos os computadores herdaram muito (em software) do Xerox Star, sucessor do Alto.

Gates inclusive comprou um Xerox Star com uma impressora por US$ 100 mil (US$ 350 mil em valores atuais), para desespero de Steve Ballmer. Isso em 1981. Ele estudava incessantemente o computador e demonstrava para todos os funcionários que apareciam no escritório dele.

Kibar não é tão simples

A Apple foi muito mais eficiente em absorver os conceitos da interface gráfica, ampliá-los e adaptá-los a seu hardware. A Microsoft não era tão boa nisso, talvez por falta do chicote do Steve Jobs, e mesmo tentado anunciado o Windows em 1983, por anos nada saiu do papel.

Queimaram quatro gerentes de produto, até Tandy Trower conseguir finalmente entregar o produto acabado em 1985, se é que dá para chamar o lixo do Windows 1.0 de produto acabado.

A Microsoft nessa época ofereceu o Windows para a IBM, que de novo demonstrando sua excelente visão estratégica, decidiu não investir na GUI de Bill Gates.

No final de 1987 foi lançado o Windows 2.0, acompanhado de Word e Excel, nessa época o Windows era vendido em caixas com um mouse, periférico que ainda era raro na maioria das casas e escritórios.

A imagem é uma captura de tela do software Aldus Pagemaker. Ele mostra uma página com uma ilustração em preto e branco do rosto de um homem no centro. A página é intitulada "Versão 3.0" e tem o título do software escrito em letras brancas em negrito no topo. Abaixo do título, há uma legenda que diz "subtítulo" em letras pretas menores. No lado direito da página, existem várias opções como "Editar", "Opções", "Página", "Tipo", "Linhas", "Sombras" e "Ferramentas". Na parte superior da imagem, parece haver uma barra de ferramentas com várias ferramentas e opções para editar a página.

Ah Pagemaker, ganhei muito dinheiro com isso (Crédito: Wikimedia Commons)

Ainda limitado, o Windows 2.0 ao menos rendeu uma coisa: Dor de cabeça, quando a Apple viu os novos recursos do sistema da Microsoft, subiu nas tamancas, rodou a baiana. “Vai todo mundo pro pau!”

Não que a Apple fosse estranha aos tribunais, toda hora tinham um caso cabeludo. Um dos melhores foi quando Carl Sagan descobriu que o codinome interno de um dos projetos da empresa se chamava “Sagan”. Ele, chato, não gostou e processou.

A Apple então passou a chamar o projeto pelo codinome “Astrônomo Bundão”. Foram processados novamente, mas desta vez eles que processaram, alegaram que o Windows 2.0 tinha muito do “look & feel” do Macintosh, algo que pode ser traduzido por “jeito e visual”.

Isso resultou no caso “Apple Computer, Inc. v. Microsoft Corp.”, e a pobre HP entrou de gaiata sendo incluída como co-ré, por causa do NewWave, um aplicativo que vinha com o Windows e também teria copiado ícones da Apple.

O caso se arrastou de 1988 até setembro de 1994, a Apple apresentou 189 elemento da Interface Gráfica do Windows que teriam sido copiados do Macintosh, mas o resultado não agradou muito aos frutistas.

A Microsoft puxou da cartola uma licença assinada pela Apple; envolvia o desenvolvimento de softwares para Macintosh, e incluía o direito da Microsoft usar os elementos da Interface Gráfica do Mac mesmo em programas como o Windows 1.0.

Com essa licença, o Juiz decidiu que 179 elementos gráficos estavam devidamente licenciados, e os outros dez não eram passíveis de Copyright.

Também foi levantado que a própria Apple admitia ter se inspirado na Xerox, e não existe copyright por procuração, a Apple não pode processar a Microsoft por copiar elementos da Xerox que a Apple também copiou.

Já a Xerox pode, e para adicionar insulto à injúria, no meio do imbróglio, a XEROX processou a Apple por copiar a interface do Xerox Star, alegando que a tal visita ao PARC foi abusada pela Apple.

O tribunal não deu atenção, viu que a Xerox só entrou com o processo por sentir cheiro de sangue na água. O caso foi anulado e a Xerox voltou pro seu cantinho chupando dedo.

Não que isso fosse ficar por isso mesmo. Mesquinha como só ela, a Apple passou a representar os computadores Windows nas redes locais usando um ícone para lá de sacana: um monitor CRT com uma Tela Azul da Morte. E o melhor de tudo, é assim até hoje!

A imagem é uma captura de tela de uma tela de computador com um computador de mesa no centro. O computador da área de trabalho é um monitor de computador de cor dourada com uma tela azul. No lado esquerdo da tela, há uma barra de menus com várias opções como "Favoritos", "Dropbox", "All My Files", "Desktop", "Download", "Devices", "Remote", "Shared" e "Tags". No lado direito, existem duas guias - "PC" e "Search". O fundo da imagem é um campo aberto com árvores e arbustos.

Uma baita de uma sacanagem, mesquinharia mesmo. Eu adoro (Crédito: Reprodução/Apple)

Alguns anos depois, em 1997, Windows já era um virtual monopólio nos desktops, a Microsoft tinha um valor de mercado de US$ 107 bilhões. A Apple estava perdida, o iPod só seria lançado em 2001, Macs eram desejos de consumo, mas com uma penetração (ui!) muito pequena. A empresa valia US$ 1,5 bilhões, e estava, como o rapaz alegre da piada do Costinha, toda endividada.

Michael Dell deu sua famosa declaração de que se fosse a Apple, fecharia a empresa, venderia o patrimônio e distribuiria o dinheiro para os acionistas.

Isso foi o resultado da saída de Steve Jobs, que abandonou a empresa em 85, ao ser passado para trás por John Sculley. Jobs voltou em setembro de 97, quando o board da empresa implorou rastejando para que ele os salvasse.

Internamente, Steve Jobs costurou um acordo com seu maior adversário, Bill Gates: Em um momento em que a Apple mais precisava de confiança do mercado, durante a MacWorld Boston Jobs anunciou uma parceria gigantesca:

A Microsoft compraria US$ 150 milhões em ações da Apple, com acordo de não as vender por três anos. Também se comprometeu a lançar versões do Office para macOS, por pelo menos cinco anos, incluindo as atualizações principais.

Em troca, a Apple aceitou não mais tentar processar a Microsoft por copiar o Mac, incluiu o Internet Explorer como navegador principal e iniciaram vários projetos conjuntos.

A Microsoft salvou a Apple, e talvez tenha sido a melhor coisa que ela já fez, monopólios são ruins, competição é essencial, mas a decisão não foi 100% altruísta. A empresa estava sendo investigada pelo Governo dos Estados Unidos por prática de monopólio, corria um sério risco de ser desmembrada como outras grandes empresas do passado, como a Bell, a Standard Oil e a U.S. Steel.

Mantendo a Apple no mercado, a Microsoft teria uma concorrente de peso para apontar e mostrar que não estava sozinha.

Está longe de ser uma atitude ruim, foi um belo gesto, mas antes que comecem os louvores, é bom lembrar que a Microsoft de santa não tem nada.

A empresa tem um histórico de práticas questionáveis, FUD (sigla em inglês para Medo, Incerteza, Dúvida), ataques pesados, como a campanha Anti-Linux, e algumas atitudes de gente baixa, como o Windows que quando detectava que estava sendo instalado em cima do DR-DOS (o clone do MS-DOS da Digital Research), dava um erro. Uma mensagem genérica, um OK e tudo funcionava, mas a mensagem passada era que o DOS sem ser da Microsoft ou IBM era ruim.

A imagem é uma captura de tela de uma janela de configuração do Windows. A janela tem um fundo azul e uma caixa de texto branca no centro. A caixa de texto diz "Erro não fatal detectado: Erro #4153 (entre em contato com o suporte beta do Windows 3.1.) Pressione Enter para continuar". Abaixo da caixa de texto, há um botão "ENTER-Continue" vermelho. Na parte superior da janela, existem dois botões - "Setup Windows" e "Ajuda".

Ah, Bill... (Crédito: Wikimedia Commons)

Isso tudo veremos na quarta parte de nossa exaustiva História da Microsoft...

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