SpaceX domina missões da Força Espacial em 2025

SpaceX realizará 7 das 9 missões da Força Espacial em 2025; Tory Bruno, da ULA, não acredita que governo dos EUA favorece Elon Musk SpaceX domina missões da Força Espacial em 2025

Abr 12, 2025 - 07:09
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SpaceX domina missões da Força Espacial em 2025

Na última sexta-feira (4), a Força Espacial dos Estados Unidos anunciou seu plano de lançamentos de satélites militares até o início dos anos 2030. SpaceX, United Launch Alliance (ULA), e Blue Origin foram contempladas com 54 contratos no valor de US$ 13,6 bilhões, onde a companhia aeroespacial de Elon Musk responderá por 28 missões, ou 51,9% do total; as empresas de Tory Bruno e Jeff Bezos ficaram com 19 e 7, respectivamente.

Embora a divisão pareça equilibrada, as missões de 2025 foram quase todas confiadas à SpaceX, que ficará responsável por 7 dos 9 lançamentos, enquanto a ULA realizará os dois restantes. Não obstante, a Força Espacial reagendou uma missão anteriormente fechada com o Vulcan Centaur, que agora vai subir em um Falcon 9.

25 de junho de 2024: foguete Falcon Heavy da SpaceX sobe com um satélite da série GOES da NOAA, para previsão do tempo (Crédito: Divulgação/SpaceX)

25 de junho de 2024: foguete Falcon Heavy da SpaceX sobe com um satélite da série GOES da NOAA, para previsão do tempo (Crédito: Divulgação/SpaceX)

Considerando o turbulento cenário atual, não é difícil imaginar que Musk estaria usando sua influência junto a Donald Trump para passar a perna nos rivais, mas Tory Bruno acredita não ser o caso, e explica por quê.

ULA perde espaço para SpaceX

Como você bem lembra, a ULA é uma joint entre a Boeing e a Lockheed Martin, e foi fundada para atender as necessidades específicas da NASA e do Departamento de Defesa dos Estados Unidos, ao suprir plataformas de lançamento aeroespaciais a missões científicas, e principalmente, que envolvem a Segurança Nacional

A ULA é responsável pelo desenvolvimento independente do foguete Vulcan Centaur, e das plataformas anteriores Delta IV e Atlas V, enquanto faz parte de outra joint, com Boeing (não pergunte), Aerojet Rocketdyne, e Northrop Grumman, para o desenvolvimento do SLS. Embora não seja uma empresa grande como as acima citadas, ela fez seu pé-de-meia junto ao Pentágono e por muito tempo, respondeu sozinha por lançamentos confidenciais de agências como a NRO (a com os emblemas de missão mais legais), e a NOAA.

As coisas começaram a mudar quando a SpaceX provou a sustentabilidade do foguete Falcon 9, o que levou a companhia a processar a Força Aérea dos EUA em 2014, alegando que a ULA "detinha um monopólio" das missões confidenciais. Um acordo foi fechado no ano seguinte, e desde então, Elon Musk abocanhou 40% dos contratos do Pentágono que, até então, iam todos para Tory Bruno.

Quando a Força Espacial foi criada por Trump em 2019, esta assumiu as responsabilidades por lançamentos confidenciais que antes cabiam à Força Aérea; em 2020, esta estabeleceu seu primeiro set de contratos, que cobririam o ano vigente até 2024, e a ULA responderia inicialmente por 60% dos lançamentos, mas devido os atrasos com o Vulcan, parte deles foram realocados para subir com os foguetes da SpaceX.

Corta para 4 de abril de 2025, e a nova rodada de contratos ficou assim:

  • SpaceX: 28 missões, orçamento de US$ 5,9 bilhões (~R$ 34,88 bilhões, cotação de 10/04/2025);
  • ULA: 19 missões, orçamento de US$ 5,4 bilhões (~R$ 31,92 bilhões);
  • Blue Origin: 7 missões, orçamento de US$ 2,3 bilhões (~R$ 13,6 bilhões).

Individualmente, cada missão da SpaceX vai custar ao Pentágono US$ 210,71 milhões (~R$ 1,25 bilhão), da ULA, US$ 284,21 milhões (~R$ 1,68 bilhão), e da Blue Origin, US$ 328,57 milhões (~R$ 1,94 bilhão).

Tory Bruno, presidente e CEO da ULA, viu presença de sua companhia em contratos militares encolher (Crédito: Joel Kowsky/NASA)

Tory Bruno, presidente e CEO da ULA, viu presença de sua companhia em contratos militares encolher (Crédito: Joel Kowsky/NASA)

Porém, se olharmos apenas para os lançamentos de 2025, a coisa fica feia: a companhia de Tory Bruno responderá por apenas dois dos 9 lançamentos, a SpaceX responderá pelos demais, sendo 4 com o Falcon Heavy, e 3 com o Falcon 9; todos os três lançamentos da NRO deste ano foram garfados por Musk, enquanto os 6 da Força Espacial foram divididos em 4 para a SpaceX, e dois para a ULA.

A proporção de 78/22 se explica porque a companhia de Tory Bruno não era elegível para duas das missões, porque a base de lançamentos para o Vulcan em Vanderberg, na Califórnia, ainda não está pronta, e os que garantiu subirão do Cabo Canaveral, na Flórida; a SpaceX operará em ambas localidades, com suas estruturas já prontas.

Muitos apontaram a maior fatia do bolo ficando com a SpaceX como outro caso de Elon Musk se aproveitando de sua proximidade com Donald Trump, que o autorizou a auditar seus próprios conflitos de interesse, e que está, através do DOGE (Departamento de Eficiência Governamental), desmantelando uma agência federal atrás de outra, no que a NASA não é exceção, só que Bruno não acredita nisso.

O executivo-chefe da ULA disse, durante a edição 2025 do Simpósio Espacial realizado no estado do Colorado, que sua empresa "não foi impactada, pelo menos, ainda não" pela posição privilegiada de Musk em relação à sua proximidade com o presidente dos EUA, cuja campanha eleitoral o dono da SpaceX financiou parcialmente, acrescentou que confia que o governo "será justo, e seguirá todas as regras e leis" referentes aos contratos estabelecidos e à livre competição, e que sua companhia está se comportando de acordo com esses princípios.

Paralelo a isso, oficiais do Pentágono são categóricos quando questionados se há a possibilidade de confiar em uma única empresa, no caso a SpaceX, para assumir todos os lançamentos confidenciais. A resposta é sempre um sonoro "não", e não apenas ULA e Blue Origin são mantidas nos acordos, como o órgão também convidou as empresas menores Rocket Lab e Stoke Space, para que estas possam concorrer com as demais.

Segundo Bruno, a razão para Pentágono e Força Espacial preferirem a SpaceX à ULA é simples: a empresa de Elon Musk garantiu, após anos de pesquisa, uma cadência alta de lançamentos a preços baixos, atrelados ao reuso de seus foguetes, que nenhuma concorrente consegue equiparar. E governos adoram poupar dinheiro sempre que possível.

O Vulcan Centaur foi inicialmente desenvolvido como um modelo tradicional (descartável), mas em tese pode ser convertido em um modelo reutilizável; hoje ele é certificado para colocar em órbita cargas confidenciais, como satélites de reconhecimento e as missões ultrassecretas do Boeing X-37B, mas como tudo envolvendo o projeto, isso foi alcançado com anos de atraso, o que permitiu à SpaceX responder sozinha por lançamentos do tipo, após a descontinuação das linhas Delta IV e Atlas V.

Para Tory Bruno, SpaceX de Elon Musk conquistou mais contratos por dois motivos: menor preço, e maior cadência (Crédito: Divulgação/SpaceX)

Para Tory Bruno, SpaceX de Elon Musk conquistou mais contratos por dois motivos: menor preço, e maior cadência (Crédito: Divulgação/SpaceX)

Três missões em específico, a USSF-15 do Falcon Heavy, e as duas do Vulcan, lançarão dois satélites da linha GPS IIIF-2, a nova geração de instrumentos do sistema americano de geolocalização, e o NGG-2, um geossíncrono para a detecção de mísseis. No caso dos dois primeiros, o Pentágono quer contar com ambos foguetes para a expansão da rede, exatamente por isso, cada empresa ficou com uma missão.

Se analisarmos de modo prático, a divisão de missões entre a ULA e a SpaceX (excluindo a Blue Origin, que nunca mandou nem um parafuso para o Espaço de verdade) faz sentido, a Força Espacial está dando preferência para a empresa que está mostrando resultados perceptíveis, e o Vulcan, sejamos justos, atrasou a beça.

Quanto à NASA, as coisas parecem estar entrando nos trilhos, a primeira parte da sabatina do Senado dos EUA com Jared Isaacman, sugerido por Musk e indicado por Trump para assumir a agência espacial, ocorreu até que de forma tranquila, ainda que alguns temam que ele será nada mais que um "poste", com o dono da SpaceX já atuando como o diretor de facto.

Seu argumento de que a missão rumo a Marte deve ser priorizada se alinha com os desejos de Musk, mas, por outro lado, Isaacman não tem intenção de cancelar o Programa Artemis, que visa o retorno de astronautas americanos à Lua; a audiência será retomada na próxima sexta-feira (11).

Fonte: Ars Technica

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