The Last of Us - 2x03: The Path | Episódio morno reflete sobre luto e propósito

Depois dos eventos traumáticos do último episódio, The Last of Us tem em seu terceiro episódio, chamado de “The Path”, o momento mais fraco da temporada até agora. Não se engane, não digo isso devido à lentidão da trama, ou do descanso depois da loucura, mas voltado, principalmente, a como a produção toma algumas decisões que, pra mim, giram o volante numa direção sinuosa.Depois da morte de Joel e do ataque da horda de infectados, tanto Ellie quanto a comunidade de Jackson precisam encontrar forças e seguir em frente. Os interesses individuais entram em choque com as necessidades coletivas, e o episódio se mantém basicamente em cima dos questionamentos morais do que fazer a seguir.Depois da tempestadeA primeira escolha que me faz pensar que a série perde força ao invés de ganhar é situar a caçada à Abby meses depois do ataque a Jackson. A urgência da morte de Joel e suas circunstâncias dificilmente pediam por uma pausa tão grande. Em três meses, muita coisa muda, as pessoas esfriam seus ânimos e atitudes de cabeça quente perdem efeito, algo que nessa história são componentes essenciais para vermos seres humanos cometendo os piores erros.Meses depois do choque, Ellie passa por terapia, finge que está melhor e até participa de uma reunião toda boazinha para conseguir ir atrás de Abby. Até Tommy, com o tempo, tornou-se um papel mais de pai sábio do que o irmão vingativo que vemos nos jogos. Como ele não presenciou a morte de Joel, vemos que o que habita no personagem é muito mais tristeza do que ódio, como visto na excelente cena dele limpando o corpo de Joel.Já Ellie é a que mais sofre com as escolhas narrativas, após um momento tão traumático, perdendo sua maior âncora emocional, a personagem não parece ter crescido e amadurecido em nada. Ela ainda faz as mesmas piadas e age, perante aos outros adultos, de fato como uma criança, algo que em sua jornada é quase um regresso. Ellie, acima de todos ali, foi a que passou por mais eventos traumáticos em sua vida, necessitando um amadurecimento rápido. Apesar da excelente performance de Bella Ramsay, quase nada ali me convence de que ela ainda não é uma criança rabugenta de 12 anos, e não uma assassina vingativa.Serafitas e LobosPela primeira vez, tivemos o vislumbre das duas principais facções dessa história: os Serafitas (ou cicatrizes) e a W.L.F, os lobos de Abby e companhia. Ainda estão em estágios iniciais de construção dramática, mas algo insiste em me incomodar na forma como a série parece ligar com os grupos e nossa protagonista.Algo que o material consegue fazer de forma magnífica é não apontar culpados e ter uma trama recheada de nuances onde nunca fica claro quem está certo. Todo mundo é vilão na história de alguém. Entretanto, aqui eu sinto que, desde o início, a produção parece seguir um caminho onde a W.L.F é vilanizada, como um mal militar a ser impedido.Não se engane, não tenho problema nenhum com mudanças em uma adaptação; na verdade, fico feliz quando seguem caminhos originais, porém, nesse quesito citado, me parece mais um retrocesso do componente dramático único alcançado pela produção da Naughty Dog, enquanto a série da HBO parece seguir um caminho mais convencional e menos empolgante sobre os lobos.Espero que os próximos episódios sejam diferentes das minhas preocupações em relação a essas duas facções. Estou ansioso pra ver o Isaac de Jeffrey Wright e entender como os seus ideais na produção vão impactar tanto o futuro de Abby quanto de Ellie. Antes do conflito eclodir, a construção de ambos os lados é essencial.Adeus, JacksonEste episódio também marca a despedida da comunidade de Jackson. Tanto para Ellie, quanto para a audiência, a estrada é tudo que temos no caminho por enquanto. Tommy está tendo seu próprio luto ao mesmo tempo que tenta reconstruir a comunidade. Dina agora ganha ainda mais propósito para estar com Ellie nessa jornada de vingança, depois de estar junto de Joel quando foi morto.Até personagens como Pete, o velho homofóbico, ganham destaque e redenção, ficando ao lado de Ellie na reunião comunitária e até ajudando com cavalos e suprimentos. Relações que deixam a trama mais forte, mostrando como as interconexões pessoais que Ellie fez são vitais nessa jornada.A discussão na reunião, onde decidem se devem ir atrás de Abby ou não, pra mim ficou muito mais numa intenção do que concretização de uma carga dramática. Questionar Ellie e sua busca, mostrando pontos de vista diferentes da questão vingança pessoal vs proteção da comunidade, pra mim só enfraquece o roteiro, deixando tudo mais óbvio possível. Peças no tabuleiroChegamos a um momento onde as principais peças desse tabuleiro estão em jogo. Os misteriosos Serafitas e sua fé instigam misticismo. A W.L.F e seu enorme contingente lembram a Fedra de longe, mas é em suas crenças que encontramos as diferenças essenciais. Ellie e Dina encaram a estrada e estão em rota de colisão irreversível.Antes da loucura, ainda houve tempo de um último momento de Ellie e Joel. Ao parar no cemit

Mai 2, 2025 - 21:06
 0
The Last of Us - 2x03: The Path | Episódio morno reflete sobre luto e propósito

Depois dos eventos traumáticos do último episódio, The Last of Us tem em seu terceiro episódio, chamado de “The Path”, o momento mais fraco da temporada até agora. Não se engane, não digo isso devido à lentidão da trama, ou do descanso depois da loucura, mas voltado, principalmente, a como a produção toma algumas decisões que, pra mim, giram o volante numa direção sinuosa.

Depois da morte de Joel e do ataque da horda de infectados, tanto Ellie quanto a comunidade de Jackson precisam encontrar forças e seguir em frente. Os interesses individuais entram em choque com as necessidades coletivas, e o episódio se mantém basicamente em cima dos questionamentos morais do que fazer a seguir.

Depois da tempestade



A primeira escolha que me faz pensar que a série perde força ao invés de ganhar é situar a caçada à Abby meses depois do ataque a Jackson. A urgência da morte de Joel e suas circunstâncias dificilmente pediam por uma pausa tão grande. Em três meses, muita coisa muda, as pessoas esfriam seus ânimos e atitudes de cabeça quente perdem efeito, algo que nessa história são componentes essenciais para vermos seres humanos cometendo os piores erros.

Meses depois do choque, Ellie passa por terapia, finge que está melhor e até participa de uma reunião toda boazinha para conseguir ir atrás de Abby. Até Tommy, com o tempo, tornou-se um papel mais de pai sábio do que o irmão vingativo que vemos nos jogos. Como ele não presenciou a morte de Joel, vemos que o que habita no personagem é muito mais tristeza do que ódio, como visto na excelente cena dele limpando o corpo de Joel.




Já Ellie é a que mais sofre com as escolhas narrativas, após um momento tão traumático, perdendo sua maior âncora emocional, a personagem não parece ter crescido e amadurecido em nada. Ela ainda faz as mesmas piadas e age, perante aos outros adultos, de fato como uma criança, algo que em sua jornada é quase um regresso. 

Ellie, acima de todos ali, foi a que passou por mais eventos traumáticos em sua vida, necessitando um amadurecimento rápido. Apesar da excelente performance de Bella Ramsay, quase nada ali me convence de que ela ainda não é uma criança rabugenta de 12 anos, e não uma assassina vingativa.

Serafitas e Lobos



Pela primeira vez, tivemos o vislumbre das duas principais facções dessa história: os Serafitas (ou cicatrizes) e a W.L.F, os lobos de Abby e companhia. Ainda estão em estágios iniciais de construção dramática, mas algo insiste em me incomodar na forma como a série parece ligar com os grupos e nossa protagonista.

Algo que o material consegue fazer de forma magnífica é não apontar culpados e ter uma trama recheada de nuances onde nunca fica claro quem está certo. Todo mundo é vilão na história de alguém. Entretanto, aqui eu sinto que, desde o início, a produção parece seguir um caminho onde a W.L.F é vilanizada, como um mal militar a ser impedido.




Não se engane, não tenho problema nenhum com mudanças em uma adaptação; na verdade, fico feliz quando seguem caminhos originais, porém, nesse quesito citado, me parece mais um retrocesso do componente dramático único alcançado pela produção da Naughty Dog, enquanto a série da HBO parece seguir um caminho mais convencional e menos empolgante sobre os lobos.

Espero que os próximos episódios sejam diferentes das minhas preocupações em relação a essas duas facções. Estou ansioso pra ver o Isaac de Jeffrey Wright e entender como os seus ideais na produção vão impactar tanto o futuro de Abby quanto de Ellie. Antes do conflito eclodir, a construção de ambos os lados é essencial.

Adeus, Jackson



Este episódio também marca a despedida da comunidade de Jackson. Tanto para Ellie, quanto para a audiência, a estrada é tudo que temos no caminho por enquanto. Tommy está tendo seu próprio luto ao mesmo tempo que tenta reconstruir a comunidade. Dina agora ganha ainda mais propósito para estar com Ellie nessa jornada de vingança, depois de estar junto de Joel quando foi morto.

Até personagens como Pete, o velho homofóbico, ganham destaque e redenção, ficando ao lado de Ellie na reunião comunitária e até ajudando com cavalos e suprimentos. Relações que deixam a trama mais forte, mostrando como as interconexões pessoais que Ellie fez são vitais nessa jornada.

A discussão na reunião, onde decidem se devem ir atrás de Abby ou não, pra mim ficou muito mais numa intenção do que concretização de uma carga dramática. Questionar Ellie e sua busca, mostrando pontos de vista diferentes da questão vingança pessoal vs proteção da comunidade, pra mim só enfraquece o roteiro, deixando tudo mais óbvio possível. 

Peças no tabuleiro



Chegamos a um momento onde as principais peças desse tabuleiro estão em jogo. Os misteriosos Serafitas e sua fé instigam misticismo. A W.L.F e seu enorme contingente lembram a Fedra de longe, mas é em suas crenças que encontramos as diferenças essenciais. Ellie e Dina encaram a estrada e estão em rota de colisão irreversível.

Antes da loucura, ainda houve tempo de um último momento de Ellie e Joel. Ao parar no cemitério fora de Jackson, a garota reflete sobre a jornada e deixa no túmulo do antigo companheiro alguns grãos de feijão, uma referência interessante ao jogo, mas que simboliza muito sobre o que passa na cabeça da personagem. 

Ellie é alguém que, mesmo depois de três meses de terapia, não foi capaz de seguir em frente. A dor da perda e o ódio motivam uma vingança que só alimenta o ciclo doentio nesse mundo. Mas não é de se admirar, desde o seu nascimento a garota só aprendeu sobre morte e violência, e agora foi tirado dela a única parte que a fazia ser alguém melhor. Não há final feliz à frente, só vingança.




Revisão: Alessandra Ribeiro