Você já sonhou que não conseguia se mover? Esse é o significado, segundo a psicologia

O sono é muito mais do que um simples descanso. Ele regula funções vitais do corpo, influencia o metabolismo e até impacta nossas escolhas alimentares. De acordo com o livro Por Que Dormimos, do especialista Matthew Walker, dormir bem equilibra os níveis de insulina e glicose no sangue, controla o apetite e ajuda a manter uma dieta saudável.

Enquanto descansamos, porém, outro universo se abre: o dos sonhos. Toda noite, uma pessoa comum experimenta de três a seis episodios de sonhos, cada um durando entre 5 e 20 minutos, segundo Hannah Nicols, jornalista especializada em saúde do site Medical News Today. Apesar dessa frequência, 95% dos sonhos desaparecem da memória minutos após acordar. Alguns, porém, especialmente os mais assustadores, podem ficar gravados na mente por dias — como a sensação angustiante de estar preso em um corpo que não responde.

O pesadelo da imobilidade

Um dos cenários mais perturbadores que podem surgir durante o sono é a sensação de não conseguir se mover. Imagine acordar no meio da noite, consciente, mas incapaz de levantar um braço, gritar ou até mesmo abrir os olhos. Essa experiência, que mistura realidade e fantasia, tem despertado interpretações variadas. O psicólogo Nahum Montagud Rubio, colaborador do site Psicología y Mente, explora possíveis significados por trás desse fenômeno. Embora a interpretação dos sonhos seja uma prática sem base científica comprovada — comparável a disciplinas como astrologia —, ela oferece pistas sobre como nosso cérebro processa emoções e experiências cotidianas.

O que significa não conseguir se mover em um sonho?

As explicações propostas por Montagud Rubio não são regras universais, mas reflexões baseadas em padrões observados em pacientes e estudos. A primeira delas está ligada à impotência e frustração. Segundo o psicólogo, a paralisia nos sonhos pode simbolizar a incapacidade de resolver conflitos reais. “Quando não conseguimos lidar com situações que geram ansiedade, o sentimento de estagnação pode se materializar como imobilidade durante o sono”, explica.

Outra interpretação conecta a paralisia onírica à baixa autoestima. A inabilidade de reagir no sonho refletiria uma percepção de inferioridade ou falta de confiança em situações sociais. Em um estado onde a mente está mais vulnerável, como durante o sono, inseguranças profundas ganham forma simbólica.

Há também a teoria de que o corpo paralisado nos sonhos indica dificuldade para expressar emoções negativas. Raiva, medo ou angústia reprimidos podem se traduzir em uma incapacidade de agir, mesmo no mundo imaginário. “Não é possível gritar, fugir ou confrontar o que causa dor. A paralisia seria um aviso de que emoções estão sendo sufocadas”, comenta Rubio.

Algumas interpretações menos óbvias sugerem que a imobilidade está ligada ao medo das consequências das próprias ações. Nesse caso, a paralisia funcionaria como um mecanismo de autoproteção, impedindo que o sonhador faça ou diga algo prejudicial — uma espécie de “freio” inconsciente.

Em situações onde o sonho envolve outras pessoas paralisadas, o significado pode apontar para empatia excessiva ou culpa. Ver alguém próximo imóvel, por exemplo, poderia indicar um sentimento de responsabilidade por não ajudar essa pessoa em uma dificuldade real.

Por fim, há uma explicação mais direta: cansaço extremo. Defensores da parapsicologia argumentam que uma rotina exaustiva, cheia de estresse físico e mental, pode se infiltrar nos sonhos. “O corpo e a mente estão tão sobrecarregados que, mesmo dormindo, a sensação de fadiga persiste”, destaca Rubio.

Quando o sonho vira realidade: a parálisis do sono

Enquanto as interpretações variam, existe um fenômeno real e cientificamente estudado que explica parte dessas experiências: a paralisia do sono. De acordo com a Biblioteca Nacional de Medicina dos Estados Unidos, ela ocorre quando uma pessoa acorda durante a fase REM — estágio do sono marcado por movimentos oculares rápidos e sonhos vívidos. Nessa fase, o cérebro induz uma paralisia muscular temporária (chamada de atonia) para evitar que o corpo represente fisicamente os sonhos.

A paralisia do sono acontece quando há um descompasso nesse processo: a mente desperta, mas o corpo permanece imóvel. A pessoa fica consciente, consegue abrir os olhos e ouvir sons ao redor, mas não consegue mover nenhum músculo. Episódios assim duram de segundos a alguns minutos e costumam vir acompanhados de sensações assustadoras, como:

• Alucinações: a impressão de que há uma “presença” no quarto, muitas vezes descrita como uma figura sombria ou ameaçadora (fenômeno conhecido como “Incubo”).
• Pressão no peito: a clássica sensação de algo apertando o tórax, dificultando a respiração.
• Medo intenso: reação comum ao perceber a imobilidade, mesmo que não haja perigo real.

O que desencadeia a parálise do sono?

A ciência ainda não identificou uma causa única para o problema, mas fatores de risco incluem privação de sono, estresse, ansiedade, consumo excessivo de álcool e histórico familiar. Pessoas que trabalham em turnos noturnos ou têm rotinas irregulares de descanso também estão mais suscetíveis. Traumas psicológicos, como episódios de violência ou acidentes, podem aumentar a ocorrência do fenômeno.

Embora assustadora, a parálise do sono não é considerada perigosa. Recomenda-se manter a calma durante os episódios, focando em respirar lentamente até que o corpo recupere o movimento. Para reduzir a frequência, especialistas sugerem melhorar a higiene do sono: estabelecer horários regulares, evitar telas antes de dormir e criar um ambiente escuro e silencioso no quarto.

Seja como manifestação de angústias inconscientes ou como um fenômeno fisiológico, a experiência de não conseguir se mover durante o sono revela o poder complexo — e ainda misterioso — do cérebro humano. Enquanto a ciência avança na compreensão dos mecanismos do sono, cada descoberta reforça uma verdade simples: dormir bem é essencial não só para o corpo, mas para a mente.

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