Covid: novos anticorpos podem neutralizar o vírus

Novos anticorpos impedem vírus da Covid de infectar células; vacinas futuras podem oferecer proteção contra múltiplas variantes Covid: novos anticorpos podem neutralizar o vírus

Mar 17, 2025 - 09:16
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Covid: novos anticorpos podem neutralizar o vírus

Pesquisadores da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, fizeram uma descoberta que pode levar um avanço significativo no combate à Covid: dois novos anticorpos, identificados em pacientes que se recuperaram da doença, são capazes de neutralizar o vírus SARS-CoV-2, impedindo-o que ele volte a infectar células humanas.

A parte mais interessante, eles se ligam a uma porção do vírus que essencialmente não muda, ou seja, novas vacinas poderiam ser eficazes contra múltiplas variantes, atuais e futuras.

Vírus SARS-CoV-2, que causam a Covid, vistos por um microscópio eletrônico (Crédito: National Institute of Allergy and Infectious Diseases/Rocky Mountain Laboratories)

Vírus SARS-CoV-2, que causam a Covid, vistos por um microscópio eletrônico (Crédito: National Institute of Allergy and Infectious Diseases/Rocky Mountain Laboratories)

Anticorpos afetam variantes da Covid

Como já falamos várias vezes, o SARS-CoV-2 se tornou um problema e causou uma pandemia global, que matou mais de 7 milhões de pessoas em todo o mundo, desde a identificação original (dados de março de 2025), por uma série de fatores, um deles sua alta taxa de mutação. Diferente de alguns outros vírus, ele evolui muito rapidamente, e em um prazo de míseros 5 anos, foram identificadas uma penca de variantes. E elas continuam surgindo.

Embora a resposta da Ciência tenha vindo rapidamente, mesmo as vacinas de mRNA, que estão entre as mais avançadas e confiáveis, são limitadas à variante que foram designadas para neutralizar. Como explicamos, ela funciona injetando o RNA mensageiro nas células, instruindo-as a reproduzirem partículas do SARS-CoV-2 que são prontamente combatidas pelo sistema imunológico.

Quando os vírus da Covid chegam para valer, as defesas do organismo já têm um dossiê dos meliantes em mãos, e sentam a porrada sem dó.

Mais ou menos assim (Crédito: Reprodução/Kodansha/David Production/Aniplex/Crunchyroll/Sony)

Mais ou menos assim (Crédito: Reprodução/Kodansha/David Production/Aniplex/Crunchyroll/Sony)

O problema acontece quando o vírus possui uma taxa alta de mutação, como o Influenza, que causa a gripe comum; usando outra vez Cells at Work!! como exemplo (um anime excelente, e com referências médicas incrivelmente precisas, recomendado), o do próximo ano vai chegar com um "chapéu" diferente, o suficiente para que o sistema imunológico não mais reconheça a ameaça.

O vírus da Covid opera da mesma forma, ele muta com grande velocidade, e por ser mais letal, isso é um problemão para todo mundo. Cada vacina de mRNA usa fragmentos de uma variante, e a resposta imunológica nos inoculados será gerada em resposta somente à presente na dose, e não funciona nas outras. Porém, já se sabia que o SARS-CoV-2 não muda por completo; a proteína "spike" chamada domínio-N terminal, ou NTD, permanece igual.

As vacinas ensinam o sistema imunológico a identificar e combater essa enzima, mas o problema está em outra proteína, chamada RBD, esta a que se conecta a uma célula e a infecta, e esta, sim, muda entre variantes.

O que os pesquisadores de Stanford identificaram (cuidado, PDF), em amostras coletadas de sobreviventes da Covid, foi a presença de dois anticorpos que agem como um par, e são capazes de desativar o vírus por completo.

 

Diagrama mostra como os anticorpos se conectam a variantes do SARS-CoV-2, impedindo-o de infectar células (Christopher O. Barnes/Adonis Rubio/Stanford University)

Diagrama mostra como os anticorpos se conectam a variantes do SARS-CoV-2, impedindo-o de infectar células (Christopher O. Barnes/Adonis Rubio/Stanford University)

Um deles, chamado CoV2-biRN5 (ilustrado em roxo na imagem acima), se conecta ao NTD, enquanto o outro, CoV2-biRN7, faz uma ligação com o RBD, independente de como ele seja, pois este está "sustentado" pela ligação com o outro anticorpo, fixado ao NTD, e dessa forma, o SARS-CoV-2 se torna incapaz de se conectar a uma célula, porque a "chave" dele foi "ocupada".

Melhora: os cientistas comprovaram que ambos anticorpos mantêm suas características in vitro, fora do corpo humano, e num teste realizado em ratos infectados com uma única variante Omicron, os anticorpos conseguiram reduzir a carga viral da Covid nos pulmões dos espécimes.

A descoberta abre novas possibilidades de tratamentos universais, e também podem viabilizar o desenvolvimento de novas vacinas, que oferecerão uma camada de proteção a múltiplas variantes; a médio prazo, elas forçariam a interrupção da circulação do vírus, diminuindo em muito a ocorrência de mutações, o que tornaria a doença facilmente controlável.

Segundo o Dr. Christopher O. Barnes, professor-auxiliar do Departamento de Biologia de Stanford, e líder do estudo, se vírus mutam constantemente para manter sua população, os anticorpos desenvolvidos por sua equipe deverão também evoluir, para ficarem sempre no mesmo nível e controlar a Covid. Mais uma vez, ponto para a Ciência.

Referências bibliográficas

RUBIO, A. A., BAHARANI, V. A., DADONAITE, B. et al. Bispecific antibodies targeting the N-terminal and receptor binding domains potently neutralize SARS-CoV-2 variants of concern. Science Translational Medicine, Volume 17, Edição 788, 17 páginas, 5 de março de 2025.

DOI: 10.1126/scitranslmed.adq5720

Fonte: Stanford Report, ExtremeTech

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