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GTA VI permanece fora das atenções há muito tempo. A Rockstar divulgou seu primeiro trailer em 2023 e, desde então, nenhuma informação oficial adicional foi compartilhada. A sequência de GTA V está em desenvolvimento há anos, e embora alguns vazamentos não oficiais tenham dado aos fãs vislumbres do jogo, o silêncio da produtora alimenta uma grande ansiedade. Surge então a pergunta: vale a pena abrir mão de estratégias de marketing em troca de tanto mistério?
Marketing anteriores
A Rockstar Games construiu sua reputação não apenas com jogos inovadores, mas com uma estratégia de marketing calculista. Desde os primórdios da franquia Grand Theft Auto, a empresa adotou o minimalismo como filosofia: revelações pontuais, trailers cinematográficos e uma aura de mistério que transforma cada anúncio em evento cultural.
No caso de
Red Dead Redemption 2, por exemplo, o primeiro trailer surgiu dois anos antes do lançamento, seguido por uma campanha que alternava silêncio e explosões de conteúdo. A produtora lançava
screenshots enigmáticas em seu site, atualizadas diariamente, enquanto mantinha a imprensa longe de gameplays completos. Essa dosagem de informações mantinha o jogo nos
trending topics sem esgotar a curiosidade do público.
Antes disso, GTA V seguiu um roteiro similar, mas adaptado à era pré-redes sociais dominantes. A Rockstar liberava trailers curtos com cenas icônicas — como o assalto ao banco ou as paisagens de Los Santos —, enquanto vazamentos controlados de imagens alimentavam fóruns especializados. A diferença é que, na época, a empresa ainda podia controlar o ritmo das revelações.
A grande lição desses casos? Menos é mais, mas só quando há precisão cirúrgica. A Rockstar entende que o silêncio gera desejo, transformando fãs em detetives obsessivos. Porém, em 2025, com a internet acelerando expectativas, será que essa fórmula ainda sustenta o hype sem frustrar a base de jogadores?

O grande ego
Quando GTA V foi lançado em 2013, prometia revolucionar não só a narrativa dos games, mas também sua longevidade. Inicialmente, a Rockstar sugeriu planos ambiciosos: DLCs de história no nível de The Ballad of Gay Tony (2008), que expandiriam o universo de Los Santos. Porém, o foco mudou radicalmente com o sucesso estrondoso do GTA Online.
O modo multiplayer, lançado semanas após o jogo principal, tornou-se uma revolução monetária. Com a introdução dos Shark Cards (microtransações que aceleram progressão), atualizações gratuitas como The Diamond Casino Heist (2019) e eventos sazonais, o título gerou US$ 8 bilhões em receita — ultrapassando blockbusters do cinema e até mesmo outros jogos da Rockstar.
Esse sucesso, porém, teve um custo artístico. Enquanto o Online recebia novos heists, carros e modos competitivos, o modo história foi abandonado. Fãs que esperavam uma expansão single-player para Michael, Franklin ou Trevor viram-se frustrados, e a crítica apontou que a Rockstar priorizou o lucro em detrimento da inovação narrativa.
A lição aqui é clara: a Rockstar descobriu que um jogo pode ser uma plataforma de serviços, não um produto finito. Mas isso levanta dúvidas sobre o futuro: o GTA VI será moldado para replicar esse modelo, ou a empresa retomará o foco em experiências offline imersivas, como fez com Red Dead Redemption 2?
O monstro está saindo da jaula?
Em setembro de 2022, o maior vazamento da história dos games expôs a realidade do desenvolvimento do GTA VI: mais de 90 vídeos brutos, mostrando desde mecânicas de dirigir até testes de animação, vazaram no fórum GTAForums. A Rockstar, conhecida pelo controle férreo sobre sua imagem, viu-se obrigada a admitir a autenticidade do material — um golpe raro em sua armadura de mistério.
Desde o lançamento do trailer oficial em 2023, a internet transformou-se em um campo de caça a pistas. Cada frame foi dissecado: teorias sobre o retorno a Vice City (última vez vista em GTA: Vice City Stories, 2006), a dinâmica entre os protagonistas Jason e Lucia, e até a física realista de objetos cotidianos, como copos quebrados, foram analisadas em vídeos de YouTube com milhões de visualizações.
A ansiedade é tanta que até qualquer movimento da equipe do desenvolvimento são interpretados como pistas. Redes como o Reddit viraram um campo de caça a leaks, enquanto a Rockstar mantém um silêncio que só amplifica a especulação. O paradoxo é claro: quanto menos a empresa fala, mais o público cria expectativas — muitas vezes irrealistas. Resta saber se o jogo conseguirá corresponder a tanto frenesi, ou se o silêncio está preparando o terreno para uma decepção épica.

Vale ficar ansioso por GTA VI?
A resposta depende de como você encara a relação entre hype e realidade. Por um lado, a Rockstar tem um legado de excelência: títulos como
GTA: San Andreas e Red Dead Redemption 2 provam que a empresa entrega experiências revolucionárias, mesmo após anos de espera. O trailer de 2023 já exibe gráficos que desafiam o limite do hardware atual e uma atenção a detalhes (como expressões faciais e interações ambientais) que prometem imersão inédita.
Por outro, a história recente dos games alerta para os riscos da superexpectativa.
Cyberpunk 2077 é um exemplo clássico: hypado como "revolucionário", o jogo lançou cheio de bugs e falhou em cumprir promessas, manchando a reputação da CD Projekt Red. O silêncio da Rockstar pode estar alimentando um ciclo similar, onde a comunidade idealiza um jogo "perfeito" que, na prática, enfrentará limitações técnicas e de design.
A boa notícia é que o lançamento oficial ainda está previsto para 2025, e a Rockstar tende a intensificar o marketing cerca de 6 a 8 meses antes da data final. Isso significa que, ainda esse ano, é provável que trailers detalhados, entrevistas com desenvolvedores e até gameplays comecem a surgir — ainda que de forma dosada.
Enquanto isso, talvez a lição seja equilibrar entusiasmo com pragmatismo. A Rockstar merece crédito por seu histórico, mas a indústria dos games é imprevisível. Afinal, até o maior monstro — quando finalmente solto da jaula — pode surpreender, seja para o bem ou para o mal.
Revisão: Vitor Tibério