Lunar Remastered Collection – Review
Apesar do nome sugerir algo maior em números, LUNAR Remastered Collection, lançado agora para PS4, traz dois jogos: Lunar: Silver Star Story e Lunar 2: Eternal Blue. São clássicos dos JRPG da década de 1990, então senta que lá vem história! Primeiramente, ambos foram lançados para Sega CD em 1992 e 1994, respectivamente. Traziam cutscenes …

Apesar do nome sugerir algo maior em números, LUNAR Remastered Collection, lançado agora para PS4, traz dois jogos: Lunar: Silver Star Story e Lunar 2: Eternal Blue. São clássicos dos JRPG da década de 1990, então senta que lá vem história!
Primeiramente, ambos foram lançados para Sega CD em 1992 e 1994, respectivamente. Traziam cutscenes em anime elaboradas para os padrões da época, além de dublagem e músicas com a qualidade de som superior permitida pelo CD. Os dois jogos não ficaram presos a essa plataforma restrita e, já em em 1996, Lunar 1 ganhou um remake completo para Sega Saturn e PlayStation, enquanto o segundo teve sua vez em 1998 (sim, remakes fazem parte da indústria de games desde aquela época).
Assim como aconteceu com Grandia HD Collection, outro relançamento de jogos desenvolvidos pela Game Arts e publicados pela GungHo, que eu também analisei, a palavra “coleção” não combina com um pacote que traz dois jogos e deixa outros da série de fora.
No caso de Lunar Remastered Collection, porém, isso tem menos importância, pois apenas a duologia tem relevância suficiente para merecer o relançamento. Jogos como Lunar Legend (Game Boy Advance) e Lunar: Dragon Song (Nintendo DS) não alcançaram a qualidade dos seus predecessores, enquanto Lunar: Sanposuru Gakuen (Game Gear, com remake para Sega Saturn) nunca saiu do Japão.
Há, porém, uma ausência digna de nota: o segundo remake de Lunar 1, lançado em 2009 apenas para PSP sob o título Lunar: Silver Star Harmony – voltaremos a falar dele adiante.
A premissa da série, como o nome Lunar indica, é de histórias que se passam na lua, numa versão do nosso satélite que é verdejante e habitável, embora ainda tenha uma região cinzenta de rochas estéreis e crateras de impacto. De lá, basta olhar para cima para ver a enorme Estrela Azul, que nada mais é do que uma versão fantasiosa da Terra.
Foi a deusa Althena quem preparou o mundo de Lunar para o povo da Estrela viver em exílio. Ela é protegida pelos dragões e por um cavaleiro escolhido por eles, o Dragonmaster. Anos atrás, a deusa esteve em perigo e um grupo de heróis se juntou ao Dragonmaster Dyne para resgatá-la. Alex, protagonista do primeiro jogo, é um rapaz comum da mesma vila de onde um dia Dyne veio, e treina para um dia seguir suas próprias aventuras.
Dá para perceber que é tudo bem “anime de 1990”, não é? Tem um garoto com o sonho de ser herói, armaduras e espadas mágicas, feiticeiros elementais, mascote falante, garoto metido, garoto delinquente, garota em perigo, garota meiga, garota geniosa e muitas roupas e cabelos coloridos.
A história entretém e tem até algumas boas surpresas, mas segue a cartilha da aventura juvenil de salvar o mundo com espada e magia. A graça mesmo está no carisma da apresentação, com personagens que são cativantes mesmo sem fugir aos clichês, bem representados por pequenos retratos nas caixas de diálogos e uma boa dublagem nos momentos-chave. É a simplicidade caprichada que faz de Lunar 1 um jogo agradável e memorável, além das músicas animadas.
O sistema de batalhas também é um produto de sua época. As lutas são em turno e primeiro escolhemos todas as ações do grupo de até cinco personagens, para em seguida vermos seu desenrolar. É o menu básico: ataque comum; técnicas especiais e magias que consomem MP e são específicas de cada personagem, aprendidas ao passar de nível; itens consumíveis e, ainda, um sistema de seleção automática individual para agilizar as coisas.
No começo, os embates não são lá muito interessantes, sem dar muitas alternativas ao uso contínuo de ataques normais. Depois, a coisa melhora um pouco com os ataques de área, pois os combatentes andam pelo cenário para realizar suas ações e o posicionamento dos oponentes se torna uma variável importante para lutar com eficiência e conseguir atingir vários deles ao mesmo tempo. Nada muito rebuscado, mas satisfatório para quem curte o estilo.
Já Lunar 2 sai um pouco dos trilhos mais convencionais de seu antecessor e entrega uma trama um pouco diferente, que vai para mil anos no futuro a fim de contar a história antiga do contexto entre Lunar e a Estrela Azul, expandindo a construção de mundo. É uma campanha mais longa e desafiadora, ficando em torno das 40 horas de duração, enquanto o primeiro jogo era mais direto e não passava das 30 horas.
Embora Lunar 2 utilize a mesma estrutura e possa ser jogado de forma independente, ele tem referências diretas ao jogo anterior, então recomendo seguir a ordem de lançamento.
A dupla presente em Lunar Remastered Collection é diretamente vinda das versões de PlayStation, que traziam o subtítulo de “Complete”. É importante dar atenção ao “remastered” e entender que não se trata de um remake, então o que temos são basicamente os mesmíssimos jogos de 1996 e 1998, com suas gloriosas cenas em anime. Há algumas mudanças dignas de nota.
No campo visual, são duas. A primeira é mais óbvia: a resolução adequada às plataformas atuais, com formato widescreen. As cenas de anime mantiveram o formato original de 4:3, mas foram melhoradas com louvor e agora as vemos em todos os detalhes que se perdiam nas edições anteriores. Muitos remasters para o mundo da alta resolução acabam evidenciando as falhas e limitações, mas, no caso dessas cenas, ocorreu o contrário e, agora, estão cristalinas e melhores do que nunca.
A segunda adição visual é um efeito de desfoque nos cantos superior e inferior da tela nos cenários de ambientes externos e de batalhas. Essa é uma técnica fotográfica para efeito de miniatura e, aqui, acaba sendo um filtro simples, longe de algo como o HD-2D, mas eu gostei de como ele suaviza levemente os cenários rústicos e retilíneos e combina com o estilo lúdico em geral, deixando o visual retrô mais agradável.
No campo da qualidade de vida, a dupla de Lunar também recebeu novidades. As narrações e falas das cenas de anime agora possuem opção de legendas (infelizmente, sem português brasileiro, mas isso já era esperado para o contexto do jogo) e é possível remapear os comandos do jogo, algo importante que, sinceramente, eu não esperava ver aqui.
As batalhas agora possuem uma opção de acelerar o tempo, ativada instantaneamente com o mero apertar de um botão. Mesmo que Lunar não sofra do mal das batalhas aleatórias (tem quem goste, eu sei), a aceleração é muito bem vinda para a sensibilidade moderna. Não creio que seja apenas uma questão de atender à nossa impaciência dos tempos atuais, mas de superar um design de repetição frequente que podia fazer sentido para as limitações da época, mas, hoje, com tantas formas mais interessantes de fazer batalhas por turnos, não faz mais o mesmo sentido de antes. Voltarei ao combate mais adiante.
Outra mudança opcional está no inventário de itens de batalha, que tem a opção Original, na qual cada personagem carrega seu número limitado de itens, levando a um gerenciamento mais exigente, e a Remastered, em que todos têm acesso a um mesmo inventário ampliado. É algo que depende unicamente da preferência de cada pessoa e pode ser modificado no menu. Também é possível salvar o progresso em praticamente qualquer lugar, mas isso já era algo presente nos jogos originais.
As melhorias em Lunar Remastered Collection passam longe de serem revolucionárias, mas são muito bem-vindas para o cenário atual, especialmente considerando como Grandia HD Collection careceu de praticamente todas elas e não foi tão competente no upscale da resolução de suas texturas e de cenas animadas. Como remasterização pela GungHo, portanto, Lunar é um trabalho bem melhor que Grandia.
Mas espere, eu quase esqueci de falar de mais conteúdo do pacote! É algo esquecível mesmo: a coleção traz as versões originais de PlayStation dos dois jogos. Elas precisam ser escolhidas no menu principal e o salvamento é compartilhado com suas respectivas edições remasterizadas, então a escolha inicial não é definitiva e podemos transitar entre uma e outra com o mesmo progresso se assim quisermos. Honestamente, nem imagino por qual motivo alguém escolheria os originais, visto que a gameplay é igual e a perda visual é grande. O formato 4:3 fica com bordas pretas ou de céu estrelado e as cenas de anime chegam a parecer animação em pixel art de tão sofrível que é a resolução. Compare abaixo:
Se a dublagem original tivesse sido mantida nela eu até entenderia a preferência de fãs de longa data, mas o pacote inteiro conta apenas com uma dublagem nova. Eu, que sou apegado às vozes do PlayStation, gostei do trabalho feito agora, que não destoa do antigo. A música tema cantada por Luna é a mesma, mas até prefiro a nova cantora.
Ainda levei um tempo para me acostumar à voz de Nall, o “gato voador” que serve de mascote em Lunar 1. Por outro lado, em Lunar 2, eu não gostava da voz anterior da co-protagonista Lucia, então a mudança foi positiva para mim.
É agora que voltamos a Lunar: Silver Star Harmony, o jogo de PSP. Essa versão teve alguns problemas, como a diminuição do desafio, uma dublagem diferente (a voz de Nall…) e a eliminação do mapa de mundo jogável, colocando em seu lugar apenas um cursor de seleção de localidades. No entanto, o jogo do portátil conseguiu ter visuais muito mais detalhados e ainda manter o charme do original, além de acrescentar grandes retratos de personagens nos diálogos e ataques especiais nas lutas. Seria, portanto, uma adição muito mais interessante à Remastered Collection do que ambas as versões originais de PlayStation.
Assim, enquanto Lunar 2: Eternal Blue tem em LUNAR Remastered Collection sua melhor versão, Lunar: Silver Star Story não carrega a mesma certeza, podendo haver quem prefira Lunar: Silver Star Harmony, um belo remake que, infelizmente, está restrito ao PSP até hoje. Como opção atual, portanto, LUNAR Remastered Collection é recomendável a quem aprecia a série e também a quem gostaria de revisitar tempos de JRPGs mais simples com aventuras consistentes, bem-apresentadas e muito carismáticas.
Lunar Remastered Collection está disponível para PS4, Xbox One, Switch e PC. Esta análise é da versão de PS4 e foi realizada com um código fornecido pela GungHo Online Entertainment.