O mistério do naufrágio que foi descoberto sob as ruínas do 11 de Setembro

Este ano marca o 24º aniversário dos ataques de 11 de setembro de 2001, um evento que transformou o mundo em aspectos que vão desde a segurança global até a forma como viajamos de avião. Enquanto as Torres Gêmeas do World Trade Center desabavam naquele dia, deixando uma cidade em luto e um legado de mudanças profundas, poucos imaginariam que, quase uma década depois, uma descoberta surpreendente emergiria das profundezas do local.

Em 2010, durante os trabalhos de reconstrução do Marco Zero, operários encontraram algo inesperado a 6,7 metros abaixo do solo: os restos de um navio de madeira, preservado por séculos sob camadas de entulho e terra. A embarcação, parcialmente intacta, media cerca de 9,7 metros de comprimento e rapidamente se tornou um mistério para historiadores e arqueólogos. Como um navio centenário foi parar debaixo de um dos locais mais simbólicos de Nova York?

Anos após o 11 de Setembro, uma descoberta estranha foi feita sob os escombros (ABC).

Após quatro anos de análises, pesquisadores revelaram detalhes fascinantes. A madeira do casco, principalmente carvalho branco, foi datada da década de 1770 — período próximo à assinatura da Declaração de Independência dos Estados Unidos. Os anéis das árvores usadas na construção coincidiram com os de amostras retiradas do Independence Hall, edifício histórico da Filadélfia onde documentos fundamentais do país foram assinados. Isso indicou que a madeira veio da mesma região, sugerindo que o navio foi construído em estaleiros da área.

Identificado como um “Hudson River sloop”, o barco tinha design holandês, adaptado para navegar nas águas rasas e pedregosas do rio Hudson. Essas embarcações eram comuns no transporte de carga e passageiros entre Nova York e Albany no século XVIII. Mas como ela acabou soterrada no sul de Manhattan?

A hipótese mais aceita é que, após 20 a 30 anos de uso, o navio foi abandonado ou afundou acidentalmente na costa de Manhattan, então uma área portuária movimentada. Com o tempo, o casco deteriorado foi coberto por lixo, sedimentos e materiais de aterro usados para expandir a ilha. Entre os séculos XVIII e XIX, partes de Manhattan foram ampliadas artificialmente, enterrando antigas docas e margens sob camadas de rocha e entulho. O local onde o navio repousava gradualmente se transformou em terra firme — e décadas depois, ali surgiriam as fundações do World Trade Center.

Em 2010, quando trabalhadores da construção civil estavam reconstruindo o local, eles encontraram um antigo navio de madeira (LMDC/Columbia University).

Um detalhe curioso reforçou essa teoria: ostras fossilizadas foram encontradas presas ao casco. Esses moluscos, que vivem em águas salobras, indicam que o navio permaneceu submerso por anos antes de ser soterrado. O acúmulo de conchas e sedimentos ajudou a preservar a madeira, criando uma cápsula do tempo sob a movimentada metrópole.

Para os arqueólogos que trabalharam no local, a descoberta foi uma experiência surreal. Molly McDonald, uma das especialistas presentes à escavação, descreveu o contraste entre o ambiente urbano e o passado revelado: “Estar em um local tão carregado de história recente, cercado por arranha-céus, e de repente encontrar evidências de um rio com peixes, mariscos e o cheiro da maré baixa… foi uma junção incrível de épocas”.

Hoje, partes do navio estão expostas no Museu do Estado de Nova York, em Albany, onde visitantes podem ver de perto essa relíquia enterrada por mais de 200 anos. A embarcação não apenas conta a história do comércio marítimo do século XVIII, mas também revela como a geografia de Manhattan foi moldada pela ação humana — camada após camada, até que um dia, no lugar onde um rio outrora fluía, ergueu-se um símbolo da modernidade que, ironicamente, guardava um segredo ancestral em suas fundações.

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