Telescópio James Webb Desvenda a Verdadeira Natureza do “Tornado Cósmico”
O Telescópio Espacial James Webb (JWST) continua a surpreender a comunidade científica com imagens de tirar o fôlego e descobertas revolucionárias. Recentemente, esse observatório espacial flagship da NASA/ESA/CSA capturou em detalhes sem precedentes um fenômeno apelidado de “Tornado Cósmico”, revelando sua verdadeira natureza e solucionando um mistério astronômico de quase 20 anos (NASA’s Webb Telescope […] O post Telescópio James Webb Desvenda a Verdadeira Natureza do “Tornado Cósmico” apareceu primeiro em SPACE TODAY - NASA, Space X, Exploração Espacial e Notícias Astronômicas em Português.

O Telescópio Espacial James Webb (JWST) continua a surpreender a comunidade científica com imagens de tirar o fôlego e descobertas revolucionárias. Recentemente, esse observatório espacial flagship da NASA/ESA/CSA capturou em detalhes sem precedentes um fenômeno apelidado de “Tornado Cósmico”, revelando sua verdadeira natureza e solucionando um mistério astronômico de quase 20 anos (NASA’s Webb Telescope Unmasks True Nature of the Cosmic Tornado – NASA Science). A imagem mostra um jato de material saindo de uma estrela recém-nascida – conhecido como objeto Herbig-Haro 49/50 (HH 49/50) – alinhado por coincidência a uma galáxia espiral distante ao fundo, criando a ilusão de um tornado no espaço (NASA’s Webb Telescope Unmasks True Nature of the Cosmic Tornado – NASA Science) (NASA’s Webb Telescope Unmasks True Nature of the Cosmic Tornado – NASA Science). Esta descoberta destaca o poder do Webb em iluminar os processos de formação estelar e exemplifica seu papel central na astrofísica moderna.
A missão do Telescópio Espacial James Webb
Inaugurado em 2021 e posicionado a cerca de 1,5 milhão de quilômetros da Terra, o Telescópio James Webb é o mais avançado observatório espacial em operação. Fruto de uma colaboração internacional entre a NASA (Estados Unidos), ESA (Europa) e CSA (Canadá), o Webb foi projetado para explorar o universo em comprimentos de onda do infravermelho, permitindo enxergar através de nuvens de poeira cósmica e investigar desde as primeiras galáxias formadas após o Big Bang até planetas extrassolares e berçários estelares próximos (NASA’s Webb Telescope Unmasks True Nature of the Cosmic Tornado – NASA Science). Com um espelho gigante de 6,5 metros e instrumentos de altíssima sensibilidade, o Webb consegue resolver detalhes que escapavam a telescópios anteriores como o Hubble (que observa principalmente no óptico) e o Spitzer (infravermelho de menor resolução). Sua missão principal inclui desvendar mistérios da origem do universo, examinar a composição de outras atmosferas planetárias e, como neste caso, aprofundar nossa compreensão sobre o nascimento de estrelas e sistemas planetários (NASA’s Webb Telescope Unmasks True Nature of the Cosmic Tornado – NASA Science). Em pouco tempo de operação, o JWST vem entregando dados e imagens extraordinárias que revolucionam diversos campos da astrofísica.
Um berçário estelar em Camaleão: a região HH 49/50
O fenômeno conhecido como “Tornado Cósmico” foi observado na região do objeto Herbig-Haro 49/50 (HH 49/50), localizada a aproximadamente 625 anos-luz da Terra, na constelação austral do Camaleão (NASA’s Webb Telescope Unmasks True Nature of the Cosmic Tornado – NASA Science). Essa região faz parte do complexo de nuvens moleculares Camaleão I, um dos berçários estelares ativos mais próximos de nós na Via Láctea (NASA’s Webb Telescope Unmasks True Nature of the Cosmic Tornado – NASA Science). Trata-se de uma vasta nuvem de gás e poeira onde inúmeras estrelas jovens de baixa massa (semelhantes ao Sol) estão se formando. Os astrônomos acreditam que o ambiente desse complexo seja parecido com aquele em que o nosso Sol se formou há bilhões de anos (NASA’s Webb Telescope Unmasks True Nature of the Cosmic Tornado – NASA Science). Ou seja, ao estudar regiões como Camaleão I, podemos vislumbrar um cenário análogo ao do nascimento do Sistema Solar.
Dentro dessa maternidade de estrelas, o HH 49/50 se destaca como o produto de um jato energético lançado por uma protoestrela próxima. Observações anteriores mostraram que o fluxo de matéria em HH 49/50 afasta-se da Terra a velocidades entre 100 e 300 km/s, esculpindo a nuvem ao seu redor (NASA’s Webb Telescope Unmasks True Nature of the Cosmic Tornado – NASA Science). Esse jato é apenas uma parte de um escoamento bipolar maior, associado a um astro em formação nos arredores (NASA’s Webb Telescope Unmasks True Nature of the Cosmic Tornado – NASA Science). Os dados mais recentes do Webb indicam que a fonte motora desse jato provavelmente é uma protoestrela Classe I conhecida como Cederblad 110 IRS4, situada a ~1,5 anos-luz de distância do coração de HH 49/50 (NASA’s Webb Telescope Unmasks True Nature of the Cosmic Tornado – NASA Science). Protoestrelas de Classe I têm apenas algumas dezenas de milhares a um milhão de anos de idade e ainda estão ganhando massa, usualmente cercadas por um disco de acreção de material. De fato, o Webb já foi utilizado para analisar a composição de gelo no ambiente ao redor de Cederblad 110 IRS4, levantando um inventário detalhado dos elementos químicos congelados que futuramente poderão compor planetas e cometas (NASA’s Webb Telescope Unmasks True Nature of the Cosmic Tornado – NASA Science).
Vale notar que o HH 49/50 não é um caso isolado – ele representa uma classe inteira de objetos associados a estrelas nascentes. No mesmo complexo Camaleão I há outros jatos, e em outras regiões de formação estelar existem fenômenos análogos. Por exemplo, na nebulosa escura de Perseus (a cerca de 1.000 anos-luz da Terra), encontra-se o Herbig-Haro 211 (HH 211) – outro impressionante jato protoestelar que o Telescópio Webb fotografou em 2023 (Webb Spots ‘Cosmic Tornado’ in Stunning Detail). Assim como HH 49/50, o HH 211 exibiu jatos bipolares alongados emanando de uma estrela bebê envolta em poeira, e sua imagem de alta resolução revelou detalhes finos da estrutura desses fluxos e ondas de choque no material circundante (Webb Spots ‘Cosmic Tornado’ in Stunning Detail). Cada um desses objetos Herbig-Haro nos fornece uma peça do quebra-cabeça de como estrelas infantis interagem com o meio onde nascem.
O que são objetos Herbig-Haro?
Objetos Herbig-Haro (HH) são fenômenos resultantes do encontro violento entre jatos de gás emitidos por estrelas recém-nascidas e o meio interestelar em volta. Quando uma estrela começa a se formar dentro de uma nuvem molecular, muitas vezes ela lança jatos colimados de material ou ventos estelares de suas regiões polares. Esses jatos deslocam-se a velocidades supersônicas e, ao colidirem com o gás e a poeira próximos, geram ondas de choque intensas que comprimem e aquecem o material do meio (NASA’s Webb Telescope Unmasks True Nature of the Cosmic Tornado – NASA Science). À medida que o material chocado esfria novamente, ele passa a emitir radiação, brilhando em diversas frequências, principalmente no visível e no infravermelho (NASA’s Webb Telescope Unmasks True Nature of the Cosmic Tornado – NASA Science). O resultado são estruturas luminosas de curta duração (astronomicamente falando) – durando talvez algumas décadas ou séculos – que aparecem como nebulosidades alongadas, muitas vezes próximas a estrelas jovens.
Esses objetos foram inicialmente estudados nas décadas de 1950 e 1960 pelos astrônomos George Herbig e Guillermo Haro (daí o nome Herbig-Haro). Cada objeto HH costuma ser numerado e está associado a um protoestrela específica ou a um sistema estelar muito jovem. Visualmente, eles podem apresentar formatos curiosos, como lóbulos bipolares em lados opostos da estrela central, frequentemente com estruturas em forma de arco na extremidade, chamadas choques em arco, que marcam a frente das ondas de choque ao avançar pelo meio interestelar. À medida que o jato estelar continua injetando energia, essas feições podem mudar rapidamente, tornando objetos HH fenômenos dinâmicos e complexos.
Importante destacar que objetos Herbig-Haro não são eventos raros, porém exigem condições específicas para se formarem: é preciso que a estrela esteja em uma fase muito jovem (como uma protoestrela Classe 0 ou I) e que haja material denso em seu entorno para interagir com o jato (JWST spots an energetic ‘Cosmic Tornado’ 625 light-years away | Popular Science). Em regiões de formação estelar ricas, como as nebulosas de Órion, Carina, Perseus ou Camaleão, dezenas desses objetos já foram catalogados. Eles são, portanto, excelentes laboratórios naturais para se estudar os primeiros estágios da formação estelar e a interação entre estrelas nascentes e o meio onde se formam.
Desvendando o “Tornado Cósmico”: do mistério à revelação
(NASA’s Webb Telescope Unmasks True Nature of the Cosmic Tornado – NASA Science) Comparação lado a lado das observações infravermelhas do “Tornado Cósmico” feitas pelo Spitzer (esquerda) e pelo James Webb (direita). À esquerda, a imagem borrada do telescópio Spitzer em 2006 mostra o HH 49/50 como um cone difuso com um brilho azulado indefinido na ponta. À direita, a imagem recente do Webb (com dados do NIRCam e MIRI) revela detalhes intrincados nas nuvens de choque em tons alaranjados-avermelhados e resolve o brilho da ponta em uma galáxia espiral azul, com braços em espiral avermelhados repletos de poeira aquecida (NASA’s Webb Telescope Unmasks True Nature of the Cosmic Tornado – NASA Science) (NASA’s Webb Telescope Unmasks True Nature of the Cosmic Tornado – NASA Science).
Em 2006, astrônomos utilizando o então recém-lançado Telescópio Espacial Spitzer (da NASA) observaram pela primeira vez o HH 49/50 em comprimentos de onda infravermelhos. A imagem do Spitzer mostrava uma estrutura cônica alongada, parecida com uma coluna de fumaça ou um funil, que inspirou o apelido de “Tornado Cósmico” devido à sua aparência helicoidal dramática (NASA’s Webb Telescope Unmasks True Nature of the Cosmic Tornado – NASA Science) (‘Cosmic tornado’ swirls in breathtaking new James Webb Space Telescope image | Space). Na ponta desse suposto tornado cósmico, o Spitzer registrou uma mancha difusa de brilho azulado, cuja natureza exata permaneceu incerta – seria parte do próprio jato? Uma condensação de gás? Ou algo mais? (NASA’s Webb Telescope Unmasks True Nature of the Cosmic Tornado – NASA Science). Por quase duas décadas, esse “objeto misterioso” no topo do HH 49/50 intrigou os pesquisadores, motivando especulações e estudos complementares. A baixa resolução do Spitzer e de outros observatórios disponíveis na época não permitia discernir detalhes suficientes para uma conclusão definitiva.
Agora, com as observações de alta resolução do James Webb, o enigma foi finalmente resolvido. A nova imagem composta do Webb – combinando dados de sua Câmera de Infravermelho Próximo (NIRCam) e do Instrumento de Infravermelho Médio (MIRI) – revelou que o tal objeto na ponta do “tornado” nada mais é do que uma galáxia espiral distante, perfeitamente alinhada por acaso na mesma linha de visada do jato HH 49/50 (NASA’s Webb Telescope Unmasks True Nature of the Cosmic Tornado – NASA Science) (NASA’s Webb Telescope Unmasks True Nature of the Cosmic Tornado – NASA Science). Em outras palavras, o que víamos como um único fenômeno (um “tornado” cósmico com uma “nuvem” no topo) são na realidade dois objetos totalmente independentes e em escalas de distância diferentes: um jato protoestelar relativamente próximo dentro da nossa galáxia e, atrás dele, uma galáxia muito além, fora da Via Láctea. O Webb desmascarou essa ilusão de profundidade ao conseguir resolver a galáxia de fundo em detalhes – seu núcleo azulado repleto de estrelas mais velhas e seus braços em espiral avermelhados pontilhados de regiões de formação estelar e poeira aquecida (NASA’s Webb Telescope Unmasks True Nature of the Cosmic Tornado – NASA Science) (NASA’s Webb Telescope Unmasks True Nature of the Cosmic Tornado – NASA Science). De quebra, a imagem do JWST revelou um mar de outras galáxias de fundo espalhadas pelo campo de visão, enfatizando a incrível sensibilidade do telescópio a objetos tênues e distantes (NASA’s Webb Telescope Unmasks True Nature of the Cosmic Tornado – NASA Science).
Além de identificar a natureza do “chifre” na ponta do Tornado Cósmico, o Webb forneceu um novo olhar sobre o próprio jato HH 49/50. Estruturas antes apenas sugeridas agora aparecem com clareza: é possível ver ondas de choque em forma de arco (semelhantes às ondas criadas pelo casco de um barco rápido na água) ao longo do fluxo, indicando onde o jato de gás do protostar está esculpindo o meio ao seu redor (NASA’s Webb Telescope Unmasks True Nature of the Cosmic Tornado – NASA Science) (NASA’s Webb Telescope Unmasks True Nature of the Cosmic Tornado – NASA Science). Essas ondas em arco apontam de volta para a região da protoestrela motriz, ajudando os cientistas a localizar e confirmar a posição do objeto central que alimenta o jato. Curiosamente, nem todos os arcos parecem se alinhar exatamente com a mesma fonte – há uma protrusão incomum no canto superior direito da estrutura que não aponta para o ponto central esperado. Os pesquisadores levantam a hipótese de que essa feição possa ser resultado de um segundo jato sobreposto por coincidência ou talvez de uma oscilação (precessão) do jato principal ao longo do tempo (NASA’s Webb Telescope Unmasks True Nature of the Cosmic Tornado – NASA Science). Alternativamente, pode ser que o jato principal esteja fragmentando parte do material em seu percurso, criando subestruturas transitórias. Seja como for, essas sutilezas adicionais, expostas pelo poder de resolução do Webb, abrem novas questões a serem investigadas sobre a dinâmica do sistema.
A eliminação da “neblina” que encobria o Tornado Cósmico permite agora uma compreensão completa da cena. Astrônomos da equipe do Webb ressaltam que se trata de um alinhamento cósmico fortuito: “Webb capturou esses dois objetos não associados em um alinhamento de sorte” escreveram os pesquisadores no comunicado da descoberta (‘Cosmic tornado’ swirls in breathtaking new James Webb Space Telescope image | Space). Com o passar dos milênios, eles prevêem que a extremidade do jato HH 49/50 vai continuar se expandindo e, eventualmente, poderá encobrir completamente a galáxia de fundo daqui a alguns milhares de anos (‘Cosmic tornado’ swirls in breathtaking new James Webb Space Telescope image | Space) – uma mudança sutil no céu que somente futuras gerações (ou futuros telescópios) poderiam notar. Por ora, porém, tivemos o privilégio único de flagrar essa justaposição celeste espetacular, que combina um fenômeno de formação estelar local com um “fundo” cosmológico remoto, numa mesma imagem.
Tecnologia infravermelha de ponta: como o Webb captou esses detalhes
Para desvendar os segredos do HH 49/50 e de outros objetos Herbig-Haro, o Telescópio James Webb se vale de suas tecnologias de imagem em infravermelho de altíssima resolução. No caso do Tornado Cósmico, foram utilizados dois dos principais instrumentos do observatório: o NIRCam, que opera no infravermelho próximo (~0,6–5 µm de comprimento de onda), e o MIRI, que observa no infravermelho médio (~5–28 µm). A combinação de dados dessas duas câmeras permitiu gerar uma imagem composta multicolorida, em que diferentes filtros destacam componentes específicos do objeto. Por exemplo, na imagem divulgada, tons de azul e ciano representam emissão em comprimentos de onda mais curtos (~2–4 µm), enquanto laranjas e vermelhos correspondem a emissões em faixas mais longas (~4,7–7,7 µm) (NASA’s Webb Telescope Unmasks True Nature of the Cosmic Tornado – NASA Science). Esses filtros foram escolhidos para mapear a presença de moléculas e poeira: o Webb conseguiu detectar o brilho de moléculas excitadas no jato, incluindo hidrogênio molecular (H₂), monóxido de carbono (CO) e até poeira aquecida com hidrocarbonetos aromáticos (PAHs) (NASA’s Webb Telescope Unmasks True Nature of the Cosmic Tornado – NASA Science). Dessa forma, a imagem revela a distribuição dessas substâncias ao longo do fluxo, indicando onde o gás está mais quente ou mais denso.
Uma grande vantagem do Webb em relação a telescópios anteriores é sua capacidade de enxergar através das espessas camadas de poeira que envolvem as protoestrelas. Estrelas recém-nascidas estão quase sempre imersas no coração de nuvens moleculares, de modo que, no óptico, elas e seus jatos ficam obscurecidos (NASA’s Webb Snaps Supersonic Outflow of Young Star – NASA). O infravermelho, por sua vez, consegue penetrar essa poeira. O Webb, com instrumentos extremamente sensíveis nesse comprimento de onda, pode registrar diretamente o brilho infravermelho dos choques e dos jatos dentro dessas nuvens, algo que telescópios ópticos como o Hubble não podem fazer (NASA’s Webb Snaps Supersonic Outflow of Young Star – NASA). Além disso, o espelho de 6,5 metros do Webb proporciona um poder de resolução muito superior ao do Spitzer (que tinha um espelho de 0,85 m) – a imagem de HH 49/50 capturada pelo JWST tem cerca de 5 a 10 vezes mais resolução espacial do que as imagens anteriores desse objeto (NASA’s Webb Snaps Supersonic Outflow of Young Star – NASA). Essa nitidez excepcional foi o fator chave para separar claramente a galáxia de fundo da nebulosidade do jato e para discernir estruturas internas do outflow que antes apareciam apenas como “borrões”. Em resumo, o Webb alia visão penetrante (infravermelho) com visão aguçada (alta resolução), constituindo a ferramenta ideal para dissecar ambientes de formação estelar.
A aplicação dessas tecnologias de ponta não só produziu uma imagem esteticamente impressionante, mas também forneceu um conjunto rico de dados científicos. Os astrônomos agora podem medir, por exemplo, a extensão e a forma exata das frentes de choque no HH 49/50, a distribuição de diferentes moléculas ao longo do jato e comparar com modelos teóricos de fluxo protoestelar. Informações espectrais colhidas pelo Webb (por meio de filtros estreitos do NIRCam/MIRI e futuros espectros) permitirão estimar temperaturas, densidades e velocidades dentro dos choques com grande precisão. Esse nível de detalhe era inatingível antes e está redefinindo nosso entendimento dos processos físicos que ocorrem quando um jato estelar interage com o meio.
Importância da observação para a compreensão da formação estelar
A investigação do “Tornado Cósmico” pelo Webb não é apenas uma curiosidade visual – ela traz implicações profundas para a ciência de formação estelar. Jatos como o HH 49/50 são manifestações diretas dos mecanismos que regem o nascimento das estrelas. Quando uma protoestrela lança um jato, ela está efetivamente transferindo parte de seu excesso de momento angular e energia para o meio ao redor, o que pode influenciar quanto de massa a estrela final conseguirá acumular e como o material remanescente poderá dar origem a planetas. Portanto, entender a dinâmica desses outflows é entender uma peça do quebra-cabeça de como sistemas estelares (como o nosso) se desenvolvem.
As observações do Webb trouxeram novas ferramentas para essa compreensão. Por exemplo, no caso do HH 211 (observado em 2023), a altíssima resolução do Webb revelou que o jato apresenta um “ziguezague” simétrico próximo à protoestrela central, um indício sutil de que a fonte pode, na verdade, ser um sistema binário de protostelas orbitando uma à outra (NASA’s Webb Snaps Supersonic Outflow of Young Star – NASA). Essa sugestão de binariedade ilustra como detalhes finos nos jatos podem nos contar sobre a natureza da estrela que os produz – muitas estrelas podem nascer em pares ou múltiplas, e os jatos combinados ou em precessão deixam “assinaturas” características. No caso do HH 49/50, a identificação de um segmento desalinhado do outflow (possivelmente devido a precessão ou a outro jato vizinho) traz à tona perguntas similares: haveria outra protoestrela escondida contribuindo para o show pirotécnico? Estudos futuros poderão buscar variações periódicas ou estruturas complementares para esclarecer essa questão.
Outra contribuição valiosa dessas imagens é para o aperfeiçoamento de modelos computacionais de formação estelar. Com os dados do Webb, os cientistas podem calibrar simulações de jatos e ventos de protoestrelas comparando-as com as formas e emissões observadas em HH 49/50. Por exemplo, a forma em arco das ondas de choque, sua distância da fonte e a intensidade relativa do brilho em diferentes moléculas (H₂, CO, etc.) fornecem restrições sobre a densidade do meio e a energia do jato (NASA’s Webb Telescope Unmasks True Nature of the Cosmic Tornado – NASA Science) (NASA’s Webb Telescope Unmasks True Nature of the Cosmic Tornado – NASA Science). Isso permite testar teorias sobre como o jato é lançado (possivelmente por campos magnéticos e discos de acreção) e como ele perde colimação ou se fragmenta ao interagir com o entorno. Além disso, observar como o jato afeta o meio – por exemplo, abrindo cavernas no gás ou varrendo poeira – ajuda a entender como a presença de jatos pode influenciar a formação de outras estrelas nas proximidades ou a própria formação de planetas no disco circumestelar (uma vez que o jato pode dispersar material do disco).
É importante frisar que o Webb está apenas começando a explorar esses objetos. Os resultados obtidos para HH 49/50 e HH 211 serão complementados por estudos de outros objetos Herbig-Haro e regiões de formação estelar que estão no cronograma do telescópio. Cada novo alvo observado fornecerá peças adicionais – talvez novos fenômenos inesperados – que, em conjunto, desenharão um quadro mais completo dos estágios iniciais da vida das estrelas. Por exemplo, já se planeja observar jatos em diferentes ambientes, alguns interagindo com nuvens mais densas, outros talvez em fases mais avançadas, para ver como variam as características dos choques. Também será possível utilizar os espectrógrafos do Webb (NIRSpec e MIRI-ES) para decompor a luz desses objetos e obter assinaturas químicas detalhadas, identificando por exemplo onde a água (H₂O) ou outras moléculas complexas se formam nesses choques – informação crucial para ligar a química dos berçários estelares à química de sistemas planetários emergentes.
Em suma, a observação do “Tornado Cósmico” não apenas satisfaz a curiosidade sobre uma imagem bonita, mas também fortalece nosso arcabouço teórico sobre a formação de estrelas de baixa massa como o Sol. Cada choque mapeado, cada galáxia de fundo identificada e cada jato mapeado em detalhe pelo Webb aproxima a ciência de responder perguntas maiores: Como as estrelas adquirem sua massa final? Como os jatos influenciam o nascimento de planetas? Quão comuns são estrelas binárias ou múltiplas desde o início? As implicações tocam em diversos aspectos da astrofísica estelar e prometem guiar muitas pesquisas nos anos vindouros.
Conclusão: o Webb e seu legado na astrofísica moderna
A revelação da verdadeira natureza do “Tornado Cósmico” pelo Telescópio James Webb exemplifica de forma brilhante o impacto desse novo observatório na astronomia contemporânea. Em apenas um único campo de visão, o Webb conseguiu resolver um mistério que perdurava desde 2006 – identificando uma galáxia escondida à vista desarmada – e, simultaneamente, oferecer uma visão sem precedentes de um processo fundamental da natureza: o nascimento tumultuado de uma estrela semelhante ao Sol. Essa conquista reforça o papel do Webb como o principal olho da humanidade no cosmos atualmente, capaz de ir do extremamente distante (galáxias nos confins do Universo) ao extremamente próximo (vizinhanças onde estrelas e planetas estão se formando) com igual maestria.
O legado que o James Webb começa a construir na astrofísica moderna é notável. Cada nova imagem ou espectro capturado pelo JWST – seja de nebulosas, exoplanetas, galáxias ou fundo cósmico – tem o potencial de reescrever manuais e surpreender até os cientistas mais experientes. No caso dos objetos Herbig-Haro como o HH 49/50, o Webb está iluminando detalhes nunca antes vistos, permitindo-nos assistir “fotografias de bebê” de estrelas em formação. Estamos aprendendo que o cosmos possui coincidências visuais intrigantes, como o alinhamento que formou o Tornado Cósmico, e que por trás de cada nova observação há camadas adicionais de conhecimento a desvendar.
Em última instância, o James Webb consolida-se como uma ferramenta insubstituível para avançar a fronteira do conhecimento. “Webb vai solucionar mistérios em nosso sistema solar, olhar além para mundos distantes ao redor de outras estrelas e investigar as estruturas e origens misteriosas do nosso universo”, destaca a NASA sobre sua missão (NASA’s Webb Telescope Unmasks True Nature of the Cosmic Tornado – NASA Science). A descoberta do Tornado Cósmico desmascarado é uma prova concreta dessa promessa – um testemunho de como este telescópio espacial nos permite enxergar o invisível e compreender o desconhecido. Conforme continuamos a explorar o universo com o Webb, é certo que mais surpresas virão, e cada uma delas nos lembrará do quão imenso e fascinante é o cosmos que habitamos.
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