Nova série documental mostra os bastidores dos transplantes no Brasil

Saiba como foram as gravações de "Operação Transplante", que estreia em 27 de março na Max e no Discovery Home & Health.

Mar 23, 2025 - 19:05
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Nova série documental mostra os bastidores dos transplantes no Brasil

Se bem conservado, um fígado humano sobrevive até 12 horas fora do corpo. Essa é a (curta) janela de tempo para um transplante: dezenas de profissionais se desdobram para encontrar um receptor compatível, transportar o órgão, preparar a cirurgia – e cuidar para que nenhum detalhe comprometa a já frágil saúde do paciente durante o procedimento.

O Brasil é referência mundial em transplantes: em 2023, foram 30 mil cirurgias. Em números absolutos, somos o segundo maior transplantador de órgãos (atrás apenas dos EUA) – e o primeiro se levarmos em conta apenas os feitos na rede pública: o SUS financia 88% de todos os procedimentos que acontecem aqui.

Parte desse universo é explorado em Operação Transplante, nova série documental da Warner Bros Discovery que estreia em 27 de março no streaming Max e no canal a cabo Discovery Home & Health. São oito episódios que esmiúçam os mais diversos procedimentos (transplante de fígado, rins, coração…) em hospitais públicos e privados do estado de São Paulo, que concentra um terço dos transplantes nacionais.

Operação Transplante é uma parceira da Warner com a Mixer Films, produtora de outros realities do Discovery: Operação Fronteira: Brasil e Operação Fronteira, sobre o dia a dia da Polícia Rodoviária Federal, claro, nas regiões de fronteira do Brasil.

“Nós sempre olhamos para universos: o das fronteiras, os aeroportos [em referência a outra série, “Aeroporto: Área Restrita”] e, agora, os hospitais”, disse à Super Adriana Cechetti, pesponsável pela área de produção e desenvolvimento de séries originais de não-ficção da Warner. “Tínhamos o desejo de fazer uma série médica, e pensamos que o recorte dos transplantes poderia trazer discussões, causar um impacto na sociedade.”

De plantão

Imagem da série do Max, Operação Transplante, mostrando uma cena aproximada de pessoas segurando instrumentos cirúrgicos durante uma cirurgia.
Max/Divulgação
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Operação Transplante é um “docureality”. “Diferente de um documentário tradicional, que geralmente só aborda eventos que já aconteceram, aqui nós temos que bolar uma estratégia para captar coisas que estão acontecendo ou que ainda vão acontecer”, diz Rodrigo Astiz, diretor-geral da série.

Uma das equipes do show montou base na Central de Transplantes da Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo, que faz o meio de campo entre doadores e possíveis receptores. Assim, a produção era capaz de monitorar os casos e se preparar para a gravação.

Havia ainda duas equipes de filmagem de plantão, que trabalhavam em horários distintos para cobrir o máximo possível do dia.

A série conversou de antemão com equipes médicas de vários hospitais de referência em transplantes em São Paulo, públicos e privados. “Foi essencial fazer esse primeiro contato para que os cirurgiões nos conhecessem e entendessem o acesso que precisaríamos ter – sem, claro, atrapalhar os procedimentos. Ter essa conversa no dia da cirurgia, com toda a correria, seria impossível”, diz Astiz.

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Quando a equipe da Central fazia o alerta de um órgão em movimentação, a produção da série tinha que responder rápido: deslocar-se para o hospital onde a cirurgia seria feita (e acompanhar oito, nove horas de transplante), entrevistar os médicos responsáveis e, claro, conhecer o paciente antes que ele fosse para a maca.

Em alguns casos, a produção conseguiu entrevistar pacientes com certa antecedência. Em geral, eram pessoas que estavam bem colocadas na lista de espera do transplante (mais sobre isso adiante) e que tinham chances de serem operadas num futuro próximo. Esse acesso antecipado também aconteceu nos transplantes intravivos – ou seja, quando o receptor ganha um órgão (ou parte dele) de um doador vivo.

É o caso de Leonardo de Moraes, que recebeu um rim de sua esposa, Rosa, numa das 18 histórias da série. “Sou diabético há muitos anos e minha situação foi agravada pela Covid-19”, conta Leonardo. “Uma das sequelas foi o falecimento gradativo dos rins. Tive que fazer hemodiálise por dois anos e meio.”

Rosa foi a primeira pessoa a fazer exames de compatibilidade, para saber se poderia doar um de seus rins para o marido. A cirurgia foi feita em julho de 2024 – e foi um sucesso. “Praticamente todas as restrições foram deixadas de lado. Voltamos a viver novamente”, disse.

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Como funciona a fila de transplantes?

Imagem da série do Max, Operação Transplante, mostrando um médico com policiais entrando num helicóptero da polícia.
Max/Divulgação

Um dos trunfos de Operação Transplantes é o (largo) acesso às mesas de cirurgia. Enquanto os médicos narram o que está acontecendo ali, é possível ver corações voltando a bater e fígados produzindo bile segundos depois de conectados a um novo corpo. É impressionante, de fato.

Mas outra qualidade da série, menos visualmente impactante, é destrinchar a logística desse tipo de operação. É um sistema que envolve dezenas de pessoas e que precisa funcionar em harmonia para que tudo dê certo no curto espaço de tempo disponível.

Francisco Monteiro, coordenador da Central de Transplantes de São Paulo, explica que há um cadastro único federal para receber um novo órgão – mas que cada estado é responsável por gerir sua própria fila. Não dá para esperar por um rim em Sergipe e no Rio Grande do Sul ao mesmo tempo, por exemplo.

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Quando um hospital decreta a morte encefálica de um paciente (cujos outros órgãos estejam saudáveis), membros da Organização de Procura de Órgãos (OPO), entidade ligada às centrais de transplantes, pedem a autorização dos familiares para a doação. Com o OK, começa a busca por um receptor – que não necessariamente será o primeiro da lista estadual.

É que muitas variáveis de compatibilidade precisam ser consideradas, como o tipo sanguíneo e o tamanho do órgão. Não dá para colocar um fígado adulto em uma criança, por exemplo. “É por isso que dizemos que cada doador acaba gerando sua própria lista de possíveis receptores”, diz Monteiro.

“Uma das coisas que mais me chamaram a atenção foi compreender a beleza desse sistema. Ele funciona – tanto para o rico quanto para o pobre. Não há distinção”, diz Astiz.

Apesar de tudo isso, é preciso dizer que a quantidade de doações é insuficiente – metade das famílias se recusam a doar os órgãos do parente falecido. O Brasil tem mais de 43 mil pessoas à espera por um transplante, com uma taxa média de espera de 18 meses.

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“Muitas vezes, naquele momento de luto e angústia, e por desconhecer o processo de transplantes, as famílias optam por não doar”, diz Monteiro. “A informação de qualidade é fundamental para que possamos esclarecer e conscientizar as pessoas sobre a importância desse ato.”

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