Penas fossilizadas de abutre com 30.000 anos são as mais preservadas do mundo

Encontrados em 1889, no Monte Tuscolo, a sudeste de Roma, restos de um abutre preservados há 30.000 anos contêm detalhes incríveis, como penas e pálpebras do animal — algo sem precedentes, exceto apenas por penas achadas em âmbar. Não se sabia, no entanto, como uma fossilização tão eficiente havia acontecido. Quanto tempo leva para um fóssil se formar? Por que não há fósseis de dinossauros em todos os lugares? A espécie em questão é chamada de grifo-eurasiático (Gyps fulvus) e foi encontrada no complexo vulcânico de Colli Albani por um proprietário de terras local. Foi só em um estudo recente, comandado pela cientista Valentina Rossi, da Universidade de College Cork, que foram descobertos os responsáveis pela incrível preservação: zeólitos, cristais ricos em silício. Preservação em cinzas vulcânicas O fóssil do grifo-eurasiático foi o primeiro onde tecidos moles, como as penas, foram encontrados preservados em cinzas vulcânicas. Geralmente, tecidos assim só ficam nessa qualidade em pedras de lama soterradas em lagos ou lagunas. Os restos desse tipo de abutre, no entanto, estavam depositados em cinzas vulcânicas, algo bem incomum. -Entre no Canal do WhatsApp do Canaltech e fique por dentro das últimas notícias sobre tecnologia, lançamentos, dicas e tutoriais incríveis.- Uma representação em arte digital de como teria sido a morte e enterro do abutre, há 30.000 anos (Imagem: Dawid A. Iurino) Para entender como isso seria possível, foram usados microscópios de elétrons e testes químicos para revelar a preservação dos restos, que estão em 3D  — em geral, penas ficam comprimidas em duas dimensões no carbono de rochas. Penas em três dimensões só haviam sido vistas antes em presas em âmbar. Foi possível ver detalhes dessa característica da ave em até 0,001 milímetros (1 mícron). A análise também mostrou que o material fossilizado é zeólito, feito de minerais ricos em silício e alumínio, comuns em ambientes vulcânicos e hidrotermais. Zeólitos podem se formar como minerais primários, em forma de cristais, ou secundários, durante a alteração natural de vidro vulcânico e cinzas. É a primeira vez que penas foram vistas preservadas dessa maneira e com esses detalhes, e o primeiro fóssil de zeólito já visto. Isso significa que o abutre provavelmente foi enterrado por uma nuvem de cinzas vulcânicas, muito mais frias do que os fluxos piroclásticos de erupções como a do Monte Vesúvio, em Pompeia. A cinza cristalizou como zeólito após reagir com água ao longo de alguns dias, quando os cristais do mineral substituíram as células e os detalhes da ave morta. Leia também: Como os cientistas sabem a idade de um fóssil? Desvendado processo que preservou fósseis dourados de 183 milhões de anos Descoberta nova espécie de inseto preservado em âmbar de 35 milhões de anos VÍDEO: Passagem para o Submundo Zapoteca   Leia a matéria no Canaltech.

Mar 25, 2025 - 21:06
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Penas fossilizadas de abutre com 30.000 anos são as mais preservadas do mundo

Encontrados em 1889, no Monte Tuscolo, a sudeste de Roma, restos de um abutre preservados há 30.000 anos contêm detalhes incríveis, como penas e pálpebras do animal — algo sem precedentes, exceto apenas por penas achadas em âmbar. Não se sabia, no entanto, como uma fossilização tão eficiente havia acontecido.

A espécie em questão é chamada de grifo-eurasiático (Gyps fulvus) e foi encontrada no complexo vulcânico de Colli Albani por um proprietário de terras local. Foi só em um estudo recente, comandado pela cientista Valentina Rossi, da Universidade de College Cork, que foram descobertos os responsáveis pela incrível preservação: zeólitos, cristais ricos em silício.

Preservação em cinzas vulcânicas

O fóssil do grifo-eurasiático foi o primeiro onde tecidos moles, como as penas, foram encontrados preservados em cinzas vulcânicas. Geralmente, tecidos assim só ficam nessa qualidade em pedras de lama soterradas em lagos ou lagunas. Os restos desse tipo de abutre, no entanto, estavam depositados em cinzas vulcânicas, algo bem incomum.

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Uma representação em arte digital de como teria sido a morte e enterro do abutre, há 30.000 anos (Imagem: Dawid A. Iurino)
Uma representação em arte digital de como teria sido a morte e enterro do abutre, há 30.000 anos (Imagem: Dawid A. Iurino)

Para entender como isso seria possível, foram usados microscópios de elétrons e testes químicos para revelar a preservação dos restos, que estão em 3D  — em geral, penas ficam comprimidas em duas dimensões no carbono de rochas. Penas em três dimensões só haviam sido vistas antes em presas em âmbar. Foi possível ver detalhes dessa característica da ave em até 0,001 milímetros (1 mícron).

A análise também mostrou que o material fossilizado é zeólito, feito de minerais ricos em silício e alumínio, comuns em ambientes vulcânicos e hidrotermais.

Zeólitos podem se formar como minerais primários, em forma de cristais, ou secundários, durante a alteração natural de vidro vulcânico e cinzas. É a primeira vez que penas foram vistas preservadas dessa maneira e com esses detalhes, e o primeiro fóssil de zeólito já visto.

Isso significa que o abutre provavelmente foi enterrado por uma nuvem de cinzas vulcânicas, muito mais frias do que os fluxos piroclásticos de erupções como a do Monte Vesúvio, em Pompeia. A cinza cristalizou como zeólito após reagir com água ao longo de alguns dias, quando os cristais do mineral substituíram as células e os detalhes da ave morta.

Leia também:

VÍDEO: Passagem para o Submundo Zapoteca

 

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