Capcom Fighting Collection 2 traz uma mistura de clássicos que já não eram mencionados há algumas décadas, crossovers lendários e uma das várias versões de um Street Fighter, porque tem que ter, não é mesmo?
Entre lutas dos sonhos e clássicos tridimensionais
Nesse segundo compilado, temos oito nomes de peso da empresa japonesa, todos eles em suas versões de lançamento para os arcades:
Capcom vs. SNK: Millennium Fight 2000 Pro (2000) — O título de “Batalha do Milênio” para o primeiro CvS foi bastante adequado. Este primeiro crossover entre as duas gigantes japonesas da porradaria virtual misturou um elenco recheado de heróis e vilões, como Ryu, Terry Bogard, Bison e Rugal, e fez com que eles trabalhassem em equipes.
Era possível escolher um personagem só ou contar até com um quarteto, graças ao sistema de ratio. Ele era responsável por balancear o elenco e ranquear os personagens de 1 (mais fracos) a 4 (mais fortes).
Capcom vs. SNK 2: Mark of the Millennium 2001 (2001) — A sequência de CvS aumentou o elenco para 48 lutadores e deixou para trás o esquema de ratio. Agora a escolha do seu trio era livre, independente de quem fosse mais forte ou mais fraco. Além disso, CvS2 tinha como chefes secretos Shin Akuma e God Rugal, que eram difíceis de serem encontrados e piores ainda de serem derrotados.
Foi incluída na coletânea uma segunda ROM de CvS2, batizada de EO (sigla para Easy Operation, no Japão, e Extreme Offense, na Europa). Lançada com foco no GameCube, ela possibilitava a execução de especiais com o uso do segundo analógico, sem precisar de comandos longos.
Plasma Sword: Nightmare of Bilstein (1998) — Star Gladiator foi um dos primeiros flertes da Capcom com os combates tridimensionais. Dois anos depois, a sequência foi lançada no Japão, mas ganhou o nome de Plasma Sword ao redor do mundo. O título traz um embate espacial e tem um elenco variado, com uma dinâmica que consiste em uma dupla de personagens com características e golpes similares, como se estivessem espelhados.
Cada gladiador espacial possui uma habilidade chamada Plasma Field, que amplia algumas de suas habilidades por um curto espaço de tempo. Além disso, houve a introdução dos “finais reais”, que originalmente só eram revelados em batalhas especiais após derrotar o chefão Bilstein.
Power Stone (1999) — Aqui temos um dos títulos mais queridos que a Capcom já lançou para o Dreamcast. Com sua proposta de lutas em arenas amplas, nas quais os personagens podiam circular livremente, Power Stone conquistou uma legião de fãs.
Durante o combate, os personagens podiam pegar objetos pelos cenários para acertar o oponente. O destaque maior ficava para as transformações, que deixavam os personagens mais fortes por um curto espaço de tempo após coletar três gemas coloridas.
Power Stone 2 (2000) — O único título da coletânea para até quatro jogadores, Power Stone 2 mantém a jogabilidade do antecessor, mas se posiciona mais no meio-termo entre luta e aventura. Agora os personagens devem escapar de uma grande prisão e, para isso, precisam passar por áreas que se modificam constantemente.
Lutamos em cima de submarinos em movimento, aviões que são abatidos e até um laboratório que começa a desmoronar e só deixa os elevadores como escapatória. É necessário ser um dos dois sobreviventes para prosseguir e derrotar o chefão final.
Project Justice (2000) — A continuação do bem-sucedido Rival Schools amplia tudo o que o primeiro trouxe de bom. As batalhas são realizadas em trios e os estudantes podem realizar ataques combinados. Se os integrantes forem de um mesmo colégio, ganham animações únicas.
Project Justice é o único jogo da coletânea a trazer um Modo História, diferente dos demais que só contêm os tradicionais Arcade e Versus.
Street Fighter Alpha 3 UPPER (2001) — Uma coletânea da Capcom tinha que ter um Street Fighter, não é mesmo? O escolhido foi uma das versões revisadas de Alpha/Zero 3. UPPER foi lançado exclusivamente no Japão, o que torna a versão americana da ROM inédita até então.
Vale citar que, posteriormente, em 2006, foi lançado Street Fighter Alpha 3 MAX, exclusivo para o PSP, que trazia todo o conteúdo de UPPER, além de adicionar a personagem Ingrid, de Capcom Fighting Evolution.
Capcom Fighting Evolution (2004) — Lançado no Japão como Capcom Fighting Jam, esse jogo tentou juntar uma galera da casa em um lugar só, mas acabou não sendo tão popular. Das cinco franquias escolhidas para serem representadas, três eram versões de Street Fighter (II, III e Zero). As outras duas que ganharam um espacinho foram Darkstalkers e Red Earth. Também foi apresentada a estreante Ingrid.
O problema com Capcom Fighting Evolution, na época em que foi para as prateleiras, é que ele sempre pareceu ter a cara de um produto que foi feito às pressas. A ideia de tentar fracionar personagens por séries fez com que Street Fighter dominasse mais da metade do elenco, o que para a Capcom é um enorme tiro no pé, visto o tanto de nomes importantes de outras sagas que poderiam ter sido adicionados, como Mega Man, Jin Saotome, Captain Commando, entre outros.
Levando em consideração que o primeiro Fighting Collection tinha três versões de um mesmo Darkstalkers, o segundo traz uma lista muito mais diversificada, e com a grata surpresa dos games em 3D, algo que parecia improvável de acontecer. Como houve essa quebra (positiva) de expectativa, acredito que ter Capcom Fighting Evolution e Street Fighter Alpha 3 UPPER seja um pouco desnecessário.
Alpha 3 é o meu SF favorito da vida, mas não precisava de mais uma versão dele aqui. Já o Evolution é simplesmente fraco e, de longe, o título mais desinteressante dessa reunião. Eles poderiam tranquilamente dar lugar para o primeiro Rival Schools e Star Gladiator. Seria bem mais interessante ter ambas as franquias completas no mesmo lugar, já que o mesmo carinho foi dado a Power Stone e CvS.
Eu também poderia aproveitar para citar a trilogia Street Fighter EX, essa sim trancada em uma gaveta há quase 30 anos, mas, infelizmente, vai ser difícil, dadas algumas questões autorais com a desenvolvedora Arika. Bom, não custa sonhar.
Todos os recursos necessários para ser definitivo
Assim como nas duas coletâneas anteriores, Capcom Fighting Collection 2 traz uma série de opções que visam facilitar a vida tanto de quem está revisitando estes jogos após algumas décadas, quanto de quem os está jogando pela primeira vez. Assim como nas outras edições, podemos alternar entre as ROMs americanas ou japonesas.
Os botões de todos os jogos podem ser remapeados para executar golpes especiais e até aqueles ataques mais elaborados de maneira simplificada. Se você, assim como eu, sempre sofreu para aplicar um Raging Storm do Geese Howard, pode comemorar que nossa dor chegou ao fim.
Para quem quiser explorar cada detalhe oferecido, há uma lista extensa de missões a serem seguidas. Existem as de ordem geral, que incluem realizar alguma ação específica em algum round ou contra algum inimigo, e as específicas, que farão o jogador terminar todos os jogos com cada personagem disponível, inclusive os secretos.
Ainda bem que a escolha pode ser facilitada, basta habilitar essa opção no menu extra antes de escolher onde irá distribuir seus socos virtuais. Fato curioso: dessa vez, apenas Street Fighter Alpha 3 UPPER e Power Stone tem lutadores escondidos na tela. Os demais ficam aparentes, sem exceção.
Outro recurso que foi mantido foi o salvamento rápido, mas agora ele foi ligeiramente modificado — e para pior. Ainda existe apenas um slot para guardar nossas partidas, o que já era ruim, pois somos obrigados a nos manter no mesmo jogo e, se quisermos trocar, acabamos por enterrar o save antigo com o novo. Só que agora, ao carregar o arquivo, a batalha não continua exatamente de onde paramos, mas sim retorna ao início do estágio.
Por exemplo: se estamos no chefão final, onde cada golpe importa, já próximos da vitória, e realizamos o salvamento rápido para garantir o sucesso, o jogo retornará do começo desta mesma luta, caso seja necessário carregar o save e tentar de novo. Isso é um tanto quanto frustrante, principalmente para jogos mais longos, como Power Stone 2 ou CvS2, que precisam de uma série de condições para alcançar os chefes secretos.
Em contrapartida, agora é possível escolher já na tela de seleção de jogos se queremos entrar no Arcade, no Versus local ou no Treino. A diferença disso? É que, mesmo mantendo a natureza dos fliperamas, agora escolher o Versus local permite que os dois jogadores troquem de personagem e se mantenham batalhando, em vez de o ganhador manter o seu boneco e o Arcade iniciar direto até ser interrompido mais uma vez pelo novo desafiante. Essa inclusão parecia básica, mas fazia muita falta. Tanto é que essa mesma opção foi implementada nas outras duas coletâneas em atualizações recentes.
Uma atualização que alguns títulos ganharam está na parte sonora. CvS e Capcom Fighting Evolution contam com a opção “Remix Nostálgico”. Por se tratarem de crossovers, a trilha sonora dos jogos em questão dá lugar às músicas originais das franquias das quais os personagens vieram. Já CvS2, Power Stone 2 e Project Justice ganharam alguns aprimoramentos sonoros, que podem ser notados ao selecionar a versão 2025.
O online ainda se mostra bastante competente. Como recebi a chave para análise antecipadamente, não encontrei muitos adversários online, mas sempre que uma partida foi realizada, ela aconteceu de maneira estável, graças ao rollback netcode. Além disso, podemos selecionar em quais jogos queremos ser convidados para duelar. Infelizmente, ainda não temos crossplay para enfrentar quem está em outras plataformas.
Por fim, a cereja do bolo, e uma das minhas partes favoritas, é a galeria. São quase 700 artes reunidas dos oito títulos da coletânea, mostrando trabalhos conceituais, ilustrações exclusivas e até a tabela de comandos que fica presa na cabine do fliperama, tanto em inglês quanto em japonês. Além disso, a jukebox traz a trilha sonora completa de cada um deles, e com direito a rearranjos pela CAP-JAMs, que já vem fazendo esse tipo de trabalho desde Street Fighter V.
Ainda tem bastante coisa para aproveitar
A chegada de Capcom Fighting Collection 2 abre um precedente para o tanto de coisas que a Capcom ainda pode trazer com suas reuniões de jogos clássicos de luta. A qualidade das emulações, bem como todos os recursos e acervos do pacote, ainda mantém a barra de excelência bem alta. É mais uma excelente coletânea indispensável para os fãs do gênero.
Prós
- No geral, ótima seleção de títulos;
- Recursos muito úteis, como especiais de um botão, salvamento rápido e seleção facilitada de personagens secretos;
- As missões aumentam em muito o fator replay;
- Alguns jogos ganharam releituras de suas canções, enquanto outros oferecem opções baseadas em suas fontes originais;
- Online estável e com a possibilidade de participar de partidas de qualquer jogo a qualquer momento;
- Vasta galeria e jukebox acessível com trilhas sonoras completas.
Contras
- Poderiam ter colocado Rival Schools e Star Gladiator em vez de Capcom Fighting Evolution e Street Fighter Alpha Upper 3;
- Ainda existe somente um espaço de salvamento para todos os jogos, e agora ele sempre te joga para o início da batalha em que você parou;
- Ausência de crossplay.
Capcom Fighting Collection 2 — PC/PS4/Switch/XBO — Nota: 8.0
Versão utilizada para análise: PS4
Revisão: Heloísa D'Assumpção Ballaminut
Análise feita com cópia digital cedida pela Capcom
Capcom Fighting Collection 2
8.0
PS4
The arrival of Capcom Fighting Collection 2 sets a precedent for the amount of things that Capcom can still bring with its collections of classic fighting games. The quality of the emulations, as well as all the features and assets in the package, still maintains the bar of excellence very high. It is another excellent collection that is essential for fans of the genre.