Análise: Captain Blood naufraga como jogo, mas instiga como peça histórica

Captain Blood é uma pequena anomalia na indústria dos jogos. Originalmente planejado para Xbox e, posteriormente, para Xbox 360, o jogo da SeaWolf Studios, baseado em um romance de Rafael Sabatini de 1922, passou por uma direção conturbada, até que teve seu desenvolvimento encerrado.Agora, cerca de 20 anos depois, o título foi finalizado e lançado, mantendo todas as características que o marcariam como um produto daquela época. Mas será que ele ainda se sustenta para além de ser uma curiosidade preservada em tempos atuais?Resgatando donzela em apurosA aventura narra a história de Blood, que protege Port Royal de uma invasão de piratas espanhóis que tentam tomar a cidade. Ele, junto de alguns soldados locais e seu braço direito Walt, consegue espantar os intrusos e acaba encontrando Lorde Langford, refém do bando.Durante a calmaria, Langford oferece a Blood uma recompensa generosa para resgatar sua filha, que foi raptada durante um embate entre piratas e seu bando real. Agora, Blood, Walt e a tripulação partem para a missão em busca de honra, dinheiro e embates contra piratas espanhóis e britânicos.A história não se desenvolve muito além disso, servindo apenas como uma premissa e desculpa para visitarmos diversos locais diferentes. Não conhecia o livro antes do jogo, mas pelo pouco que vi, a obra literária dá mais contexto sobre quem é Blood e por que ele está na pirataria.Também não ajuda que a qualidade das atuações seja bem mediana, digna da era PS2. Além disso, elas ficam camufladas com o péssimo trabalho de mixagem com a música nas cenas, quase não dando para ouvir o que estão falando.O título até conta com legendas em português com uma boa qualidade de tradução. Contudo, a dessincronização com as falas é frequente, às vezes até sumindo antes de algum personagem terminar sua frase.O foco de Captain Blood está totalmente no combate, sendo muito familiar para quem jogou os hack ‘n slash da época. Muito inspirado em God of War, temos ataques fracos e fortes, um finalizador que mata inimigos mais fracos instantaneamente ou mais resistentes após serem enfraquecidos — e que são extremamente brutais e satisfatórios —, assim como uma esquiva no segundo analógico.Podemos acessar uma loja a qualquer momento com recursos coletados via exploração e pancadaria. É nela que está a tentativa de variedade para a jogabilidade, adicionando combos novos, mais finalizações, além de melhorias da barra de vida e fúria — recurso de buff temporário de força.Não obtemos armas diferentes conforme progredimos, mas podemos encontrar equipamentos temporários que ajudam em combate. Machados, rapieiras e armas de fogo são alguns dos recursos encontrados que podem dar uma ajuda contra multidões.O problema de Captain Blood está na repetitividade consequente de sua simplicidade. Estaremos sempre enfrentando as mesmas hordas de inimigos com cores diferentes, sem momentos de plataforma ou puzzles interessantes para quebrar o ritmo.O único momento de variedade fica para as batalhas navais, em que precisamos defender nosso veículo de uma frota. Diversos canhões são dispostos pelo convés, e vamos alternando entre eles para tentar causar maior dano nos oponentes, tomando cuidado para não levar uma bola na cabeça.Contudo, apesar de divertido nos primeiros minutos, essas batalhas ficam cansativas rapidamente devido à alta resistência dos navios inimigos e ao quão fácil é errar os disparos de canhão. Essa mesma reclamação de durabilidade dos oponentes vale também para os chefes, que demoram muito para serem derrotados e chegam até a repetir animações de Quick Time Events.Os tripulantes repedindo as mesmas duas falas por minutos também não ajudam muito nessas horas.O charme dos anos 2000À parte dos problemas de gameplay, Captain Blood tem um charme nostálgico na parte visual que me convenceu a arriscar essa aventura. Utilizando um estilo mais cartunesco, com personagens de proporções exageradas aliados a uma apresentação técnica digna do início da geração Xbox 360, esse é o ponto alto da aventura.Até mesmo a interface remete a algo de duas décadas atrás, com molduras que replicam a estética clássica de piratas e textos estilizados. Pode parecer brega, mas é um sopro de ar fresco em meio ao mar de interfaces simples e limpas de hoje em dia.Os ambientes são relativamente variados — como vilarejos, florestas e castelos — e são bem construídos, dado o contexto de um jogo de baixo orçamento dos anos 2000. O ponto fraco fica para algumas animações, especialmente durante as cutscenes.Creio que a ambientação ganharia muito mais se as músicas fossem mais empolgantes. Além dos problemas de mixagem já citados, elas são esquecíveis e até ausentes em momentos que deveriam ter algum acompanhamento musical, como em batalhas contra chefes.Preservação é importante, mesmo para jogos medianosCaptain Blood já seria um jogo mediano se tivesse sido lançado em sua época original. O combate não é polido, o design das fases é repetitivo, há uma reutilização constante de i

Mai 14, 2025 - 01:58
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Análise: Captain Blood naufraga como jogo, mas instiga como peça histórica
Captain Blood é uma pequena anomalia na indústria dos jogos. Originalmente planejado para Xbox e, posteriormente, para Xbox 360, o jogo da SeaWolf Studios, baseado em um romance de Rafael Sabatini de 1922, passou por uma direção conturbada, até que teve seu desenvolvimento encerrado.


Agora, cerca de 20 anos depois, o título foi finalizado e lançado, mantendo todas as características que o marcariam como um produto daquela época. Mas será que ele ainda se sustenta para além de ser uma curiosidade preservada em tempos atuais?

Resgatando donzela em apuros

A aventura narra a história de Blood, que protege Port Royal de uma invasão de piratas espanhóis que tentam tomar a cidade. Ele, junto de alguns soldados locais e seu braço direito Walt, consegue espantar os intrusos e acaba encontrando Lorde Langford, refém do bando.

Durante a calmaria, Langford oferece a Blood uma recompensa generosa para resgatar sua filha, que foi raptada durante um embate entre piratas e seu bando real. Agora, Blood, Walt e a tripulação partem para a missão em busca de honra, dinheiro e embates contra piratas espanhóis e britânicos.

A história não se desenvolve muito além disso, servindo apenas como uma premissa e desculpa para visitarmos diversos locais diferentes. Não conhecia o livro antes do jogo, mas pelo pouco que vi, a obra literária dá mais contexto sobre quem é Blood e por que ele está na pirataria.

Também não ajuda que a qualidade das atuações seja bem mediana, digna da era PS2. Além disso, elas ficam camufladas com o péssimo trabalho de mixagem com a música nas cenas, quase não dando para ouvir o que estão falando.

O título até conta com legendas em português com uma boa qualidade de tradução. Contudo, a dessincronização com as falas é frequente, às vezes até sumindo antes de algum personagem terminar sua frase.

O foco de Captain Blood está totalmente no combate, sendo muito familiar para quem jogou os hack ‘n slash da época. Muito inspirado em God of War, temos ataques fracos e fortes, um finalizador que mata inimigos mais fracos instantaneamente ou mais resistentes após serem enfraquecidos — e que são extremamente brutais e satisfatórios —, assim como uma esquiva no segundo analógico.

Podemos acessar uma loja a qualquer momento com recursos coletados via exploração e pancadaria. É nela que está a tentativa de variedade para a jogabilidade, adicionando combos novos, mais finalizações, além de melhorias da barra de vida e fúria — recurso de buff temporário de força.

Não obtemos armas diferentes conforme progredimos, mas podemos encontrar equipamentos temporários que ajudam em combate. Machados, rapieiras e armas de fogo são alguns dos recursos encontrados que podem dar uma ajuda contra multidões.

O problema de Captain Blood está na repetitividade consequente de sua simplicidade. Estaremos sempre enfrentando as mesmas hordas de inimigos com cores diferentes, sem momentos de plataforma ou puzzles interessantes para quebrar o ritmo.

O único momento de variedade fica para as batalhas navais, em que precisamos defender nosso veículo de uma frota. Diversos canhões são dispostos pelo convés, e vamos alternando entre eles para tentar causar maior dano nos oponentes, tomando cuidado para não levar uma bola na cabeça.

Contudo, apesar de divertido nos primeiros minutos, essas batalhas ficam cansativas rapidamente devido à alta resistência dos navios inimigos e ao quão fácil é errar os disparos de canhão. Essa mesma reclamação de durabilidade dos oponentes vale também para os chefes, que demoram muito para serem derrotados e chegam até a repetir animações de Quick Time Events.
Os tripulantes repedindo as mesmas duas falas por minutos também não ajudam muito nessas horas.

O charme dos anos 2000

À parte dos problemas de gameplay, Captain Blood tem um charme nostálgico na parte visual que me convenceu a arriscar essa aventura. Utilizando um estilo mais cartunesco, com personagens de proporções exageradas aliados a uma apresentação técnica digna do início da geração Xbox 360, esse é o ponto alto da aventura.

Até mesmo a interface remete a algo de duas décadas atrás, com molduras que replicam a estética clássica de piratas e textos estilizados. Pode parecer brega, mas é um sopro de ar fresco em meio ao mar de interfaces simples e limpas de hoje em dia.

Os ambientes são relativamente variados — como vilarejos, florestas e castelos — e são bem construídos, dado o contexto de um jogo de baixo orçamento dos anos 2000. O ponto fraco fica para algumas animações, especialmente durante as cutscenes.

Creio que a ambientação ganharia muito mais se as músicas fossem mais empolgantes. Além dos problemas de mixagem já citados, elas são esquecíveis e até ausentes em momentos que deveriam ter algum acompanhamento musical, como em batalhas contra chefes.

Preservação é importante, mesmo para jogos medianos

Captain Blood já seria um jogo mediano se tivesse sido lançado em sua época original. O combate não é polido, o design das fases é repetitivo, há uma reutilização constante de inimigos e as batalhas de navio não empolgam. Ao menos, a estética pirata aliada ao design mais caricato dá um toque charmoso e único, que ainda se destaca mesmo após tantos anos.

Mesmo assim, acredito que a preservação da indústria deve incluir até mesmo jogos mais medíocres. Captain Blood não só representa uma época dos videogames, como também nos permite jogar algo que ficou décadas engavetado. É datado, mas certamente tem seu valor histórico.

Prós: 

  • Visual que prova que um bom estilo artístico resiste ao tempo;
  • Armas obtidas temporariamente diversificam o combate e adicionam alguma variedade;
  • Animações de finalizações são visceralmente satisfatórias, dada a violência estilizada dos abates;
  • Curioso ver uma produção cancelada ser lançada vários anos depois.

Contras:

  • Combate repetitivo compromete o ritmo da jogabilidade;
  • Falta de seções de puzzle ou plataforma prejudica a variedade da experiência;
  • Batalhas navais se tornam rapidamente entediantes pela lentidão e repetição;
  • Mixagem de som mal equilibrada dificulta a compreensão dos diálogos nas cutscenes;
  • Legendas ficam constantemente dessincronizadas com as falas dos personagens.
Captain Blood — PC/PS4/PS5/XBO/XSX/Switch — Nota: 5.5
Versão utilizada para análise: PC
Revisão: Beatriz Casto
Análise produzida com cópia digital cedida pela SNEG
Captain Blood 5.5 PC Captain Blood would already be an average game if it had been released in its original era. The combat is unpolished, the level design is repetitive, there's constant reuse of enemies, and the ship battles aren't exciting. At the very least, the pirate aesthetic combined with the more cartoonish design gives it a charming and unique touch that still stands out even after all these years.