Elon Musk está construindo sua própria cidade, da qual ele quer “controlar o mundo”: será uma fortaleza tecnológica

No coração do Texas, uma nova cidade está sendo construída com um objetivo que ultrapassa os limites da Terra: Starbase, oficialmente reconhecida como município, é o centro de operações da SpaceX para conquistar Marte. Aprovada com 212 votos a favor e apenas 6 contra, a iniciativa de Elon Musk transformou um complexo industrial em uma cidade real, onde a empresa controla desde a infraestrutura até as decisões administrativas. O projeto não é apenas simbólico — é um experimento urbano que pode redefinir como corporações e cidades coexistem no futuro.

A ideia de criar Starbase surgiu como resposta a um problema prático. A SpaceX enfrentava constantes atrasos no desenvolvimento do Starship, sistema de foguetes projetado para viagens interplanetárias, devido a permissões burocráticas do condado de Cameron. Construir instalações, modificar terrenos ou até fechar estradas para testes exigia meses de negociações. Ao se tornar uma cidade, a empresa eliminou essas barreiras, assumindo o controle direto sobre licenças, zoneamento e serviços essenciais. Agora, decisões que antes dependiam de órgãos externos são resolvidas em reuniões internas, acelerando o ritmo de inovação.

A estrutura de governança de Starbase é tão incomum quanto sua missão. A cidade é administrada por uma comissão composta exclusivamente por executivos da SpaceX. Bobby Peden, vice-presidente de testes da empresa, foi nomeado prefeito, enquanto Jenna Petrzelka e Jordan Buss, também colaboradores de alto escalão, completam o grupo. Não houve eleições populares ou participação de moradores externos na escolha, o que gerou debates sobre a falta de representatividade. Para Elon Musk, porém, esse modelo é essencial: permite alinhar todas as ações ao objetivo final de estabelecer uma colônia humana em Marte.

Atualmente, apenas 260 funcionários vivem na área, mas a SpaceX já planeja expandir a infraestrutura para abrigar milhares. O desafio é grande — a região, próxima à cidade de Brownsville, carece de hospitais, escolas e moradias em escala suficiente. A solução da empresa inclui a construção de residências, centros médicos e instituições de educação próprios. Um exemplo é a escola Astra Nova, criada para os filhos dos colaboradores, com currículo focado em ciência e tecnologia. O plano é formar um ecossistema autossuficiente, onde os trabalhadores tenham tudo o que precisam sem sair dos domínios da SpaceX.

O conceito de “company town” não é novo. No século XX, indústrias como a Ford e a Pullman construíram vilas operárias para funcionários, controlando desde lojas até lazer. Porém, Starbase é uma versão moderna e ambiciosa desse modelo, combinando autonomia administrativa com uma visão que inclui exploração espacial. Paralelos também são traçados com cidades corporativas como Toyota City, no Japão, ou o campus da Huawei na China, que funcionam como polos de inovação fechados. A diferença é que Musk busca não apenas eficiência industrial, mas a fundação de uma civilização multiplanetária.

A expansão de Starbase, porém, enfrenta resistência. Grupos ambientalistas criticam os planos da SpaceX de ampliar seu território para áreas naturais próximas, como praias e reservas ecológicas. Testes de foguetes já causaram incidentes, como incêndios em zonas de preservação, aumentando preocupações sobre impactos no ecossistema local. Enquanto isso, moradores de Brownsville questionam a falta de transparência nas decisões da comissão municipal e o crescimento desequilibrado da região, que prioriza os interesses da empresa em detrimento de necessidades comunitárias.

Para além dos debates, o projeto segue em frente. A cada novo lançamento de teste do Starship, a cidade ganha mais relevância como símbolo de uma era em que corporações desafiam não apenas fronteiras tecnológicas, mas também geográficas e políticas. Se o plano der certo, Starbase pode se tornar um modelo replicado por outras empresas — ou servir de base para a primeira colônia humana em outro planeta. Enquanto isso, Elon Musk continua a investir em sua visão, provando que, às vezes, construir uma cidade do zero é mais simples do que enfrentar a lentidão dos sistemas existentes.

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