The Midnight Walk Review | Análise – Um teatro de miniatura marcante

De um tempo para cá, decidi voltar toda minha atenção para produções menores e indies. Todo aquele meu fascínio pela grandiosidade, fruto de títulos com altos orçamentos, de fato é empolgante e necessário para a indústria, porém as chances de presenciar algo inovador e criativo são escassas. Após recentes exemplos como South of Midnight e […] O post The Midnight Walk Review | Análise – Um teatro de miniatura marcante apareceu primeiro em Combo Infinito.

Mai 10, 2025 - 14:50
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The Midnight Walk Review | Análise – Um teatro de miniatura marcante

De um tempo para cá, decidi voltar toda minha atenção para produções menores e indies. Todo aquele meu fascínio pela grandiosidade, fruto de títulos com altos orçamentos, de fato é empolgante e necessário para a indústria, porém as chances de presenciar algo inovador e criativo são escassas. Após recentes exemplos como South of Midnight e Clair Obscur: Expedition 33, está claro que são essas produções que movimentam uma indústria que já atingiu seu platô criativo com os títulos AAA. The Midnight Walk é mais um nome que surge dentro do segmento indie com uma proposta artística diferente e cativante.

Desenvolvido pela Moon Hood, estúdio localizado na Suécia, cujos últimos trabalhos foram Lost in Random e Fe, The Midnight Walk estreou no último dia 8 nas plataformas PS5, PSVR2, PC e VR. Inclusive, recebemos para análise uma chave da versão de PC (Steam).

The Midnight Walk é aquele tipo de produto que exala arte em sua totalidade. Apostando em um design de argila, todo o mundo criado pela Moon Hood é feito à mão e, em seguida, levado para a realidade digital dos games. O resultado é uma obra peculiar e fascinante. Toda sua jornada é simplesmente um teatro de miniatura que eu sempre tive o desejo de experienciar — e a Moon Hood conseguiu realizar esse desejo pessoal. Mesmo com seu tom minimalista, o título vai além, e outras alegorias como trilha sonora e narrativa tornam a experiência em The Midnight Walk algo especial.

The Midnight Walk é uma aventura de fantasia sombria construída em argila. O jogador desperta nesse mundo, cujo destino é se tornar um “Queimado”. Ao longo da jornada, em um mundo tomado pela escuridão, você faz amizade com uma criatura que será sua lanterna — usando sua chama para iluminar o caminho através de um universo conflitante entre maravilhas e horror.

Acenda a chama em meio à escuridão

Mas essa jornada, que visa manter o fogo vivo, está repleta de desafios, quando criaturas ameaçadoras cruzam seu caminho. Não entrarei em detalhes da história para preservar sua experiência. No entanto, a narrativa de The Midnight Walk é uma obra de arte contada por meio de seu elenco secundário e de seu visual — ambos um verdadeiro capricho. O personagem jogável é mais um espectador (pois nunca fala), ao lado de sua lanterna supercarismática. Assim, o papel de protagonistas e de agentes essenciais na condução da história cabe aos NPCs e às criaturas deste mundo.

A ideia de fogo e sombras traz uma similaridade com a narrativa da franquia Dark Souls, criada pela FromSoftware. Não estou dizendo que The Midnight Walk é um Souls-like, mas que me remeteu à mesma dualidade entre luz e trevas, fogo e escuridão. O jogo não entrega explicitamente o destino do personagem, tampouco explica o que somos.

Em contrapartida, seus NPCs contextualizam o mundo e como ele chegou a esse estado. Para enriquecer ainda mais esse universo, há diversos áudios espalhados pelos cenários, com histórias narradas por personagens que não aparecem no jogo, mas que têm papel importante na expansão da mitologia. Além da história central, o jogo apresenta sub-histórias que tornam os personagens e o mundo ainda mais envolventes.

Em muitos momentos, essas narrativas paralelas são até mais cativantes do que a jornada principal. Um bom exemplo é um local habitado por criaturas sem braços e pernas, apenas com cabeças presas em troncos de árvores. O fato de o protagonista ter braços e pernas é considerado um insulto para eles. Esse lugar se chama Cabeçalândia — e ser visto ali é uma afronta. Mas há uma razão para essa rivalidade.

Em resumo, a narrativa de The Midnight Walk é uma obra de arte que apresenta histórias especiais e cheias de significado. Grande parte desse mérito está atrelada aos personagens, todos extremamente carismáticos.

Infelizmente sem o idioma em PT-BR

Infelizmente, o jogo não tem suporte ao nosso idioma (português do Brasil), o que é inadmissível. Apesar de se tratar de um estúdio indie e, portanto, de recursos limitados, há diversos idiomas disponíveis no jogo — então não há justificativa para a ausência do nosso. O Brasil não é mais um mercado tímido quando o assunto é videogame.

Há tempos apresentamos grandes números no consumo de jogos. Em pleno 2025, é um erro grave não oferecer o idioma português do Brasil. Mesmo com toda sua qualidade, The Midnight Walk pode não alcançar parte dos jogadores que não dominam inglês, espanhol ou os demais idiomas disponíveis.

Teatro de miniatura em forma de jogo

Desde sua primeira aparição, The Midnight Walk me impressionou por sua estética. Levar a arte da argila ao teatro de miniatura e transformá-la em um jogo com efeitos em stop motion é um dos maiores destaques do título. É um trabalho impecável, feito com cuidado, que torna toda essa construção visual cativante. Eu sempre tive vontade de conhecer um teatro de miniatura, e jogar The Midnight Walk foi a realização desse desejo — com uma história ainda por cima. Ao longo dos capítulos, somos apresentados a biomas distintos, cada um com sua flora e fauna únicas. Além dos personagens, temos criaturas que enriquecem ainda mais essa jornada.

É impossível não se maravilhar com o talento e criatividade presentes neste universo. As criaturas, com seus designs diversos e únicos, são uma extensão do próprio ambiente. Fortemente inspirado pela estética de Tim Burton, o jogo equilibra bem o sentimento de pavor e medo com a beleza e o encanto. Essa dualidade é a fórmula perfeita para criar um universo único e instigante. Utilizando a mecânica de luz e sombras, o personagem pode acessar locais secretos e enfrentar inimigos ao fechar os olhos. É uma mecânica simples, mas carregada de simbolismo — como se o jogo nos dissesse que há coisas que só enxergamos (ou sentimos) na escuridão. Luz e trevas se completam.

Durante a exploração, o jogo adota uma abordagem de survival horror. O responsável pelos momentos mais tensos é, sem dúvida, o design de áudio. Ele é eficaz ao criar tensão, e a trilha sonora complementa com perfeição o tom dramático e belo da aventura.

O fogo é seu grande aliado

Manter a chama acesa em um mundo envolto em trevas é o cerne da experiência — e esse contexto molda parte dos puzzles do jogo. Embora a criatividade nos puzzles esteja presente, eles raramente oferecem desafios reais. Na maioria das vezes, basta acender velas ou coletar partes de cadáveres. A progressão é óbvia, o que desaponta, dado o potencial criativo por trás dos cenários. Mesmo entendendo que o foco seja uma experiência mais narrativa e estética, oferecer enigmas mais desafiadores não comprometeria o tempo de jogo, que pode passar das 10 horas.

Com cenários que remetem a ruas abertas, o jogo oferece áreas pequenas para exploração — nada expansivo, mas recheado de colecionáveis como bonecos, arquivos de áudio e discos de vinil. Em alguns momentos, senti certa repetição na progressão dos capítulos, mas esses colecionáveis ajudaram a tornar a experiência menos monótona. Eles também são responsáveis por incentivar o fator replay.

Por fim, o jogo conta com versões para PS5, PC e VR. Entretanto, há um problema de calibração na sensibilidade no PC. Parece que não houve uma distinção adequada entre a versão de VR e a convencional, resultando em uma sensibilidade extremamente alta ao usar o controle — mesmo ajustando para o mínimo. Isso não afeta significativamente a jogabilidade, mas é um detalhe que merece ser destacado.

Mas afinal, The Midnight Walk é tudo isso mesmo?


The Midnight Walk é um teatro de miniatura feito em argila que traz uma narrativa envolvente e personagens ainda mais. Sua simplicidade e limitações apenas engrandecem sua mensagem e elevam os videogames à categoria de arte.

Depois de Lost in Random e Fe, a Moon Hood é mais um estúdio que transforma games em uma verdadeira forma de expressão artística. A ausência de legendas em PT-BR impede que esta linda experiência alcance mais jogadores no Brasil — o que é uma pena.

Veredito: The Midnight Walk é arte em forma de jogo. Sua narrativa instigante e sua estética em argila guiada através de uma apresentação que lembra bastante teatros de miniatura, além de todo seu elenco tornam esta história fantasiosa e macabra algo especial e única. A Moon Hood fez mais uma vez arte interativa. João Antônio

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von 10
2025-05-10T09:52:08-0300

Nós recebemos Doom The Dark Ages gratuitamente para review e agradecemos à Bethesda pela confiança.

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