EUA cortam orçamento da NASA para 2026 e colocam em risco amostras coletadas em Marte

O futuro das preciosas amostras marcianas está em risco. Depois de anos de planejamento cuidadoso e bilhões de dólares investidos, o projeto que traria as primeiras amostras de solo marciano para a Terra poderá ser cancelado por questões orçamentárias, gerando preocupação na comunidade científica internacional. Desde fevereiro de 2021, o rover Perseverance da NASA explora […]

Mai 13, 2025 - 11:54
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EUA cortam orçamento da NASA para 2026 e colocam em risco amostras coletadas em Marte

O futuro das preciosas amostras marcianas está em risco. Depois de anos de planejamento cuidadoso e bilhões de dólares investidos, o projeto que traria as primeiras amostras de solo marciano para a Terra poderá ser cancelado por questões orçamentárias, gerando preocupação na comunidade científica internacional.

Desde fevereiro de 2021, o rover Perseverance da NASA explora a Cratera Jezero em Marte, coletando e armazenando cuidadosamente amostras do solo em tubos lacrados. Parte dessas amostras já foi depositada na superfície marciana, enquanto outras permanecem armazenadas no próprio rover. Esses materiais são considerados extremamente valiosos, pois podem conter evidências da existência de vida passada no planeta vermelho.

Cortes orçamentários ameaçam retorno das amostras

O plano original, desenvolvido em conjunto pela NASA e pela Agência Espacial Europeia (ESA), previa o envio de futuras missões para recuperar essas amostras e trazê-las à Terra, onde poderiam ser analisadas com equipamentos sofisticados. Entretanto, o orçamento proposto para o ano fiscal de 2026 pelo presidente Trump, divulgado em 2 de maio, indica uma redução de 24,3% no financiamento total da NASA e um corte de 47% no orçamento destinado à ciência da agência.

Uma das principais vítimas desses cortes é o projeto Mars Sample Return (MSR). O orçamento proposto pela Casa Branca classifica o projeto como “extremamente acima do orçamento e cujos objetivos seriam alcançados por missões humanas a Marte”, apontando que o retorno das amostras não aconteceria antes da década de 2030.

A evolução e complexidade do projeto

Para entender por que essa missão se tornou tão cara, John Connolly, veterano da NASA com 36 anos de experiência, explica que o conceito do Mars Sample Return existe desde meados da década de 1970. “Sempre foi considerado o Santo Graal das missões robóticas a Marte e vem sendo estudado extensivamente há cinco décadas”, afirmou Connolly.

Ao longo dos anos, o projeto tornou-se mais complexo. Os conceitos originais não contemplavam os atuais requisitos de proteção planetária nem a necessidade de amostras cuidadosamente selecionadas. “O aumento dos requisitos do MSR naturalmente elevou a complexidade e o custo a cada nova versão do conceito da missão, até chegarmos ao design atual, que envolve múltiplos lançamentos, múltiplas espaçonaves e múltiplas transferências de amostras”, explicou.

A última estimativa de custo do projeto chegava a aproximadamente 11 bilhões de dólares, com o retorno das amostras previsto apenas para 2040, valores considerados excessivos pela própria NASA.

Benefícios científicos e tecnológicos

Apesar dos altos custos, especialistas defendem a importância do projeto. Bruce Jakosky, cientista sênior e professor emérito da Universidade do Colorado, afirma: “Nosso conhecimento sobre Marte chegou a um ponto em que as perguntas que fazemos só podem ser respondidas com amostras trazidas de volta. Decidir não trazê-las de volta, ou adiar indefinidamente para missões humanas, seria um grande retrocesso na exploração do sistema solar.”

Jakosky ressalta que o retorno dessas amostras permitiria avaliar riscos à saúde humana causados pela poeira marciana e substâncias químicas potencialmente tóxicas já identificadas no planeta. Além disso, seria “a demonstração da primeira viagem de ida e volta a Marte”, resolvendo questões importantes de proteção planetária.

Visões diferentes para o futuro da exploração marciana

Robert Zubrin, fundador da Mars Society, tem uma visão diferente sobre o cancelamento do MSR. Ele acredita que o futuro da exploração marciana poderia estar ligado ao sistema de lançamento Starship da SpaceX, imaginando uma sequência que começaria com robôs exploradores, seguida por expedições robóticas e, finalmente, missões tripuladas.

“Acho que isso é possível, mas exigiria foco total da NASA, SpaceX, Musk e da administração Trump”, afirmou Zubrin, que também alertou que o orçamento atual já prejudica as fases iniciais desse plano.

Para Jakosky, embora haja várias razões para enviar humanos a Marte, incluindo a “postura nacional e a inspiração”, tudo isso perde sentido se for apenas um espetáculo midiático. “A justificativa para enviar pessoas precisa ser suficientemente convincente para justificar o risco para elas e o custo das missões”, concluiu o cientista.