Impactos de Meteoros em Marte Revelam Segredos Subterrâneos do Planeta Vermelho
A superfície de Marte, assim como a de praticamente todos os corpos celestes do Sistema Solar, conta uma história fascinante através de suas inúmeras crateras. Essas marcas, que pontilham o terreno marciano, não são apenas cicatrizes de eventos catastróficos, mas verdadeiros livros abertos sobre a evolução e composição do planeta. Uma nova pesquisa liderada pela […]

A superfície de Marte, assim como a de praticamente todos os corpos celestes do Sistema Solar, conta uma história fascinante através de suas inúmeras crateras. Essas marcas, que pontilham o terreno marciano, não são apenas cicatrizes de eventos catastróficos, mas verdadeiros livros abertos sobre a evolução e composição do planeta. Uma nova pesquisa liderada pela Universidade Brown acaba de revelar que essas crateras podem ser ainda mais informativas do que se pensava anteriormente, funcionando como janelas para o que existe abaixo da superfície marciana.
A Superfície Marciana e sua História de Impactos
Quando observamos qualquer corpo celeste no Sistema Solar, desde a Lua até Mercúrio, passando por Marte e pelas luas geladas dos planetas externos, todos compartilham uma característica comum: uma longa história de impactos. A superfície desses objetos está repleta de crateras de diversos tamanhos e idades, cada uma contando parte da história evolutiva desses corpos celestes e das forças que os moldaram ao longo de bilhões de anos.
No caso específico de Marte, essas crateras são particularmente importantes. O Planeta Vermelho, com sua atmosfera rarefeita, não possui os mesmos processos erosivos intensos que temos na Terra, o que permite que as crateras se preservem por muito mais tempo. Isso transforma a superfície marciana em um verdadeiro registro geológico dos eventos que ocorreram ao longo de sua história, desde os primórdios do Sistema Solar até eventos relativamente recentes.
As crateras marcianas variam enormemente em tamanho e características. Algumas são pequenas depressões de poucos metros, enquanto outras são estruturas gigantescas com centenas de quilômetros de diâmetro. Cada uma dessas formações guarda informações valiosas sobre a energia do impacto que a criou, a época em que ocorreu e, como descoberto recentemente, sobre o que existe abaixo da superfície no local do impacto.
Para entender a importância dessas crateras, precisamos primeiro compreender como elas se formam. Quando um meteoroide – um fragmento de rocha ou metal que viaja pelo espaço – colide com a superfície de um planeta ou lua com velocidade suficiente (geralmente dezenas de milhares de quilômetros por hora), a energia cinética do impacto é transferida para o solo. Esta transferência de energia é tão violenta que causa uma explosão, vaporizando parte do meteoroide e do solo, e expelindo material para fora do ponto de impacto. O resultado é uma depressão circular – a cratera – cercada por material ejetado.
Em nosso planeta, a Terra, as crateras de impacto são relativamente raras de se observar. Isso ocorre porque nosso planeta possui processos geológicos ativos, como erosão, tectonismo e vulcanismo, além de uma atmosfera densa que destrói muitos meteoroides antes que atinjam a superfície. Além disso, cerca de 70% da superfície terrestre é coberta por oceanos, o que significa que muitos impactos ocorrem na água e não deixam marcas permanentes. Os processos erosivos causados pelo vento, água e gelo, juntamente com a atividade tectônica, tendem a apagar as crateras ao longo do tempo geológico.
Marte, por outro lado, é um verdadeiro museu de crateras. Com uma atmosfera muito mais rarefeita que a terrestre (menos de 1% da densidade da nossa atmosfera), o Planeta Vermelho não oferece a mesma proteção contra objetos vindos do espaço. Além disso, Marte não possui placas tectônicas ativas como a Terra, e sua atividade vulcânica diminuiu drasticamente há bilhões de anos. Os processos erosivos também são muito mais lentos, principalmente porque a água líquida, um dos principais agentes erosivos na Terra, é extremamente rara na superfície marciana atual.
O resultado é que as crateras em Marte se preservam por períodos de tempo incrivelmente longos. Algumas das crateras marcianas mais antigas têm mais de 4 bilhões de anos, remontando à época conhecida como “Bombardeio Pesado Tardio”, um período da história do Sistema Solar em que impactos eram muito mais frequentes do que são hoje. Estas crateras antigas são testemunhas silenciosas da juventude turbulenta do nosso sistema planetário.
A Nova Pesquisa: Ejecta como Indicador da Composição Subterrânea
Uma equipe de pesquisadores liderada por Aleksandra Sokolowska, pesquisadora do Departamento de Ciências da Terra e Engenharia do Imperial College London, acaba de publicar um estudo revolucionário que pode mudar a forma como analisamos as crateras marcianas. Sokolowska, que realizou o trabalho como pesquisadora de pós-doutorado na Universidade Brown, contou com a colaboração de Gareth S. Collins, professor do mesmo departamento no Imperial College, Ingrid J. Daubar, professora associada do Departamento de Ciências da Terra, Ambientais e Planetárias da Universidade Brown, e Dr. Martin Jutzi, Privatdozent do Instituto de Física da Universidade de Berna.
O estudo, publicado no prestigiado Journal of Geophysical Research: Planets, demonstra que não apenas o tamanho e a forma das crateras podem fornecer informações sobre o subsolo, mas também o padrão de ejecta – o material expelido durante o impacto que se deposita ao redor da cratera – pode ser um indicador valioso da composição subterrânea.
Por décadas, os cientistas têm examinado o tamanho e a forma das crateras em corpos extraterrestres para aprender sobre o que existe abaixo da superfície. De acordo com a pesquisa de Sokolowska, as camadas de rocha e outros materiais ejetados produzidos por um impacto podem variar em tamanho dependendo da composição dos materiais abaixo do ponto de impacto. Vários fatores desempenham um papel na alteração das características de uma cratera, incluindo a resistência do material subsuperficial e sua porosidade.
Como explicou Sokolowska em um comunicado da Universidade Brown: “Historicamente, os pesquisadores têm usado o tamanho e a forma das crateras de impacto para inferir as propriedades dos materiais na subsuperfície. Mas mostramos que o tamanho do manto de ejecta ao redor de uma cratera também é sensível às propriedades da subsuperfície. Isso nos dá um novo observável na superfície para ajudar a restringir os materiais presentes no subsolo.”
Esta técnica inovadora permite que os cientistas estudem o interior de planetas a partir da órbita, sem a necessidade de pousar e coletar amostras de perfuração, o que representa uma vantagem significativa para a exploração planetária remota.
Como Funciona a Técnica de Análise de Ejecta
Para entender a importância desta descoberta, é fundamental compreender o que é ejecta e como ela se forma. Quando um meteoroide atinge a superfície de um planeta ou lua com velocidade suficiente, a energia cinética do impacto é transferida para o solo, causando uma explosão que expele material para fora da cratera recém-formada. Este material expelido é o que chamamos de ejecta, e ele se deposita ao redor da cratera formando um padrão característico conhecido como “manto de ejecta”.
O estudo conduzido por Sokolowska e seus colegas buscou determinar se esse manto de ejecta poderia fornecer informações adicionais sobre a composição do subsolo. Para isso, a equipe utilizou modelos computacionais co-desenvolvidos por Collins que simulam a física dos impactos planetários. Estas simulações permitiram variar as características dos materiais abaixo da superfície, testando diferentes configurações: camada única, camadas múltiplas ou materiais misturados. Além disso, os pesquisadores também variaram os próprios materiais, incluindo rocha sólida, sedimentos, rocha solta com gelo e gelo glacial sólido.
Os resultados foram surpreendentes. As simulações demonstraram que estas diferentes características produzem uma ampla variedade de padrões de ejecta. Em outras palavras, o tamanho e a distribuição do material expelido variam significativamente dependendo do que existe abaixo da superfície no local do impacto. Isso significa que, ao analisar cuidadosamente o padrão de ejecta de uma cratera, os cientistas podem fazer inferências sobre a composição do subsolo sem precisar perfurar ou escavar.
Podemos fazer uma analogia com o que acontece quando um médico realiza um exame de ultrassom. As ondas sonoras emitidas pelo aparelho atravessam diferentes tecidos do corpo humano, e cada tecido reflete essas ondas de maneira distinta, permitindo a criação de uma imagem do interior do corpo. De forma semelhante, as ondas de choque de um impacto meteórico “sondam” o interior do planeta, e o padrão de ejecta resultante reflete as propriedades dos materiais encontrados.
Vários fatores influenciam as características finais de uma cratera e seu manto de ejecta. A resistência do material subsuperficial é um deles: materiais mais resistentes, como rocha sólida, tendem a produzir padrões diferentes de materiais mais frágeis ou porosos, como gelo ou sedimentos. A porosidade também desempenha um papel crucial, pois afeta como a energia do impacto se propaga através do material. Todos esses fatores combinados criam assinaturas distintas que podem ser observadas e medidas a partir da órbita.
Estudo de Caso: Crateras Recentes em Marte
Para testar suas conclusões teóricas, a equipe examinou duas crateras de impacto recentes em Marte, que já eram conhecidas por terem se formado sobre rocha sólida e sobre gelo subsuperficial, respectivamente. Como esses impactos eram recentes, os materiais ejetados ainda não haviam sofrido erosão significativa, o que facilitou a medição de sua distância do local do impacto.
Os resultados foram consistentes com as previsões dos modelos: o padrão de ejecta sobre o local com rocha sólida era muito maior do que o padrão sobre o local com gelo subsuperficial. Esta diferença significativa confirmou que as variações no raio de ejecta refletem propriedades da subsuperfície, validando a técnica proposta pela equipe.
“As diferenças no raio de ejecta podem ser bastante grandes, e prevemos que poderiam ser medidas a partir da órbita com a câmera HiRISE a bordo do Mars Reconnaissance Orbiter”, afirmou Sokolowska. “Uma vez que o método seja completamente testado, ele pode se tornar uma nova ferramenta promissora para investigar propriedades da subsuperfície. Transformar este trabalho de prova de conceito em uma ferramenta é o tema da minha atual bolsa no Imperial College.”
Esta descoberta é particularmente importante para a busca por gelo subsuperficial em Marte. O gelo é um recurso crucial para futuras missões tripuladas ao planeta, pois pode ser processado para obter água potável, oxigênio respirável e até mesmo combustível para foguetes. Identificar locais com depósitos de gelo a partir da órbita, sem a necessidade de enviar equipamentos de perfuração, representaria uma vantagem logística e econômica significativa para o planejamento de missões.
Gelo Marciano e Exploração Humana: Por Que a Descoberta Importa
A capacidade de identificar depósitos de gelo subsuperficial em Marte a partir da órbita não é apenas uma curiosidade científica – é um avanço potencialmente revolucionário para o futuro da exploração espacial humana. O gelo marciano representa um dos recursos mais valiosos para futuras missões tripuladas ao Planeta Vermelho, e a técnica desenvolvida por Sokolowska e sua equipe pode ser fundamental para localizar esses depósitos.
Mas por que o gelo é tão importante para a exploração de Marte? A resposta está na versatilidade deste recurso aparentemente simples. O gelo de água (H₂O) pode ser processado para obter três elementos essenciais para missões espaciais de longa duração: água potável, oxigênio respirável e hidrogênio para combustível.
A água, obviamente, é essencial para a sobrevivência humana. Um astronauta em Marte precisaria de aproximadamente 2 a 4 litros de água por dia para beber, preparar alimentos e higiene pessoal. Transportar toda essa água da Terra seria extremamente caro e logisticamente desafiador. Para contextualizar, o custo para enviar 1 kg de carga a Marte pode ultrapassar US$ 50.000, dependendo da missão. Uma missão de três anos com seis astronautas exigiria toneladas de água, tornando o uso de recursos locais (conhecido como ISRU – In-Situ Resource Utilization) não apenas desejável, mas necessário.
Além disso, a água pode ser separada em seus componentes básicos – hidrogênio e oxigênio – através de um processo chamado eletrólise. O oxigênio obtido pode ser utilizado para respiração, enquanto o hidrogênio, combinado com dióxido de carbono da atmosfera marciana, pode ser convertido em metano (CH₄) através da reação de Sabatier, criando combustível para foguetes. Esta capacidade de “fabricar” combustível em Marte seria crucial para missões de retorno à Terra ou para exploração de longo prazo da superfície marciana.
Os depósitos de gelo em Marte não estão distribuídos uniformemente pelo planeta. Grandes quantidades de gelo estão concentradas nas regiões polares, onde formam calotas polares visíveis mesmo de telescópios terrestres. No entanto, estas regiões experimentam temperaturas extremamente baixas e longos períodos de escuridão durante o inverno marciano, tornando-as desafiadoras para estabelecimento de bases humanas.
O verdadeiro prêmio são os depósitos de gelo subsuperficial em latitudes médias, onde as condições são mais amenas. Evidências de radar e observações de crateras recentes sugerem que existem extensas camadas de gelo a poucos metros abaixo da superfície em muitas regiões de latitude média. Estes depósitos seriam muito mais acessíveis para futuras missões humanas.
É aqui que a técnica desenvolvida por Sokolowska se torna particularmente valiosa. Ao analisar os padrões de ejecta de crateras recentes, os cientistas poderiam mapear a distribuição de gelo subsuperficial em diferentes regiões de Marte, identificando locais ideais para o pouso de missões tripuladas. Estes seriam lugares onde os astronautas teriam acesso relativamente fácil a gelo, mas também desfrutariam de condições ambientais mais favoráveis do que nos polos.
Aplicações Práticas para Exploração Marciana
A equipe indica que este método pode ser extremamente útil para missões atuais e futuras que continuam a explorar Marte em busca de pistas sobre seu passado e possíveis locais para o pouso de missões tripuladas no futuro. O Mars Reconnaissance Orbiter (MRO), equipado com a câmera de alta resolução HiRISE (High Resolution Imaging Science Experiment), é particularmente adequado para aplicar esta técnica.
A HiRISE é capaz de capturar imagens da superfície marciana com resolução suficiente para identificar objetos do tamanho de uma mesa. Esta capacidade permite que os cientistas meçam com precisão o raio dos mantos de ejecta ao redor de crateras recentes, aplicando a técnica desenvolvida por Sokolowska e sua equipe para mapear a distribuição de diferentes materiais subsuperficiais em Marte.
Um mapeamento detalhado dos recursos subsuperficiais de Marte seria inestimável para o planejamento de futuras missões. Conhecer a localização de depósitos de gelo, por exemplo, permitiria selecionar locais de pouso próximos a esses recursos essenciais. Além disso, compreender a composição geológica do subsolo marciano em diferentes regiões ajudaria os cientistas a reconstruir a história geológica do planeta e possivelmente identificar áreas que possam ter abrigado condições favoráveis à vida no passado.
A transformação desta técnica de prova de conceito em uma ferramenta prática é o foco atual do trabalho de Sokolowska em sua bolsa no Imperial College London. O refinamento da metodologia, a calibração dos modelos com base em dados reais e o desenvolvimento de protocolos de análise são passos essenciais para que esta abordagem se torne parte do arsenal de técnicas utilizadas pelos cientistas planetários.
Da Teoria à Prática: Transformando Descobertas em Ferramentas
O trabalho de Sokolowska e sua equipe representa o que os cientistas chamam de “prova de conceito” – uma demonstração de que uma ideia teórica funciona na prática. No entanto, há um longo caminho entre uma prova de conceito e uma ferramenta prática e confiável que possa ser utilizada rotineiramente por cientistas planetários e planejadores de missões.
Como a própria Sokolowska mencionou, transformar este trabalho inicial em uma ferramenta útil é o foco de sua atual bolsa no Imperial College London. Este processo envolve várias etapas cruciais que merecem ser exploradas.
Primeiro, a metodologia precisa ser refinada e padronizada. Os pesquisadores precisam estabelecer protocolos claros para medir os raios de ejecta, considerando fatores como a topografia local, a idade da cratera (que afeta a erosão do manto de ejecta) e as condições de iluminação nas imagens orbitais (que podem afetar a visibilidade dos limites da ejecta).
Em seguida, a técnica precisa ser calibrada com base em um conjunto maior de crateras “de controle” – crateras cuja composição subsuperficial já é conhecida por outros métodos. Isto permitiria estabelecer relações quantitativas mais precisas entre o raio de ejecta e propriedades específicas do subsolo, como a profundidade da camada de gelo ou a proporção de gelo em misturas de rocha e gelo.
A equipe também precisará desenvolver métodos para lidar com a variabilidade natural. Nem todos os impactos são iguais – eles ocorrem com diferentes velocidades, ângulos e tamanhos de projétil. Estas variáveis afetam o processo de formação da cratera e, consequentemente, o padrão de ejecta. Técnicas estatísticas e normalização de dados serão necessárias para isolar o efeito da composição subsuperficial de outros fatores.
Outro desafio é a integração desta técnica com outros métodos de sensoriamento remoto. A análise de ejecta fornece informações valiosas, mas tem suas limitações. Combiná-la com dados de espectrômetros, radares de penetração no solo e outros instrumentos permitiria uma caracterização mais completa e confiável do subsolo marciano.
Além de Marte: Aplicações em Asteroides e Defesa Planetária
A técnica desenvolvida por Sokolowska e sua equipe tem aplicações que se estendem muito além do estudo de Marte. Um exemplo particularmente fascinante é sua potencial utilidade no estudo de asteroides, especialmente no contexto da missão Hera da Agência Espacial Europeia (ESA) ao sistema de asteroide duplo Didymos.
Para entender a importância desta aplicação, precisamos primeiro compreender o que foi a missão DART (Double Asteroid Redirect Test) da NASA. Em 26 de setembro de 2022, uma sonda espacial do tamanho de uma máquina de lavar roupas colidiu deliberadamente com Dimorphos, um pequeno asteroide de aproximadamente 160 metros de diâmetro que orbita Didymos, um asteroide maior com cerca de 780 metros. Esta colisão não foi um acidente – foi o primeiro teste real de uma tecnologia que poderia um dia salvar nosso planeta de um impacto catastrófico.
A ideia por trás da missão DART é conceitualmente simples: se detectarmos um asteroide em rota de colisão com a Terra com antecedência suficiente, poderíamos enviar uma espaçonave para colidir com ele, alterando ligeiramente sua trajetória. Mesmo uma mudança minúscula na velocidade do asteroide, se aplicada anos antes do potencial impacto, resultaria em uma grande mudança na trajetória ao longo do tempo, potencialmente transformando um impacto direto em uma passagem segura.
O teste foi um sucesso – a colisão alterou o período orbital de Dimorphos ao redor de Didymos em aproximadamente 32 minutos, uma mudança muito maior do que o mínimo considerado bem-sucedido pelos cientistas da missão. No entanto, para que esta técnica de defesa planetária seja verdadeiramente eficaz, precisamos entender melhor como diferentes tipos de asteroides respondem a impactos.
É aqui que entra a missão Hera da ESA. Programada para chegar ao sistema Didymos em 2026, a Hera examinará em detalhes a cratera criada pelo impacto da DART, bem como as mudanças na órbita e rotação de Dimorphos. Estas observações fornecerão dados cruciais para refinar nossos modelos de defesa planetária.
Como Sokolowska apontou, a análise do padrão de ejecta produzido pelo impacto da DART poderia revelar informações valiosas sobre a estrutura interna de Dimorphos. Isto é particularmente importante porque a estrutura interna dos asteroides é uma das maiores incógnitas na ciência planetária atual.
Alguns asteroides são o que os cientistas chamam de “pilhas de escombros” – aglomerados soltos de rochas e poeira mantidos juntos apenas pela gravidade, com grandes espaços vazios entre os componentes. Outros são monolitos sólidos, fragmentos de corpos maiores que foram quebrados por colisões antigas. A maioria provavelmente está em algum lugar entre esses extremos.
A forma como um asteroide responde a um impacto depende crucialmente de sua estrutura interna. Um asteroide tipo “pilha de escombros” absorveria parte da energia do impacto através do rearranjo de seus componentes, como um saco de areia absorve o impacto de uma bala. Um monolito sólido, por outro lado, transmitiria a energia do impacto de maneira mais eficiente, resultando em uma maior alteração de sua trajetória.
O Futuro da Exploração Marciana: Uma Nova Era de Descobertas
À medida que olhamos para o futuro da exploração de Marte, fica claro que estamos no limiar de uma nova era de descobertas. As próximas décadas provavelmente verão os primeiros humanos pisando na superfície marciana, marcando um dos maiores feitos da história da exploração.
A NASA planeja enviar astronautas a Marte na década de 2030, enquanto empresas privadas como a SpaceX têm ambições ainda mais ousadas, com planos para estabelecer uma presença humana permanente no Planeta Vermelho. Estas missões enfrentarão desafios sem precedentes, desde a proteção contra a radiação cósmica até a produção de alimentos em um ambiente alienígena.
O sucesso destas missões dependerá crucialmente de nossa capacidade de utilizar os recursos disponíveis em Marte – o conceito de ISRU (In-Situ Resource Utilization) mencionado anteriormente. E para utilizar eficientemente estes recursos, precisamos primeiro saber onde eles estão e como acessá-los.
É neste contexto que técnicas como a desenvolvida por Sokolowska e sua equipe se tornam verdadeiramente revolucionárias. Ao permitir o mapeamento de recursos subsuperficiais a partir da órbita, elas fornecem informações essenciais para o planejamento de missões, potencialmente economizando bilhões de dólares e reduzindo significativamente os riscos para os astronautas.
Imagine um cenário em que os primeiros exploradores marcianos pousam em um local cuidadosamente selecionado, onde análises prévias de padrões de ejecta indicaram a presença de gelo a apenas alguns metros de profundidade. Com equipamentos relativamente simples, eles poderiam acessar este gelo, processá-lo para obter água potável e oxigênio respirável, e até mesmo produzir combustível para exploração local ou para o retorno à Terra.
Além dos recursos práticos, o mapeamento da composição subsuperficial de Marte também tem implicações profundas para a busca por vida passada ou presente no planeta. Sabemos que Marte já foi muito mais quente e úmido no passado, com rios, lagos e possivelmente até mesmo oceanos em sua superfície. À medida que o planeta esfriou e perdeu grande parte de sua atmosfera, esta água não desapareceu completamente – muito dela foi incorporada ao subsolo na forma de gelo ou minerais hidratados.
Se a vida surgiu em Marte durante seu período úmido inicial, é possível que tenha encontrado refúgio no subsolo quando as condições superficiais se tornaram hostis. Regiões com gelo subsuperficial, especialmente aquelas onde o gelo pode ocasionalmente derreter devido a fontes de calor geotérmico, são candidatas promissoras para abrigar vida microbiana marciana – se ela existir.
Conclusão: Quando Destruição Gera Conhecimento
Há uma ironia fascinante no fato de que eventos catastróficos como impactos de meteoros, que têm o potencial de causar destruição massiva, também podem ser fontes valiosas de conhecimento científico. As crateras resultantes desses impactos funcionam como janelas naturais para o interior de mundos distantes, permitindo que os cientistas estudem o que normalmente estaria oculto sob camadas de rocha e solo.
A pesquisa liderada por Aleksandra Sokolowska e sua equipe representa um avanço significativo na nossa capacidade de extrair informações dessas “janelas”. Ao demonstrar que os padrões de ejecta ao redor de crateras podem revelar a composição do subsolo, eles adicionaram uma nova e poderosa ferramenta ao arsenal da ciência planetária.
Para Marte, as implicações são particularmente importantes. À medida que a humanidade se prepara para enviar astronautas ao Planeta Vermelho nas próximas décadas, a capacidade de mapear recursos subsuperficiais a partir da órbita será crucial para o planejamento de missões. Localizar depósitos de gelo, identificar áreas geologicamente estáveis para construção e encontrar regiões de interesse científico são todos objetivos que podem ser auxiliados por esta nova técnica.
Além disso, a compreensão da composição subsuperficial de Marte nos ajuda a desvendar a história do planeta. Sabemos que Marte já foi muito diferente do mundo árido que vemos hoje – com oceanos, lagos e possivelmente até mesmo vida. Os segredos dessa transformação dramática estão escritos nas rochas e no gelo abaixo da superfície, esperando para serem descobertos.
À medida que continuamos a explorar o Sistema Solar, técnicas como a desenvolvida por Sokolowska e sua equipe nos lembram que há muito a ser aprendido não apenas olhando para novos lugares, mas também olhando de novas maneiras para lugares que já conhecemos. As crateras de Marte, observadas por décadas, ainda têm novos segredos para revelar – basta sabermos como interpretá-las corretamente.
Em um futuro não muito distante, quando os primeiros astronautas pisarem em Marte, eles poderão agradecer a esta pesquisa por ajudar a identificar os melhores locais para exploração e estabelecimento. E enquanto contemplam as crateras na paisagem marciana, poderão apreciar como esses testemunhos de colisões cósmicas não são apenas cicatrizes de destruição, mas também portais para o conhecimento que nos ajudaram a chegar até lá.
FONTE:
https://www.universetoday.com/articles/meteor-impacts-on-mars-can-excavate-its-secrets