Em mais um título que segue a tendência dos roguelites de sobrevivência no estilo bullet heaven,
Asgard’s Fall apresenta elementos já conhecidos do gênero, mas se destaca ao explorar de forma criativa a mitologia nórdica. O resultado é uma experiência que vai além da simples evolução do personagem criada para causar caos na tela e entre as incontáveis hordas de inimigos.
Conquiste Asgard
Asgard’s Fall nos conduz por uma aventura imersa na rica mitologia nórdica. No controle de três heróis — um guerreiro, uma caçadora e um vidente — o jogador atravessa os nove reinos enfrentando hordas caóticas de criaturas para combater os Aesir e as imponentes entidades que habitam os diversos mundos do jogo.
O objetivo é sobreviver por 20 minutos em cada reino, derrubando dezenas de inimigos por segundo e aprimorando habilidades para se tornar mais forte e resistente. Com o passar do tempo, os inimigos se tornam mais poderosos e aparecem em maior quantidade, elevando progressivamente o nível de dificuldade.
Para lidar com isso, é necessário coletar as gemas deixadas pelos inimigos abatidos. Elas permitem subir de nível e, a cada evolução, permitem que o jogador escolha novas armas e habilidades para montar uma build capaz de conquistar o reino. Em cada fase, um chefe intermediário aparece aos 10 minutos, enquanto o chefe principal surge aos 20 minutos. Vencê-los garante itens valiosos usados para desbloquear aprimoramentos e acessar o próximo reino.
Após cada incursão, os heróis sobem de nível e recebem pontos que podem ser distribuídos em melhorias permanentes, como: aumento de vida ou armadura, modificação do ataque básico, aquisição de habilidades exclusivas e outras vantagens.
Apesar disso, Asgard’s Fall não se distancia muito de outros títulos do gênero, como o consagrado Vampire Survivors e outros jogos que se destacam ao oferecer dinâmicas únicas e envolventes.
Além de armas e habilidades
É nesse ponto que Asgard’s Fall consegue imprimir sua personalidade e se destacar em meio à enxurrada de experiências semelhantes. O grande diferencial está em sua mecânica de construção de personagem, que adiciona profundidade à jogabilidade e recompensa escolhas estratégicas.
Além da seleção de armas a cada subida de nível, o jogador também pode escolher melhorias passivas para moldar os atributos de seus heróis. Esses aprimoramentos incluem aumento de vida, reforço de armadura, velocidade de movimento, efeitos elementais, entre outros. Assim como as armas, essas melhorias são oferecidas de forma aleatória e precisam ser alocadas em uma estrutura chamada Teia de Wyrd.
A Teia é uma grade na qual a posição de cada nó influencia diretamente na ativação de habilidades passivas poderosas. Algumas dessas habilidades exigem conexões específicas ou que uma certa quantidade de energia fornecida por nós adjacentes seja utilizada para serem ativadas ou fortalecidas. Esse sistema traz uma camada estratégica essencial que exige planejamento cuidadoso do jogador sobre onde alocar cada melhoria.
Existem também os nós que funcionam como multiplicadores, aumentando exponencialmente sua eficácia conforme a configuração da teia. Compreender essa mecânica e utilizá-la de forma eficiente é, sem dúvida, um dos maiores diferenciais da experiência em Asgard’s Fall. Posicionar os nós de forma estratégica e antecipar sinergias com futuras bênçãos, faz uma grande diferença — especialmente nos momentos mais intensos da partida, após os primeiros 10 minutos.
Outro elemento único do jogo é o sistema de aprimoramento dinâmico chamado Pintura de Guerra. Essa funcionalidade impacta todos os personagens jogáveis e permite ao jogador personalizar os atributos dos heróis com liberdade, variando entre melhorias sutis e significativas, conforme os recursos disponíveis.
A Pintura de Guerra é uma grade na qual as runas — obtidas durante as partidas ou fabricadas com recursos coletados — são posicionadas para oferecer bônus imediatos. A criatividade é essencial para aproveitar ao máximo esse sistema: enquanto as runas básicas são pequenas e fáceis de empilhar, as mais poderosas possuem formatos e tamanhos irregulares, exigindo um verdadeiro domínio tático digno de um mestre em Tetris para que possam ser encaixadas eficientemente no espaço disponível.
Como sempre, há o que melhorar
Lançado recentemente em Acesso Antecipado, Asgard’s Fall já apresenta uma boa quantidade de conteúdo e deixa clara sua proposta, evitando ser apenas mais um “survivors” perdido na loja. As dinâmicas da Teia de Wyrd e da Pintura de Guerra foram os aspectos que mais me motivaram a jogar, com o objetivo de obter recursos para me tornar mais poderoso de forma geral, sem depender exclusivamente das habilidades únicas dos três heróis disponíveis neste início.
Ainda assim, há espaço para melhorias. O principal ponto está no balanceamento dos inimigos, que, na minha opinião, evoluem rápido demais em comparação ao progresso do herói. Isso fica evidente quando, mesmo após adquirir armas e habilidades ao longo da partida, o desempenho demora a se destacar — especialmente considerando que em cerca de dois minutos até os inimigos mais fracos já se mostram mais poderosos que o personagem.
Outro ponto de atenção é o sistema de evolução das armas. Apesar de haver uma tela no hub inicial que sugere como esse recurso funciona, não consegui fazer com que ele operasse corretamente, mesmo atendendo os requisitos indicados. Além disso, a limitação de poder consultar essas informações apenas no hub compromete a conveniência durante a partida, dificultando a tomada de decisões estratégicas.
Embora o jogo conte com localização para o português, ainda encontrei trechos não traduzidos e outros sem qualquer informação. Embora seja um detalhe menor em relação aos demais pontos, vale a observação. Por outro lado, as atualizações estão sendo frequentes, e novas melhorias e conteúdos devem ser implementados em breve, o que é positivo tanto para os jogadores quanto para os desenvolvedores.
No geral, Asgard’s Fall já estreia de forma promissora e demonstra potencial para se destacar dentro de um gênero que começa a mostrar sinais de saturação. Em um cenário cada vez mais competitivo, criatividade no que diz respeito a temas e mecânicas tem se tornado um fator decisivo para transformar boas ideias em sucessos duradouros.
Não tão épico, mas promissor
Asgard’s Fall chega ao Acesso Antecipado com uma base sólida e boas ideias que o diferenciam dentro de um gênero saturado. Mesmo enfrentando desafios pontuais, como ajustes de balanceamento, evoluções pouco claras e pequenas falhas de localização, o jogo já demonstra um cuidado com a experiência do jogador e potencial para crescer ainda mais.
Com atualizações frequentes e uma proposta mecânica interessante — especialmente com a Teia de Wyrd e a Pintura de Guerra —, o título mostra que não quer apenas surfar na popularidade dos roguelites de sobrevivência, mas sim fincar sua própria lança nesse panteão competitivo. Se continuar nesse ritmo, pode muito bem se tornar um nome de destaque entre os fãs do gênero.
Revisão: Juliana Piombo dos Santos
Texto de impressões produzido com chave de acesso cedida pela Assemble Entertainment