Você pode (ainda) não estar viciado em telas, apenas mal educado para usá-las

A provocação do título é da psicóloga, doutora em saúde mental e uma das fundadoras do Instituto Delete, Anna Lucia Spear King. Em entrevista à Agência Brasil (EBC), a especialista explica que acordar e olhar o celular ou almoçar e jantar diante de telas não caracteriza, necessariamente, um vício patológico. Pode se tratar, apenas (e ainda), de uma má educação para o uso da tecnologia. Nomofobia | Conheça o temido vício em celular Como encarar a nomofobia e reduzir dependência do celular Sendo assim, impor limites é fundamental para evitar prejuízos do uso exagerado e impedir o avanço para o quadro de uma dependência excessiva, que é mais difícil de reverter. As pessoas confundem, acham que só porque usam todos os dias por muitas horas, são viciadas no rigor da palavra. Mas não é verdade. Elas são, às vezes, mal educadas. Usam sem hora, sem limites e regras, mas não precisam de tratamento. Precisam de educação digital. -Entre no Canal do WhatsApp do Canaltech e fique por dentro das últimas notícias sobre tecnologia, lançamentos, dicas e tutoriais incríveis.- Contudo, há luz no fim do túnel. King revela que muitas pessoas procuram o instituto achando que estão em um quadro avançado. Quando, na verdade, precisam de orientações e de colocar em prática novos hábitos. Nomofobia  Há uma diferença entre a pessoa que usa telas todos os dias e por muitas horas para trabalhar, da pessoa com a dependência patológica, que tem nome: nomofobia (transtorno psicológico que se caracteriza pelo medo irracional de ficar sem um celular ou outros eletrônicos e telas). Essa, sim, deve receber um tratamento. De acordo com a psicóloga, geralmente, há um transtorno mental associado que potencializa a dependência digital como ansiedade, depressão, compulsão ou pânico. Ao procurar tratamento, o paciente é submetido a uma avaliação. Em caso de nomofobia diagnosticada, além desse aprendizado de uso consciente, será necessário tratamento psicológico, para entender os motivos por trás da dependência. Pode haver necessidade ou não de incluir medicação no processo. Sinais de alerta A busca pelo tratamento acontece quando torna-se perceptível algum sinal de prejuízo seja na área pessoal, social, familiar, acadêmica ou profissional. Como deixar de entregar um trabalho ou ser demitido; brigar em família com o cônjuge e /ou os filhos por causa do celular; ter prejuízo escolar e acadêmico, como redução de notas; ter prejuízo social como a falta de interações reais.  Efeitos no cérebro A especialista cita, ainda, que curtidas e comentários nas redes sociais funcionam de forma bem parecida com o prazer e a diversão oferecida pelos jogos — agem liberando substâncias químicas no como dopamina, endorfina e serotonina, direto setor de recompensa. É por isso que a pessoa viciada volta o tempo todo para as mesmas experiências em busca de felicidade, sem perceber. Crianças e adolescentes Muitas vezes, com pais e avós que nasceram em épocas em que a tecnologia não reinava dessa forma, é comum que crianças e jovens não recebam a orientação digital mai adequada. Os pais não sabem educar. Mas, quem paga a internet, quem paga o wi-fi? Quem deixa o filho ficar o dia inteiro no quarto? King alerta que pais e adultos que moram com os menores são responsáveis pela vida digital deles. A criança e o adolescente não devem ficar o dia inteiro sozinhos no quarto jogando ou usando a internet sem supervisão de um adulto; assim como nas escolas, ambiente em que, recentemente, o celular foi proibido em todo Brasil por força da Lei nº 15.100/2025. Eu sou super a favor, porque agora eles têm que interagir, fazer esporte, se socializar, perder a timidez, coisas que fazem parte do desenvolvimento deles. Com celular na mão, cada um se isola no seu canto. Bons e melhores hábitos para adotar A boa notícia é que há maneiras de evitar adoecer mentalmente e virar escravo da dependência digital. Contudo, o processo exige algum esforço e mudanças na rotina que precisam ser levadas a sério todos os dias para que se obtenham resultados satisfatórios. De acordo com a especialista, são elas:  Evite usar logo que acordar. Levante-se da cama, tome o café da manhã; Evite usar na hora das refeições (curta a comida, sinta o gosto); Desligue duas horas antes de dormir para relaxar o cérebro; Evite usar em locais públicos como ônibus, metrô, em salas de espera; Evite usar quando sai com amigos, vai a restaurantes ou festas, dê atenção para as pessoas que estão ao redor de você e não fique no celular;  Para quem trabalha, tente usar a tecnologia apenas em horário comercial;  Estabeleça limites de horários e evite atender demandas fora do expediente; Quando estiver no trabalho, evite usar para fins pessoais em demasia;  “Nós, do Instituto Delete, não somos contra o uso de tecnologias, pelo contrário, nós somos super a favor, mas que seja usada de modo consciente para que você colha os benefícios e evite os prejuízos que o uso excessivo pode t

Abr 12, 2025 - 08:58
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Você pode (ainda) não estar viciado em telas, apenas mal educado para usá-las

A provocação do título é da psicóloga, doutora em saúde mental e uma das fundadoras do Instituto Delete, Anna Lucia Spear King. Em entrevista à Agência Brasil (EBC), a especialista explica que acordar e olhar o celular ou almoçar e jantar diante de telas não caracteriza, necessariamente, um vício patológico. Pode se tratar, apenas (e ainda), de uma má educação para o uso da tecnologia.

Sendo assim, impor limites é fundamental para evitar prejuízos do uso exagerado e impedir o avanço para o quadro de uma dependência excessiva, que é mais difícil de reverter.

As pessoas confundem, acham que só porque usam todos os dias por muitas horas, são viciadas no rigor da palavra. Mas não é verdade. Elas são, às vezes, mal educadas. Usam sem hora, sem limites e regras, mas não precisam de tratamento. Precisam de educação digital.

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Contudo, há luz no fim do túnel.

King revela que muitas pessoas procuram o instituto achando que estão em um quadro avançado. Quando, na verdade, precisam de orientações e de colocar em prática novos hábitos.

Nomofobia 

Há uma diferença entre a pessoa que usa telas todos os dias e por muitas horas para trabalhar, da pessoa com a dependência patológica, que tem nome: nomofobia (transtorno psicológico que se caracteriza pelo medo irracional de ficar sem um celular ou outros eletrônicos e telas).

Essa, sim, deve receber um tratamento.

De acordo com a psicóloga, geralmente, há um transtorno mental associado que potencializa a dependência digital como ansiedade, depressão, compulsão ou pânico. Ao procurar tratamento, o paciente é submetido a uma avaliação. Em caso de nomofobia diagnosticada, além desse aprendizado de uso consciente, será necessário tratamento psicológico, para entender os motivos por trás da dependência. Pode haver necessidade ou não de incluir medicação no processo.

Sinais de alerta

A busca pelo tratamento acontece quando torna-se perceptível algum sinal de prejuízo seja na área pessoal, social, familiar, acadêmica ou profissional. Como deixar de entregar um trabalho ou ser demitido; brigar em família com o cônjuge e /ou os filhos por causa do celular; ter prejuízo escolar e acadêmico, como redução de notas; ter prejuízo social como a falta de interações reais. 

Efeitos no cérebro

A especialista cita, ainda, que curtidas e comentários nas redes sociais funcionam de forma bem parecida com o prazer e a diversão oferecida pelos jogos — agem liberando substâncias químicas no como dopamina, endorfina e serotonina, direto setor de recompensa. É por isso que a pessoa viciada volta o tempo todo para as mesmas experiências em busca de felicidade, sem perceber.

Crianças e adolescentes

Muitas vezes, com pais e avós que nasceram em épocas em que a tecnologia não reinava dessa forma, é comum que crianças e jovens não recebam a orientação digital mai adequada.

Os pais não sabem educar. Mas, quem paga a internet, quem paga o wi-fi? Quem deixa o filho ficar o dia inteiro no quarto?

King alerta que pais e adultos que moram com os menores são responsáveis pela vida digital deles. A criança e o adolescente não devem ficar o dia inteiro sozinhos no quarto jogando ou usando a internet sem supervisão de um adulto; assim como nas escolas, ambiente em que, recentemente, o celular foi proibido em todo Brasil por força da Lei nº 15.100/2025.

Eu sou super a favor, porque agora eles têm que interagir, fazer esporte, se socializar, perder a timidez, coisas que fazem parte do desenvolvimento deles. Com celular na mão, cada um se isola no seu canto.

Bons e melhores hábitos para adotar

A boa notícia é que há maneiras de evitar adoecer mentalmente e virar escravo da dependência digital. Contudo, o processo exige algum esforço e mudanças na rotina que precisam ser levadas a sério todos os dias para que se obtenham resultados satisfatórios.

De acordo com a especialista, são elas: 

  • Evite usar logo que acordar. Levante-se da cama, tome o café da manhã;
  • Evite usar na hora das refeições (curta a comida, sinta o gosto);
  • Desligue duas horas antes de dormir para relaxar o cérebro;
  • Evite usar em locais públicos como ônibus, metrô, em salas de espera;
  • Evite usar quando sai com amigos, vai a restaurantes ou festas, dê atenção para as pessoas que estão ao redor de você e não fique no celular; 
  • Para quem trabalha, tente usar a tecnologia apenas em horário comercial; 
  • Estabeleça limites de horários e evite atender demandas fora do expediente;
  • Quando estiver no trabalho, evite usar para fins pessoais em demasia; 

“Nós, do Instituto Delete, não somos contra o uso de tecnologias, pelo contrário, nós somos super a favor, mas que seja usada de modo consciente para que você colha os benefícios e evite os prejuízos que o uso excessivo pode trazer”, finalizou King.

O Instituto Delete foi criado em 2013, dentro do Instituto de Psiquiatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), pioneira no Brasil e também uma das primeiras no mundo voltada à pesquisa sobre o impacto das tecnologias na saúde e às orientações sobre o uso consciente das telas e a dependência digital.

A entrevista completa você lê no site da Agência Brasil (EBC).

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