A razão pela qual Volodymyr Zelenskyy não usou terno no funeral do Papa Francisco

Em um evento marcado pela solenidade, como o funeral do Papa Francisco, espera-se que os participantes sigam certas tradições de vestuário como forma de respeito. No entanto, mesmo em momentos tão sérios, as escolhas de estilo de algumas personalidades acabam roubando a cena e gerando debates. O que muitos não imaginam é que, por trás de peças aparentemente simples, podem existir mensagens profundas ligadas a contextos políticos e sociais.

O código de vestimenta para cerimônias fúnebres no Vaticano é bem definido. Homens devem usar ternos escuros, gravata preta e uma faixa ou botão da mesma cor na lapela do paletó, combinados com camisas brancas. Para as mulheres, a orientação inclui vestidos longos e pretos, luvas, véu e apenas um colar de pérolas como adorno. O objetivo é garantir discrição e uniformidade, reforçando o caráter solene do momento. Ainda assim, nem todos seguem à risca essas diretrizes.

Um exemplo foi o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que compareceu ao evento vestindo um terno azul — uma escolha que o destacou imediatamente entre os demais, todos de preto. Enquanto isso, outro líder chamou atenção por motivos que vão além da cor: Volodymyr Zelenskyy, presidente da Ucrânia, optou por um visual casual, com uma jaqueta e camisa pretas, sem gravata. A ausência de trajes formais não passou despercebida nas redes sociais, onde usuários relembraram discussões anteriores sobre seu estilo.

Em fevereiro, durante um encontro na Casa Branca, Zelenskyy usou calças e botas pretas, além de um suéter militar com o tridente ucraniano bordado. Na ocasião, Trump fez comentários irônicos sobre suas roupas, e um jornalista chegou a acusá-lo de desrespeitar o protocolo do Salão Oval. A resposta do líder ucraniano foi direta: “Usarei um terno quando a guerra terminar”.

Essa frase resume a estratégia por trás de suas escolhas. Desde o início da invasão russa à Ucrânia, em 2022, Zelenskyy adotou roupas que remetem ao estilo militar, como camisetas cáqui, botas e jaquetas utilitárias. Segundo ele, as peças não são apenas práticas para um comandante em meio a um conflito, mas também uma forma de comunicação. Cada aparição pública, seja em vídeos gravados em Kiev ou em encontros internacionais, carrega um simbolismo: lembrar ao mundo que a guerra ainda não acabou.

Zelenskyy é criticado por não usar terno no funeral do Papa Francisco — mas há uma razão por trás de sua escolha

A equipe de Zelenskyy reforça essa ideia. Elvira Gasanova, diretora criativa da marca Damirli — responsável por alguns de seus looks mais icônicos —, explicou que o visual militar é um “sinal” para outros líderes. “Quando o veem assim, entendem que a Ucrânia está em guerra e que ele faz parte dessa luta”, disse em entrevista. “A insistência para que ele volte a usar terno é, indiretamente, um pedido para que o país retome o diálogo político tradicional, como se a guerra já tivesse terminado.”

Zelenskyy já deixou claro que só trocará suas roupas casuais por trajes formais quando a vitória ucraniana for consolidada. Em um documentário, exibiu um paletó guardado especialmente para essa ocasião. “É um símbolo”, afirmou. “Significa que a guerra está perto do fim e que todos voltaremos a usar ternos.”

Especialistas em moda e história concordam que, mesmo desviando dos padrões diplomáticos, o presidente mantém o respeito. Zoya Zvynyatskivska, historiadora de moda ucraniana, destacou que suas roupas, embora informais, são pensadas para transmitir sobriedade. “Não é um terno, mas uma opção intermediária: cores sóbrias, peças discretas. Se ele abandonasse o estilo militar agora, daria a entender que o conflito acabou”, explicou.

Enquanto isso, nas cerimônias internacionais, Zelenskyy continua desafiando convenções. Seu visual no funeral do Papa Francisco, por exemplo, misturou um toque formal (a jaqueta preta) com elementos do dia a dia (a camisa sem gravata). A mensagem subjacente permanece a mesma: enquanto soldados ucranianos estiverem em combate, ele não adotará símbolos de normalidade.

O debate sobre suas roupas reflete um conflito maior. Para alguns, a rigidez dos códigos de vestimenta em eventos diplomáticos é parte de uma tradição que deve ser preservada. Para outros, contextos excepcionais — como uma guerra em curso — exigem flexibilidade. Zelenskyy, ao transformar seu guarda-roupa em uma ferramenta de comunicação, prova que a moda pode ser mais do que estética: um meio de reforçar discursos e manter causas urgentes em evidência.

Nas últimas décadas, outros líderes também usaram roupas para transmitir mensagens. Nelson Mandela, por exemplo, adotou camisas estampadas para celebrar a cultura africana. Já Angela Merkel era conhecida por seus casacos coloridos em meio a mares de ternos escuros em reuniões da UE. No caso de Zelenskyy, porém, a roupa não é apenas um detalhe pessoal, mas um lembrete visual constante de um conflito que ainda exige atenção global.

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