Como a IA afeta o nosso cérebro? Neurocientista explica

A Inteligência Artificial está transformando a maneira como trabalhamos, aprendemos, consumimos informação e nos relacionamos. Mas o que essa revolução digital está fazendo com a nossa mente? Será que o cérebro humano está preparado para acompanhar tanta mudança em tão pouco tempo? Neurônios artificiais que imitam sentidos humanos podem revolucionar a IA Novo assistente de IA tem formato de pingente e quer ler sua mente Para responder a essas perguntas, conversamos com o Neurocientista e Especialista em Comportamento, André Cruz no Podcast Canaltech, que analisa os impactos cognitivos, emocionais e sociais da IA, inclusive os mais invisíveis.  Cérebro milenar em um mundo digital Segundo André Cruz, o ser humano vive hoje uma sobrecarga de estímulos que desafia os limites do cérebro. “O cérebro é muito antigo e não tem como se adaptar tão rápido a tantas mudanças. Vivemos um excesso de conexão, de informação e uma simultaneidade infinita”, explica. -Entre no Canal do WhatsApp do Canaltech e fique por dentro das últimas notícias sobre tecnologia, lançamentos, dicas e tutoriais incríveis.- Essa avalanche de estímulos provoca uma espécie de "bug" mental. “Nunca tivemos tanto burnout, tantas dúvidas sobre o que fazemos. Estamos viciados em dopamina, com tudo muito rápido e fácil, do necessário ao desnecessário.” Perda cognitiva e superficialidade Um dos efeitos mais preocupantes da IA é o impacto na cognição humana. Cruz aponta que, com a facilidade de acesso à informação, o cérebro passa a exercer menos esforço cognitivo. “Se o cérebro entende que uma mensagem já vem pronta, você não precisa processar. Isso gera dependência de respostas prontas, déficit de atenção e superficialidade”, alerta. O excesso de automatização pode reduzir a memória de longo prazo e enfraquecer a capacidade de análise profunda. Efeitos emocionais e sociais A substituição de interações humanas por interações com IA também traz consequências. “A IA afeta a empatia e o convívio social. Sempre fomos seres de grupo, e quem está fora do grupo tende a perder mais, inclusive segurança emocional”, destaca o neurocientista. Ele alerta para o risco de uma geração hiperconectada, mas emocionalmente distante. “Estamos começando a ver um vício tecnológico multigeracional. A tecnologia está presente em tudo, mas precisamos observar como isso afeta o senso de pertencimento e os vínculos humanos.” IA nas escolas e no trabalho André cita o exemplo da China, onde a Inteligência Artificial já é ensinada no currículo escolar a partir dos seis anos. “Para essas crianças, a IA será algo natural, emocionalmente inclusive. O cérebro delas vai compreender essa tecnologia com mais facilidade do que o nosso.” No mercado de trabalho, a IA também exige uma reconfiguração completa. “Há um medo real: ‘vou perder meu emprego se não souber usar IA”. As empresas precisam inserir a tecnologia na cultura organizacional de forma humana, mostrando que ela vem para potencializar o ser humano, não substituí-lo.” Ele destaca que áreas como o RH já estão sendo impactadas. “Como contratar e manter talentos está mudando. A neuroplasticidade será a chave para a adaptação: o cérebro é capaz de criar novas conexões e hábitos.” IA, chips e ética A integração entre cérebro humano e tecnologia é uma das fronteiras mais avançadas da ciência. “Projetos como o Neuralink já mostram a possibilidade de fazer cegos voltarem a enxergar ou pessoas com paralisia voltarem a andar. Isso é fantástico”, afirma Cruz. No entanto, ele também aponta para os dilemas éticos. “Essa tecnologia pode criar super-humanos, com acesso desigual a melhorias. A ética ainda está sendo construída. Mas sou a favor da fusão entre humano e máquina, desde que seja para potencializar o ser humano, não para transformá-lo em máquina.” Segundo o especialista, estamos vivendo uma revolução comparável à industrial ou à agrícola, só que agora, no plano da inteligência e do comportamento humano. “Tudo está mudando. Mas o cérebro vai se adaptar. A neuroplasticidade é a chave”, finaliza André. Confira o episódio completo e entenda melhor o impacto da tecnologia na nossa saúde mental, no comportamento coletivo e nas relações humanas. Confira outras matérias do Canaltech: Como a Inteligência Artificial é capaz de aprender sozinha? GPT-4.1, o3 e o4-mini: conheça os novos modelos de IA da OpenAI Qual é a diferença entre IA generativa e agentes de IA? Leia a matéria no Canaltech.

Abr 27, 2025 - 21:22
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Como a IA afeta o nosso cérebro? Neurocientista explica

A Inteligência Artificial está transformando a maneira como trabalhamos, aprendemos, consumimos informação e nos relacionamos. Mas o que essa revolução digital está fazendo com a nossa mente? Será que o cérebro humano está preparado para acompanhar tanta mudança em tão pouco tempo?

Para responder a essas perguntas, conversamos com o Neurocientista e Especialista em Comportamento, André Cruz no Podcast Canaltech, que analisa os impactos cognitivos, emocionais e sociais da IA, inclusive os mais invisíveis. 

Cérebro milenar em um mundo digital

Segundo André Cruz, o ser humano vive hoje uma sobrecarga de estímulos que desafia os limites do cérebro. “O cérebro é muito antigo e não tem como se adaptar tão rápido a tantas mudanças. Vivemos um excesso de conexão, de informação e uma simultaneidade infinita”, explica.

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Essa avalanche de estímulos provoca uma espécie de "bug" mental. “Nunca tivemos tanto burnout, tantas dúvidas sobre o que fazemos. Estamos viciados em dopamina, com tudo muito rápido e fácil, do necessário ao desnecessário.”

Perda cognitiva e superficialidade

Um dos efeitos mais preocupantes da IA é o impacto na cognição humana. Cruz aponta que, com a facilidade de acesso à informação, o cérebro passa a exercer menos esforço cognitivo.

“Se o cérebro entende que uma mensagem já vem pronta, você não precisa processar. Isso gera dependência de respostas prontas, déficit de atenção e superficialidade”, alerta. O excesso de automatização pode reduzir a memória de longo prazo e enfraquecer a capacidade de análise profunda.

Efeitos emocionais e sociais

A substituição de interações humanas por interações com IA também traz consequências. “A IA afeta a empatia e o convívio social. Sempre fomos seres de grupo, e quem está fora do grupo tende a perder mais, inclusive segurança emocional”, destaca o neurocientista.

Ele alerta para o risco de uma geração hiperconectada, mas emocionalmente distante. “Estamos começando a ver um vício tecnológico multigeracional. A tecnologia está presente em tudo, mas precisamos observar como isso afeta o senso de pertencimento e os vínculos humanos.”

IA nas escolas e no trabalho

André cita o exemplo da China, onde a Inteligência Artificial já é ensinada no currículo escolar a partir dos seis anos. “Para essas crianças, a IA será algo natural, emocionalmente inclusive. O cérebro delas vai compreender essa tecnologia com mais facilidade do que o nosso.”

No mercado de trabalho, a IA também exige uma reconfiguração completa. “Há um medo real: ‘vou perder meu emprego se não souber usar IA”. As empresas precisam inserir a tecnologia na cultura organizacional de forma humana, mostrando que ela vem para potencializar o ser humano, não substituí-lo.”

Ele destaca que áreas como o RH já estão sendo impactadas. “Como contratar e manter talentos está mudando. A neuroplasticidade será a chave para a adaptação: o cérebro é capaz de criar novas conexões e hábitos.”

IA, chips e ética

A integração entre cérebro humano e tecnologia é uma das fronteiras mais avançadas da ciência. “Projetos como o Neuralink já mostram a possibilidade de fazer cegos voltarem a enxergar ou pessoas com paralisia voltarem a andar. Isso é fantástico”, afirma Cruz.

No entanto, ele também aponta para os dilemas éticos. “Essa tecnologia pode criar super-humanos, com acesso desigual a melhorias. A ética ainda está sendo construída. Mas sou a favor da fusão entre humano e máquina, desde que seja para potencializar o ser humano, não para transformá-lo em máquina.”

Segundo o especialista, estamos vivendo uma revolução comparável à industrial ou à agrícola, só que agora, no plano da inteligência e do comportamento humano. “Tudo está mudando. Mas o cérebro vai se adaptar. A neuroplasticidade é a chave”, finaliza André.

Confira o episódio completo e entenda melhor o impacto da tecnologia na nossa saúde mental, no comportamento coletivo e nas relações humanas.

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