Filhotes de pássaro usam dopamina para saber se estão aprendendo a cantar

Cientistas estudaram os sinais cerebrais de pássaros para descobrir como o aprendizado de suas cantorias acontece, revelando que, mesmo sem audiência, eles sabem se estão melhorando ou não. O segredo está nos receptores de dopamina do cérebro, que recompensam as aves mais ou menos, a depender da qualidade de seu desempenho. Pombos resolvem problemas e aprendem como uma IA Esta ave é tão inteligente quanto um primata ou uma criança A pesquisa, liderada pelo cientista Richard Mooney, da Universidade Duke, analisou os mandarins, ou tentilhões-zebra (Taeniopygia guttata). Assim como nós, humanos, não nascemos sabendo nosso idioma nativo, esses pássaros também precisam aprender a cantar com outros de sua espécie, atingindo habilidade o suficiente para atrair parceiros na vida adulta. Aprendendo a cantar Segundo Mooney, é necessário muito treino para os mandarins: um filhote precisa praticar todos os dias, com até 10.000 práticas diárias. Na espécie, apenas os machos cantam, aprendendo as canções a partir de memorizações dos cantos de seus pais. São necessários três meses desde a eclosão do ovo para atingir a maestria vocal. -Entre no Canal do WhatsApp do Canaltech e fique por dentro das últimas notícias sobre tecnologia, lançamentos, dicas e tutoriais incríveis.-   A equipe do cientista gravou o canto de mandarins jovens em salas à prova de som, usando um modelo com aprendizagem de máquina para analisar as milhares de canções repetidas pelos filhotes e elencar sua qualidade. Também foram medidos os níveis de liberação de dopamina nos gânglios basais dos pássaros, parte do cérebro envolvida no aprendizado de habilidades motoras. Os cientistas notaram que, sempre que um pássaro praticava, os níveis de dopamina subiam no gânglio basal, independente de erros e acertos. Qualquer esforço para cantar era recompensado, mas os níveis de dopamina eram maiores quando a performance era melhor do que o típico para a idade da ave. Isso quer dizer que, mesmo sem estímulos ou feedback externo, os mandarins conseguiam usar a dopamina como uma espécie de bússola interna para melhorar seu desempenho. Ao bloquear a dopamina e a acetilcolina (mensageiro químico que libera dopamina) nos pássaros, eles progrediram menos, já que não havia um modo de aprender com a cantoria. Os tentilhões-zebra, como este da foto, conseguem aprender a cantar mesmo sem incentivo externo — tudo graças à dopamina cerebral (Imagem: Wirestock/Freepik) Os achados, segundo a equipe, podem ser extrapolados para outras espécies: todos os vertebrados, como nós, usam dopamina e acetilcolina no cérebro. Com os pássaros, podemos aprender como humanos aprendem habilidades como malabarismo ou tocar um novo instrumento. Aprender a cantar é muito parecido com a maneira com que crianças aprendem coisas espontaneamente. Além disso, problemas na sinalização de dopamina estão ligados a doenças como Parkinson e esquizofrenia, então estudos como o realizado com os mandarins ajudam a ciência a compreender melhor o funcionamento desses mecanismos e podem ajudar a buscar curas e tratamentos futuros. Leia também: Pássaro viraliza ao imitar perfeitamente choro de bebê humano; ouça! Os 10 animais mais inteligentes do mundo Por que os animais não falam? A ciência explica! VÍDEO: #MaravilhasDaTecnologia Robô Pássaro #Shorts   Leia a matéria no Canaltech.

Mar 27, 2025 - 23:16
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Filhotes de pássaro usam dopamina para saber se estão aprendendo a cantar

Cientistas estudaram os sinais cerebrais de pássaros para descobrir como o aprendizado de suas cantorias acontece, revelando que, mesmo sem audiência, eles sabem se estão melhorando ou não. O segredo está nos receptores de dopamina do cérebro, que recompensam as aves mais ou menos, a depender da qualidade de seu desempenho.

A pesquisa, liderada pelo cientista Richard Mooney, da Universidade Duke, analisou os mandarins, ou tentilhões-zebra (Taeniopygia guttata). Assim como nós, humanos, não nascemos sabendo nosso idioma nativo, esses pássaros também precisam aprender a cantar com outros de sua espécie, atingindo habilidade o suficiente para atrair parceiros na vida adulta.

Aprendendo a cantar

Segundo Mooney, é necessário muito treino para os mandarins: um filhote precisa praticar todos os dias, com até 10.000 práticas diárias. Na espécie, apenas os machos cantam, aprendendo as canções a partir de memorizações dos cantos de seus pais. São necessários três meses desde a eclosão do ovo para atingir a maestria vocal.

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A equipe do cientista gravou o canto de mandarins jovens em salas à prova de som, usando um modelo com aprendizagem de máquina para analisar as milhares de canções repetidas pelos filhotes e elencar sua qualidade. Também foram medidos os níveis de liberação de dopamina nos gânglios basais dos pássaros, parte do cérebro envolvida no aprendizado de habilidades motoras.

Os cientistas notaram que, sempre que um pássaro praticava, os níveis de dopamina subiam no gânglio basal, independente de erros e acertos. Qualquer esforço para cantar era recompensado, mas os níveis de dopamina eram maiores quando a performance era melhor do que o típico para a idade da ave.

Isso quer dizer que, mesmo sem estímulos ou feedback externo, os mandarins conseguiam usar a dopamina como uma espécie de bússola interna para melhorar seu desempenho. Ao bloquear a dopamina e a acetilcolina (mensageiro químico que libera dopamina) nos pássaros, eles progrediram menos, já que não havia um modo de aprender com a cantoria.

Os tentilhões-zebra, como este da foto, conseguem aprender a cantar mesmo sem incentivo externo — tudo graças à dopamina cerebral (Imagem: Wirestock/Freepik)
Os tentilhões-zebra, como este da foto, conseguem aprender a cantar mesmo sem incentivo externo — tudo graças à dopamina cerebral (Imagem: Wirestock/Freepik)

Os achados, segundo a equipe, podem ser extrapolados para outras espécies: todos os vertebrados, como nós, usam dopamina e acetilcolina no cérebro. Com os pássaros, podemos aprender como humanos aprendem habilidades como malabarismo ou tocar um novo instrumento. Aprender a cantar é muito parecido com a maneira com que crianças aprendem coisas espontaneamente.

Além disso, problemas na sinalização de dopamina estão ligados a doenças como Parkinson e esquizofrenia, então estudos como o realizado com os mandarins ajudam a ciência a compreender melhor o funcionamento desses mecanismos e podem ajudar a buscar curas e tratamentos futuros.

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VÍDEO: #MaravilhasDaTecnologia Robô Pássaro #Shorts

 

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