NVIDIA não é mais fabricante de GPUs: "Agora somos fábrica de IA", diz CEO

Durante a GTC 2025, o maior evento de inteligência artificial do mundo realizado esta semana em San Jose, Califórnia, o CEO da NVIDIA, Jensen Huang, declarou que a empresa evoluiu e não deve mais ser vista como uma simples fabricante de chips gráficos, mas como uma "empresa de infraestrutura de IA". Ex-CEO da Intel critica preço de GPUs da NVIDIA para IA: "tiveram sorte" Principais tecnologias da nova geração de GPUs GeForce RTX 50 Blackwell O anúncio ocorre justamente quando a inteligência artificial deixa de ser apenas uma promessa futurista e se estabelece como o principal motor da transformação digital a nível mundial. Com uma valorização de mercado que já ultrapassa os US$ 2,9 trilhões (cerca de R$ 16 trilhões), a NVIDIA se consolidou como a principal fornecedora da infraestrutura que sustenta a revolução da IA, ultrapassando gigantes como Apple, Microsoft e Google em valor de mercado. Além do novo posicionamento, a companhia agora também planeja investir "centenas de bilhões de dólares" em manufatura nos Estados Unidos nos próximos quatro anos. -Entre no Canal do WhatsApp do Canaltech e fique por dentro das últimas notícias sobre tecnologia, lançamentos, dicas e tutoriais incríveis.- De chips gráficos a fábricas de IA Embora tenha começado como uma empresa focada em placas aceleradoras 3D para PCs gamers, a NVIDIA passou por uma metamorfose substancial. "Somos uma empresa de infraestrutura de IA. Somos uma empresa de infraestrutura, não apenas 'compra chips, vende chips'", afirmou Huang aos jornalistas durante o evento em San Jose.   Essa mudança de posicionamento não aconteceu da noite para o dia. A empresa, fundada em 1993, construiu sua reputação inicialmente com GPUs destinadas ao mercado de jogos, mas gradualmente direcionou sua tecnologia para aplicações mais amplas, incluindo computação de alto desempenho e, eventualmente, inteligência artificial. O ponto de inflexão ocorreu quando pesquisadores descobriram que as placas de vídeo do Time Verde eram ideais para treinar modelos de aprendizado profundo, estabelecendo as bases para a atual explosão da IA. Hoje, a empresa vê seu papel não apenas como fornecedora de componentes, mas como construtora das fundações para o desenvolvimento da IA. Durante sua apresentação na GTC 2025, Huang revelou quatro novas arquiteturas de GPU que guiarão a estratégia da empresa até 2027: Blackwell Ultra (2025), Vera Rubin (2026), Feynman (2027) e uma quarta ainda não nomeada. Um mapa de longo prazo que reflete a nova filosofia da empresa: não vender apenas chips, mas planejar e construir a infraestrutura que irá moldar o futuro da tecnologia. Implicações e desafios da nova era A transformação em uma "fábrica de IA" eleva drasticamente as expectativas sobre a NVIDIA. "O padrão de negócios agora é muito, muito, muito mais alto do que antes", admitiu Huang durante a conferência. "A barra da competição está muito mais alta que antes. A tolerância ao risco é muito menor que antes para todos os nossos clientes. Afinal, as receitas deles se traduzem diretamente nisso. É um ciclo de investimento de vários anos porque estamos falando de centenas de bilhões de dólares". Essa posição central no ecossistema de IA coloca a NVIDIA sob um nível sem precedentes de crítica. Se antes um bug em uma placa de vídeo poderia irritar gamers, agora uma falha em seus produtos pode comprometer serviços críticos e interromper operações multibilionárias. A empresa precisa não apenas inovar constantemente, mas garantir que cada nova geração de produtos seja confiável desde o lançamento, algo que Huang reconheceu ao revelar que os clientes de nuvem agora planejam suas infraestruturas com pelo menos dois anos de antecedência. Outro desafio crítico é o equilibrio entre oferta e demanda. Mesmo com o aumento expressivo na produção — Huang anunciou que a empresa vendeu 3,6 milhões de GPUs Blackwell para os quatro principais provedores de nuvem dos EUA em 2024, um salto significativo em relação aos 1,3 milhão de GPUs Hopper vendidas no ano anterior —, a demanda continua superando a capacidade de entrega. O CEO destacou que esses números não incluem pedidos da Meta, provedores de nuvem menores e startups, sugerindo que a demanda real é ainda maior. CEO da NVIDIA, Jensen Huang anuncia computador pessoal de IA DGX Spark na GTC 2025 (Foto: Divulgação/NVIDIA) Por que a virada de chave faz sentido A transformação da NVIDIA é amparada por números impressionantes que justificam essa mudança estratégica. A empresa viu suas ações mais que dobrarem de valor desde o início de 2023, impulsionadas pelo boom da IA. No último trimestre fiscal, sua receita cresceu 12%, superando todas as previsões de analistas e alcançando cifras recordes. O mercado de infraestrutura para IA representa uma oportunidade gigantesca. Durante a GTC 2025, Huang projetou que a receita da NVIDIA com infraestrutura de data centers alcançará US$ 1 trilhão até 2027. Essa expectativa não parece exagerada quando consideram

Mar 20, 2025 - 23:06
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NVIDIA não é mais fabricante de GPUs: "Agora somos fábrica de IA", diz CEO

Durante a GTC 2025, o maior evento de inteligência artificial do mundo realizado esta semana em San Jose, Califórnia, o CEO da NVIDIA, Jensen Huang, declarou que a empresa evoluiu e não deve mais ser vista como uma simples fabricante de chips gráficos, mas como uma "empresa de infraestrutura de IA".

O anúncio ocorre justamente quando a inteligência artificial deixa de ser apenas uma promessa futurista e se estabelece como o principal motor da transformação digital a nível mundial. Com uma valorização de mercado que já ultrapassa os US$ 2,9 trilhões (cerca de R$ 16 trilhões), a NVIDIA se consolidou como a principal fornecedora da infraestrutura que sustenta a revolução da IA, ultrapassando gigantes como Apple, Microsoft e Google em valor de mercado.

Além do novo posicionamento, a companhia agora também planeja investir "centenas de bilhões de dólares" em manufatura nos Estados Unidos nos próximos quatro anos.

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De chips gráficos a fábricas de IA

Embora tenha começado como uma empresa focada em placas aceleradoras 3D para PCs gamers, a NVIDIA passou por uma metamorfose substancial. "Somos uma empresa de infraestrutura de IA. Somos uma empresa de infraestrutura, não apenas 'compra chips, vende chips'", afirmou Huang aos jornalistas durante o evento em San Jose.

 

Essa mudança de posicionamento não aconteceu da noite para o dia. A empresa, fundada em 1993, construiu sua reputação inicialmente com GPUs destinadas ao mercado de jogos, mas gradualmente direcionou sua tecnologia para aplicações mais amplas, incluindo computação de alto desempenho e, eventualmente, inteligência artificial. O ponto de inflexão ocorreu quando pesquisadores descobriram que as placas de vídeo do Time Verde eram ideais para treinar modelos de aprendizado profundo, estabelecendo as bases para a atual explosão da IA.

Hoje, a empresa vê seu papel não apenas como fornecedora de componentes, mas como construtora das fundações para o desenvolvimento da IA. Durante sua apresentação na GTC 2025, Huang revelou quatro novas arquiteturas de GPU que guiarão a estratégia da empresa até 2027: Blackwell Ultra (2025), Vera Rubin (2026), Feynman (2027) e uma quarta ainda não nomeada. Um mapa de longo prazo que reflete a nova filosofia da empresa: não vender apenas chips, mas planejar e construir a infraestrutura que irá moldar o futuro da tecnologia.

Implicações e desafios da nova era

A transformação em uma "fábrica de IA" eleva drasticamente as expectativas sobre a NVIDIA. "O padrão de negócios agora é muito, muito, muito mais alto do que antes", admitiu Huang durante a conferência. "A barra da competição está muito mais alta que antes. A tolerância ao risco é muito menor que antes para todos os nossos clientes. Afinal, as receitas deles se traduzem diretamente nisso. É um ciclo de investimento de vários anos porque estamos falando de centenas de bilhões de dólares".

Essa posição central no ecossistema de IA coloca a NVIDIA sob um nível sem precedentes de crítica. Se antes um bug em uma placa de vídeo poderia irritar gamers, agora uma falha em seus produtos pode comprometer serviços críticos e interromper operações multibilionárias. A empresa precisa não apenas inovar constantemente, mas garantir que cada nova geração de produtos seja confiável desde o lançamento, algo que Huang reconheceu ao revelar que os clientes de nuvem agora planejam suas infraestruturas com pelo menos dois anos de antecedência.

Outro desafio crítico é o equilibrio entre oferta e demanda. Mesmo com o aumento expressivo na produção — Huang anunciou que a empresa vendeu 3,6 milhões de GPUs Blackwell para os quatro principais provedores de nuvem dos EUA em 2024, um salto significativo em relação aos 1,3 milhão de GPUs Hopper vendidas no ano anterior —, a demanda continua superando a capacidade de entrega. O CEO destacou que esses números não incluem pedidos da Meta, provedores de nuvem menores e startups, sugerindo que a demanda real é ainda maior.

CEO da NVIDIA, Jensen Huang anuncia computador pessoal de IA DGX Spark na GTC 2025 (Foto: Divulgação/NVIDIA)

Por que a virada de chave faz sentido

A transformação da NVIDIA é amparada por números impressionantes que justificam essa mudança estratégica. A empresa viu suas ações mais que dobrarem de valor desde o início de 2023, impulsionadas pelo boom da IA. No último trimestre fiscal, sua receita cresceu 12%, superando todas as previsões de analistas e alcançando cifras recordes.

O mercado de infraestrutura para IA representa uma oportunidade gigantesca. Durante a GTC 2025, Huang projetou que a receita da NVIDIA com infraestrutura de data centers alcançará US$ 1 trilhão até 2027. Essa expectativa não parece exagerada quando consideramos que, segundo o CEO, a necessidade computacional para IA agêntica — capaz de raciocínio e tomada de decisões contextual — é "facilmente 100 vezes maior do que pensávamos ser necessário no ano passado".

O que torna essa estratégia ainda mais convincente é o novo modelo de negócios que ela estabelece. "Nossas fábricas se traduzem diretamente na receita dos clientes", explicou Huang, posicionando a corporação como parceira indispensável para empresas que querem monetizar a IA. Essa mudança de fornecedora de componentes para habilitadora de receitas amplia significativamente o valor que a empresa pode capturar do mercado.

Receita da NVIDIA tem grande crescimento em quase dois anos (Imagem: Reprodução/NVIDIA)

Navegando pelas tarifas e tensões comerciais

Com a administração de Donald Trump implementando tarifas de 20% sobre produtos chineses, a NVIDIA enfrenta o desafio de manter sua cadeia de fornecimento eficiente e competitiva. Huang, no entanto, demonstrou confiança na capacidade da empresa de contornar esses obstáculos.

"Temos uma rede de fornecedores realmente ágil. Eles não estão apenas em Taiwan, ou apenas no México, ou apenas no Vietnã. Estão distribuídos em muitos lugares", explicou o CEO durante a conferência. "Depende de quais países são tarifados, então acho que, no curto prazo, com base no que sabemos, não esperamos um impacto significativo em nossas perspectivas e finanças".

Essa diversificação permite que a NVIDIA redirecione sua produção conforme necessário, mas a empresa também está adotando uma estratégia mais ousada: transferir uma parte substancial de sua fabricação para os Estados Unidos. Essa abordagem não apenas contorna as tarifas, mas também alinha a empresa com a política de "America First" da administração Trump, garantindo maior apoio governamental para seus empreendimentos.

Huang aposta em cadeia de fornecedores ampla e diversificada para minimizar impactos da tarifação de Trumo sobre produtos da NVIDIA (Foto: Divulgação/NVIDIA)

Plano bilionário para fabricação nos EUA

Em uma entrevista ao Financial Times, Jensen Huang detalhou o plano para expandir sua presença manufatureira nos Estados Unidos. "No geral, vamos adquirir, ao longo dos próximos quatro anos, provavelmente meio trilhão de dólares em eletrônicos no total. E acho que podemos facilmente nos ver fabricando várias centenas de bilhões disso aqui nos EUA", afirmou.

Esse movimento é viabilizado principalmente pelo investimento de US$ 100 bilhões da TSMC, principal fabricante dos chips do Time Verde, em novas plantas de fabricação no Arizona. "O investimento da TSMC nos EUA proporciona um aumento substancial na resiliência da nossa cadeia de suprimentos", destacou Huang, demonstrando como essa parceria é crucial para os planos da empresa.

Os investimentos não visam apenas contornar as tarifas, mas também garantir maior controle sobre a cadeia produtiva em um contexto de crescentes tensões entre China e Taiwan, principal polo mundial fabricante de chips avançados. Ao estabelecer capacidade produtiva significativa nos EUA, a NVIDIA reduz sua dependência de uma região geopoliticamente instável e se posiciona para obter apoio governamental.

"Ter o apoio de uma administração que se preocupa com o sucesso desta indústria e não permitir que a energia seja um obstáculo é um resultado fenomenal para a IA nos EUA", comentou Huang, destacando como a mudança também representa um alinhamento estratégico com as políticas industriais estadunidenses, que buscam retomar a liderança na fabricação de semicondutores.

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Com informações: FT

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