Revenge of the Savage Planet – Review

Lá se vão mais de cinco anos desde a nossa análise do belíssimo e subestimado Journey to the Savage Planet, uma aventura ácida em primeira pessoa que nos colocava no papel de um inexperiente explorador galático que precisava lidar com as complicações de um projeto de expansão da humanidade liderado por uma corporação um tanto …

Mai 9, 2025 - 03:09
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Revenge of the Savage Planet – Review

Lá se vão mais de cinco anos desde a nossa análise do belíssimo e subestimado Journey to the Savage Planet, uma aventura ácida em primeira pessoa que nos colocava no papel de um inexperiente explorador galático que precisava lidar com as complicações de um projeto de expansão da humanidade liderado por uma corporação um tanto quanto questionável.

O que poucos de nós nos lembramos é que a iniciativa foi encampada pela Google, depois de adquirir o estúdio independente que estava desenvolvendo o game, como parte do projeto de promoção do vindouro Stadia, cujo destino todos nós já conhecemos, o que deixou em xeque o futuro do estúdio e também da própria franquia recém inaugurada. A ótima notícia de uma continuação direta do projeto não poderia ser mais surpreendente, portanto.

No papel de um novo e intrépido explorador de mundos, despertamos no planeta que deveríamos preparar para a chegada de outros colonos e dos recursos para torná-lo um lugar agradável para a nossa espécie. O que ele não sabia é que durante a sua longa viagem em suspensão, muita coisa aconteceu, incluindo a venda da empresa para a qual ele trabalhava para uma outra ainda maior, que por motivos estratégicos de negócios, cancelou o programa.

O resultado é que assim que se atualiza, nosso herói descobre que foi demitido pelos novos empregadores e que nada virá para lhe dar suporte, uma referência nada sutil à compra do estúdio do game original Typhoon Studios pela gigante da internet que, logo após o fracasso de sua plataforma, foi fechado e lacrado para só ressurgir depois como a atual Raccoon Logic.

Resta ao nosso protagonista tentar se virar com o que tem em mãos, o que não é muita coisa. Seu droide de suporte é um poderoso aliado ao apoiá-lo na aprendizagem de suas principais ações e na aquisição de valiosos equipamentos que foram deixados neste lugar inóspito antes de sua chegada, todos espalhados pelos cantos mais perigosos do local sem qualquer cuidado ou critério lógico.

Por mais que o planeta onde pousamos seja inegavelmente exuberante, com uma vida selvagem pungente que transborda cores vibrantes para todos os lados, tudo o que lá existe parece estar pouco contente com a presença alienígena. Com a fauna e a flora local nada simpáticas à nossa presença, sobreviver será um grande desafio, nos levando sempre ao limite, só para mais tarde nos aprofundarmos na conspiração política e econômica de nossa terra natal graças ao contato com aliados improváveis do outro lado do espaço sideral.

Se missão dada é missão cumprida, nossas ações nos levam a reconstruir a colônia desbloqueando novos módulos e instalações, dando-nos um pouco mais de conforto, mesmo que solitário. Ou quase, porque logo de início, a possibilidade de poder contar com uma parceria em modo cooperativo tanto on-line quando com tela dividida mostra que o coração de Revenge of the Savage Planet parece estar onde deveria.

Seja em modo solo, seja ao lado de outra pessoa, a aventura não será tão simples assim, porém. Com uma forte influência metroidvania, cada nova pesquisa realizada nos permite desbloquear novas ferramentas ou funcionalidades avançadas para aquelas que já temos. O chicote que adquirimos em dado momento da campanha, por exemplo, incorpora funções de gancho de elevação no melhor estilo Batman Arkham, abrindo novas dimensões de exploração vertical de lugares já conhecidos.

Esta máxima de ampliação das gadgets e da ação é o cerne da gameplay. Para cada tarefa bem cumprida, uma série de novas missões de abrem a partir de melhorias a serem incorporadas ao nosso arsenal. Não demora para que aprendamos a manipular lava ou eletricidade, objetos de metal ou água, para que assim possamos abrir passagens bloqueadas, mergulhar em lagos nunca dantes explorados e coisas do tipo.

E quando o primeiro mapa parece desnudo, descobrimos que o mistério lá fora está só começando a se revelar, e a viagem para outros astros do sistema local amplifica o conceito de mundo aberto do jogo. Outros biomas trazem novas habilidades, mas também grandes problemas, fazendo deste game um jóia que se pretende desvelada aos poucos, sem pressa, apresentando suas camadas uma a uma para serem degustadas lentamente.

E por mais que este ritmo tranquilo de revelação seja parte de uma experiência controlada de avanços, ele pode também ser pouco convidativo a quem prefere uma abordagem mais direta e objetiva. Não há qualquer sinal de linearidade em Revenge of the Savage Planet, o que significa que a lógica de progressão foge das convenções da dualidade entre missões principais e outras secundárias. Por mais que algumas ações pareçam mais urgentes que outras, tudo faz parte de um ecossistema interligado, com ramificações que variam de jogador para jogador.

Você pode, por exemplo, focar na linha científica de captura e estudos dos animais encontrados em cada novo mundo, ou ainda escanear tudo o que encontra e completar a enciclopédia destes novos lugares. Pode investir na matança desmedida que, por sua vez, concede alguns tipos de substâncias necessárias para o incremento do equipamento, e pode ainda avaliar cada cantinho escondido para descobrir segredos, recolher dispositivos e fazer um upgrade em suas instalações. E, óbvio, pode fazer qualquer composição destas ações da forma que lhe for mais confortável.

Esta liberdade também está traduzida para um modelo de jogabilidade bastante amplo e cheio de possibilidades. Os pontos de plataforma tridimensionais são, inclusive, mais divertidos e menos exigentes que as partes similares em Journey, deixando de lado a precisão exagerada e apostando na criação de caminhos múltiplos até seus pontos de interesse. Há alguns probleminhas de colisão e na física por vezes desajeitada, mas são casos isolados e pouco relevantes para o conjunto da obra.

O mesmo vale para o sistema de combate, que se distribui entre o tiro e a porradaria corpo a corpo, além do uso de recursos limitados que são mais eficientes contra certos tipos de adversários. Vez ou outra, hordas maiores podem ser mais desafiadoras, mas de modo geral nossas habilidades são muito adaptáveis ao tipo de complicação existente. Se algum chefe parecer mais intimidador, acredite, sempre há formas de serem superados sem tanto sofrimento ou preocupação.

Este é, dito tudo isso, um jogo moldado para uma experimentação moderada e sem pressa. Cada puzzle contextual é como um universo auto contido que pode transbordar para outras tantas ações, que vão desde eliminar as ameaças no entorno até dar uma olhadinha em uma passagem escondida entre as pedras. Se os mapas não são exatamente amplos ou ultra sofisticados, eles são quase em sua totalidade bastante recheados com algo interessante a se analisar. Ou ao menos, a se contemplar pelas belas paisagens.

Aliás, esse visual sem filtros ou qualquer vergonha da sua profusão de cores e formas é um dos maiores trunfos da produção. A escolha pela mudança na perspectiva para a terceira pessoa, algo que me agradou imensamente logo de largada, é ainda mais valorizada pelo comportamento meio pateta do nosso avatar, mas sobretudo pela influência da presença dele no mundo. Cada criatura de olhos grandes e tentáculos esquisitos é uma descoberta genuinamente divertida, pelo menos até que comecem a nos complicar a vida mais adiante.

O deslumbre inicial pode passar do ponto pela repetitividade das ações necessárias em retornos e no inevitável grind de recursos. Com cada conjunto de inimigos dando respawn de tempos em tempos nas regiões que habitam, a exceção obviamente de chefes e adversários especiais, muitas vezes nos veremos enfrentando os mesmos grupos mais vezes do que gostaríamos, ou dando voltas maiores só pra evitar a fadiga.

Esse pecado de excesso, por assim dizer, não chega a tornar Revenge of the Savage Planet menos atraente, mas certamente pode criar momentos de cansaço em sessões mais alongadas, principalmente quando se está sozinho. Acompanhado, a coisa é mais leve e fluida, mesmo com o fato irritante de que se um dos dois morre quando a dupla está em um planeta distante, ambos voltam à base na base original, interrompendo qualquer dinâmica que esteja sendo bem sucedida pelo jogador que não caiu.

Diante das boas qualidades, porém, estes aspectos falhos acabam sendo menores para a premissa divertida e cheia de sub textos surpreendentemente maduros e críticos em cada canto. A exposição do consumismo já era, no primeiro game, um tema recorrente, mas é na alegoria do mundo corporativista onde reside a maior piada do jogo.

Sem se pretender militante demais e se apropriando dos recursos da sátira com seu modo de tratar sobre temas mais espinhudos, sobretudo quando consideramos o estado atual da indústria dos games (e da economia global), Revenge of the Savage Planet não se esquiva de falar da própria história de seus idealizadores sem perder a essência cômica de uma aventura pueril, ora usando de um bom humor sofisticado, ora apelando sem qualquer vergonha para um modelo pastelão mais escrachado. Diante tudo isso, só uma pergunta fica no ar: quando vem o terceiro jogo? Porque definitivamente, nós precisamos saber nos divertir com as nossas próprias desgraças exatamente da forma como este game faz.



Revenge of the Savage Planet está disponível para PS5, Xbox Series e PC. Esta análise é da versão PS5 e foi realizada com um código fornecido pela Raccoon Logic.