Análise: Tempest Rising é uma bela homenagem aos clássicos de estratégia bélica

Pode ser difícil de acreditar, mas houve um tempo em que franquias como Command & Conquer, Starcraft e Age of Empires eram quase tão populares quanto Call of Duty e Fortnite são hoje. Sim, durante a década de 1990 e o início dos anos 2000, esses títulos (e tantos outros similares) não somente definiram o gênero de estratégia em tempo real (RTS, na sigla em inglês), como se tornaram verdadeiros símbolos do PC Gaming, marcando legiões de jogadores nesse processo.Desenvolvido pela Slipgate Ironworks (Ghostrunner, Ion Fury), Tempest Rising é um jogo que se apresenta justamente como um elogio a essa saudosa era. Combinando nostalgia e complexidade nas doses certas, essa aventura sobre um conflito global supera as expectativas e consegue entregar uma bela homenagem aos clássicos RTS de PC e seus fãs, que, infelizmente, por vezes parecem esquecidos pela indústria.O surgimento da tempestade Tempest Rising se passa em uma realidade alternativa à nossa, mais especificamente no ano de 1997. Aqui, ao contrário do trágico falecimento da princesa Diana e da clonagem da ovelha Dolly, o que domina o noticiário é a preocupante escalada do conflito global envolvendo o aparecimento de uma misteriosa planta radioativa chamada Tempest.Isso porque, inicialmente percebida como uma ameaça à humanidade, a Tempest logo se provou ser uma fonte poderosíssima de energia, especialmente em um contexto pós-guerra, no qual países inteiros sofrem as duras consequências da Terceira Guerra Mundial, que, nesta realidade, ocorreu após a Crise dos Mísseis de Cuba, em 1962.A maioria dos campos globais de Tempest é controlada pela aliança Global Defense Force; autoproclamada uma força de pacificação, tal organização é composta pelos Estados Unidos, o Canadá e alguns representantes da Europa Ocidental. Porém, a Tempest Dynasty — conjunto de nações europeias e asiáticas formado para resistir à ocupação da GDF — começou a disputar a propriedade da Tempest em seus territórios, dando assim início a um conflito global pelo recurso.Nesse desafiador contexto político, caberá a você — um comandante militar em ascensão, dono de um histórico invejável — liderar as tropas de uma das duas facções até a vitória em diferentes (e cada vez mais complexas) missões. No entanto, a tarefa não será nada fácil, principalmente com os crescentes rumores sobre a existência de uma terceira organização militar independente, que inclusive estaria por trás do próprio surgimento da Tempest…Comande e conquisteComo as capturas de tela que acompanham esta análise indicam, Tempest Rising é um jogo de estratégia em tempo real de estilo clássico. Na prática, a sua jogabilidade e perspectiva isométrica são bastante semelhantes às dos games da série Command & Conquer, ao ponto que, se você for um fã da lendária franquia da EA, acredito que certamente se sentirá acolhido com este lançamento.Uma prova disso é que as duas organizações jogáveis aqui presentes (GDF e Tempest Dynasty) possuem campanhas próprias, com tarefas parecidas, mas mecânicas, unidades e veículos singulares, essencialmente dobrando o fator replay da narrativa. Outro ponto bem legal é que, apesar do número de fases em si não ser muito alto (são onze para cada facção, para ser mais preciso), cada uma das missões aqui presentes pode demorar várias horas para ser completada, devido à complexidade dos sistemas in-game e a liberdade que o jogador possui, podendo sempre montar a estratégia que julgar mais conveniente para cada cenário.Já no primeiro capítulo da campanha da GDF, por exemplo, somos convocados a controlar simultaneamente unidades bastante distintas, como batedores de campo, operadores de drone e granadeiros. Os batedores, como o nome implica, são melhor aproveitados na linha de frente; já os operadores de drone conseguem atacar eficientemente a distâncias mais longas, mas são presas fáceis se não tiverem proteção adequada; por fim, os granadeiros são resistentes e especialmente letais contra grupos e estruturas, podendo até virar uma partida caso sejam bem usados.Logo, desde os primeiros momentos fica claro que saber como posicionar suas tropas e quando avançar, atacar ou recuar — tudo em tempo real — é fundamental para conseguir completar os objetivos primários e secundários de cada estágio. Nada de selecionar todo mundo com o mouse e clicar com o botão direito no inimigo ad infinitum: mesmo na dificuldade mais fácil, Tempest Rising requer planejamento e atenção para que o pelotão saia com a vitória.E nada mais coerente, pois um desafio justo (mas concreto), sempre foi um dos fatores que ditaram quais RTS ficariam marcados no imaginário coletivo por décadas — aliás, quantas tentativas de reboot e “sucessores espirituais” se perderam nisso, simplificando ou complicando mecânicas desnecessariamente. Em resumo, assim como em uma guerra de verdade, qualquer descuido aqui pode significar a perda de territórios ou unidades importantes, inclusive comprometendo uma partida aparentemente promissora.Minha casa, sua casaA

Mai 21, 2025 - 01:10
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Análise: Tempest Rising é uma bela homenagem aos clássicos de estratégia bélica
Pode ser difícil de acreditar, mas houve um tempo em que franquias como Command & Conquer, Starcraft e Age of Empires eram quase tão populares quanto Call of Duty e Fortnite são hoje. Sim, durante a década de 1990 e o início dos anos 2000, esses títulos (e tantos outros similares) não somente definiram o gênero de estratégia em tempo real (RTS, na sigla em inglês), como se tornaram verdadeiros símbolos do PC Gaming, marcando legiões de jogadores nesse processo.




Desenvolvido pela Slipgate Ironworks (Ghostrunner, Ion Fury), Tempest Rising é um jogo que se apresenta justamente como um elogio a essa saudosa era. Combinando nostalgia e complexidade nas doses certas, essa aventura sobre um conflito global supera as expectativas e consegue entregar uma bela homenagem aos clássicos RTS de PC e seus fãs, que, infelizmente, por vezes parecem esquecidos pela indústria.

O surgimento da tempestade 

Tempest Rising se passa em uma realidade alternativa à nossa, mais especificamente no ano de 1997. Aqui, ao contrário do trágico falecimento da princesa Diana e da clonagem da ovelha Dolly, o que domina o noticiário é a preocupante escalada do conflito global envolvendo o aparecimento de uma misteriosa planta radioativa chamada Tempest.

Isso porque, inicialmente percebida como uma ameaça à humanidade, a Tempest logo se provou ser uma fonte poderosíssima de energia, especialmente em um contexto pós-guerra, no qual países inteiros sofrem as duras consequências da Terceira Guerra Mundial, que, nesta realidade, ocorreu após a Crise dos Mísseis de Cuba, em 1962.

A maioria dos campos globais de Tempest é controlada pela aliança Global Defense Force; autoproclamada uma força de pacificação, tal organização é composta pelos Estados Unidos, o Canadá e alguns representantes da Europa Ocidental. Porém, a Tempest Dynasty — conjunto de nações europeias e asiáticas formado para resistir à ocupação da GDF — começou a disputar a propriedade da Tempest em seus territórios, dando assim início a um conflito global pelo recurso.

Nesse desafiador contexto político, caberá a você — um comandante militar em ascensão, dono de um histórico invejável — liderar as tropas de uma das duas facções até a vitória em diferentes (e cada vez mais complexas) missões. No entanto, a tarefa não será nada fácil, principalmente com os crescentes rumores sobre a existência de uma terceira organização militar independente, que inclusive estaria por trás do próprio surgimento da Tempest…

Comande e conquiste

Como as capturas de tela que acompanham esta análise indicam, Tempest Rising é um jogo de estratégia em tempo real de estilo clássico. Na prática, a sua jogabilidade e perspectiva isométrica são bastante semelhantes às dos games da série Command & Conquer, ao ponto que, se você for um fã da lendária franquia da EA, acredito que certamente se sentirá acolhido com este lançamento.

Uma prova disso é que as duas organizações jogáveis aqui presentes (GDF e Tempest Dynasty) possuem campanhas próprias, com tarefas parecidas, mas mecânicas, unidades e veículos singulares, essencialmente dobrando o fator replay da narrativa. Outro ponto bem legal é que, apesar do número de fases em si não ser muito alto (são onze para cada facção, para ser mais preciso), cada uma das missões aqui presentes pode demorar várias horas para ser completada, devido à complexidade dos sistemas in-game e a liberdade que o jogador possui, podendo sempre montar a estratégia que julgar mais conveniente para cada cenário.

Já no primeiro capítulo da campanha da GDF, por exemplo, somos convocados a controlar simultaneamente unidades bastante distintas, como batedores de campo, operadores de drone e granadeiros. Os batedores, como o nome implica, são melhor aproveitados na linha de frente; já os operadores de drone conseguem atacar eficientemente a distâncias mais longas, mas são presas fáceis se não tiverem proteção adequada; por fim, os granadeiros são resistentes e especialmente letais contra grupos e estruturas, podendo até virar uma partida caso sejam bem usados.

Logo, desde os primeiros momentos fica claro que saber como posicionar suas tropas e quando avançar, atacar ou recuar — tudo em tempo real — é fundamental para conseguir completar os objetivos primários e secundários de cada estágio. Nada de selecionar todo mundo com o mouse e clicar com o botão direito no inimigo ad infinitum: mesmo na dificuldade mais fácil, Tempest Rising requer planejamento e atenção para que o pelotão saia com a vitória.

E nada mais coerente, pois um desafio justo (mas concreto), sempre foi um dos fatores que ditaram quais RTS ficariam marcados no imaginário coletivo por décadas — aliás, quantas tentativas de reboot e “sucessores espirituais” se perderam nisso, simplificando ou complicando mecânicas desnecessariamente. Em resumo, assim como em uma guerra de verdade, qualquer descuido aqui pode significar a perda de territórios ou unidades importantes, inclusive comprometendo uma partida aparentemente promissora.

Minha casa, sua casa

Algo bem interessante é que a busca pelo Tempest não fica somente na narrativa e, pelo contrário, acaba influenciando diretamente na jogabilidade do título. Por exemplo, ao construir uma refinaria e um veículo catador durante uma missão, torna-se possível armazenar e converter a energia das plantas encontradas em créditos, que por sua vez podem ser usados para investir em mais veículos, soldados, silos de armazenamento ou até mesmo estruturas mais poderosas, como heliportos ou baías de reparo.

Isso mesmo: Tempest Rising dá aos seus jogadores a tarefa de não somente planejar ou coibir ofensivas, mas também de erguer e gerenciar bases militares completas, administrando os recursos necessários para tal, mesmo que próximo de um território inimigo. Inclusive, com dezenas de tipos de estruturas, defesas e veículos disponíveis nas duas facções, não faltará variedade para quem decidir explorar a fundo essa vertente do título, tanto durante o modo história quanto nos modos multiplayer.

Sim, enriquecendo sua proposta, Tempest Rising também conta com suporte para partidas multijogador 1x1 ou 2x2, inclusive com um sistema de ranqueamento próprio. Mas se o que você deseja é só um embate descompromissado, fique tranquilo(a): também há a possibilidade de personalizar as regras e criar uma sala privada para enfrentar um ou mais amigos (ou bots controlados pela inteligência artificial do título), inclusive em modo LAN.

Só há um problema nisso tudo. Em diversos momentos, Tempest Rising parece um jogo pensado quase exclusivamente para os veteranos calejados de guerra (vide a própria inclusão do modo LAN, que apesar de louvável, tem um caráter extremamente nichado). Essa impressão é reforçada pelo tutorial complexo e estranhamente difícil do jogo, que requer a tomada de uma base inimiga.

Com poucas dicas e orientações não tão claras, não é tão fácil assim entender a melhor forma de cumprir esse objetivo logo na primeira hora, especialmente porque a interface do game também é um pouco confusa — ao menos há localização para o português. Outro exemplo disso é que cada membro individual do seu exército pode assumir uma função específica dentre patrulhar uma rota, defender uma posição, avançar atacando ou seguir outra unidade.

Porém, diferentes soldados e veículos possuem valiosas habilidades especiais (como o uso de minas ou drones autônomos) que por vezes não são explicadas ou mesmo facilmente localizadas nos menus e janelas, atrapalhando a experiência em vários momentos de aprendizagem, mas especialmente no início da campanha.

A verdade nua e crua é que os jogadores mais experientes não encontrarão tantas dificuldades assim (alguns provavelmente até apreciarão descobrir as mecânicas por conta própria), mas temo que a introdução confusa afaste quem não tem tanta experiência com o gênero (o ideal seria jogar no modo fácil até entender a maioria das mecânicas). Dito isso, como Tempest Rising ainda receberá suporte por um tempo e até uma terceira facção jogável, seria muito bom ver algumas melhorias no tutorial e na interface.

Outros recursos que infelizmente não deram as caras no lançamento são um editor de mapas e o suporte à Oficina Steam. Considerando que os maiores clássicos RTS contam com pelo menos uma dessas opções e avaliando também o seu impacto natural na longevidade de um título de estratégia, fico na torcida para que essas integrações estejam pelo menos sendo consideradas pelos desenvolvedores. Afinal, não há como negar que seria bem legal batalhar com amigos ou bots em mapas criados pela comunidade, ou até mesmo baixar campanhas customizadas.

A guerra em sua melhor forma

Falando da parte técnica, mesmo tendo sido desenvolvido na Unreal Engine 5 — que infelizmente tem ficado marcada pela performance inconsistente e casos severos de stuttering mesmo em PCs high end —, Tempest Rising dá um show de otimização, com sua performance se mantendo estável mesmo nas configurações gráficas mais altas e/ou com muitos personagens e efeitos simultâneos na tela. 

No quesito upscaling, também fico feliz em reportar que há suporte às tecnologias DLSS, FSR e XeSS, além da opção de geração de quadros em placas compatíveis. Em meu PC — um Ryzen 7 5700x e uma RTX 3060 12GB — não tive absolutamente nenhum problema com o jogo; no preset Épico e com o DLSS no modo qualidade, a taxa de quadros se manteve bem acima dos 60 frames por segundo, com um tempo de resposta bastante agradável.

A meu ver, a otimização merece elogios justamente porque as unidades do game são bastante detalhadas. Mesmo durante um confronto, por exemplo, é possível identificar os seus soldados e até dividi-los por categoria sem ter que abusar do recurso de zoom. Texturas, iluminações e sombras também são bem bonitas para o gênero (sem dúvidas, pontos fortes da Unreal 5), rendendo automaticamente boas oportunidades de captura de tela para quem gosta de aumentar sua galeria virtual.

Por fim, os fãs de C&C também gostarão de saber que a trilha sonora de Tempest Rising conta com nada menos que a participação de Frank Klepacki, lendário compositor da franquia da EA. Este é um daqueles vários pequenos toques que reforçam o carinho e o respeito da Slipgate para com suas inspirações e influências, enriquecendo a proposta e fazendo desta uma surpreendente e bem-vinda celebração de um gênero que marcou o HD e os corações de muitos fãs.

Uma bem-vinda celebração dos clássicos de outrora

Unindo nostalgia e desafio nas doses certas, Tempest Rising prova que jogos de estratégia bélica não somente ainda têm espaço no mercado, como podem ser experiências imperdíveis, capazes de conquistar tanto novos quanto antigos fãs. No fim, esta aventura da Slipgate se destaca em todos os quesitos fundamentais e prova que é plenamente possível homenagear um gênero ao mesmo tempo em que estabelece um marco referencial para os seus desenvolvimentos futuros. Então celebremos, jogadores: nesta guerra virtual em específico, somos todos vencedores.

Prós

  • Presta uma bela homenagem a um gênero que marcou época no PC, assumindo com honras o pesado manto de sucessor espiritual dos jogos de estratégia bélica em tempo real;
  • A presença de uma campanha separada para cada uma das duas facções praticamente dobra o fator replay;
  • O suporte a multiplayer online ou por LAN é bem-vindo e promete estender a vida útil do jogo para as comunidades dedicadas;
  • Os gráficos bonitos para o estilo e a participação de Frank Klepacki na trilha sonora enriquecem e valorizam a proposta;
  • Localização em português;
  • Bem otimizado, sem stutterings ou outros problemas conhecidos da Unreal Engine 5.

Contras

  • O tutorial confuso e difícil pode afastar quem tem pouca ou nenhuma intimidade com este estilo de jogo;
  • A interface e sua usabilidade poderiam ter sido melhor trabalhadas;
  • Poderia contar com suporte a mods ou um criador de mapas oficial.
Tempest Rising — PC — Nota: 8.5
Revisão: Farley Santos
Análise produzida com cópia digital cedida pela 3D Realms
Tempest Rising 8.5 PC Combining nostalgia and challenge in the right way, Tempest Rising proves that war strategy games not only still have a place in the market, but can also be unmissable experiences, capable of winning over new and old fans alike.