Clair Obscur: Expedition 33 – Review

O interesse geral em Clair Obscur: Expedition 33 surgiu quase de imediato em sua revelação. Seja pelo visual de ponta, atores e dubladores escalados, proposta de um RPG de turnos mais tradicional e até mesmo comparações com outros títulos da indústria, diversos jogadores não passaram despercebidos pela promessa da Sandfall Interactive. Após minha jornada de …

Abr 23, 2025 - 11:44
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Clair Obscur: Expedition 33 – Review

O interesse geral em Clair Obscur: Expedition 33 surgiu quase de imediato em sua revelação. Seja pelo visual de ponta, atores e dubladores escalados, proposta de um RPG de turnos mais tradicional e até mesmo comparações com outros títulos da indústria, diversos jogadores não passaram despercebidos pela promessa da Sandfall Interactive. Após minha jornada de mais de 30 horas, posso afirmar facilmente que é um dos meus jogos preferidos dessa geração e que deveria ser conferido por qualquer um minimamente interessado.

Num mundo onde uma fragmentação separou sobreviventes para a pequena ilha Lumiére e deixou um continente tomado de monstros oriundos da manipulação da Artífice, uma entidade vigente no mundo quase como uma deusa, muitos mistérios ficam em volta dos sobreviventes e da maldição que culminou após o evento. Chamado de gommage, um evento que a cada período a Artífice pinta um novo número em seu monólito e todos com a aquela idade simplesmente desaparecem, isso tem sido a causa e motivação das expedições que saem da ilha em busca de derrotar a entidade e parar com tal desastre. Com os números descendo a cada vez que o monólito é ativado e com cada vez menos pessoas para uma próxima expedição após o fracasso da anterior, as chances da humanidade de vencer tem diminuído a níveis críticos. A expedição 33, formada de voluntários e principalmente dos que estarão no próximo gommage, sabe da importância da sua tarefa e da necessidade urgente de reverter a sequência de derrotas que acontecem por anos, fazendo de tudo para impedir que uma expedição 32 exista.

Clair Obscur Expedition 33

No papel dos sobreviventes que se juntam após o início da expedição 33 já em continente e ao enfrentar os primeiros percalços no caminho, o jogador assume uma tarefa de esperança numa jornada quase sempre fadada ao fracasso, mas que pode mudar devido à presença de novos expedicionários e seus desejos de sucesso além do normal. Descobrindo os segredos das expedições anteriores, adentrar novos mistérios e indo além do que se sabia em Lumiére, qualquer passo será fundamental para chegar ao fim de um mundo destruído e sem muitas esperanças.

É importante entender como Clair Obscur trata diversos temas integrantes da sua proposta de maneira magistral do início ao fim para compor a história. Além disso, também para formar esse pilar básico, o jogo é simplesmente fenomenal em seus aspectos artísticos, visuais e sonoros. Como parte principal da montagem da narrativa e criando os eventos que, ainda que diversos pontos estejam presentes e praticamente jogados na sua cara para um entendimento geral, o jogador só vai tomar consciência da junção de tudo isso na revelação principal da história e conclusão no Ato 3. Portanto, ao vermos de forma separada cada personagem com suas motivações e histórias próprias, cada ambiente, paleta de cores, estrutura visual, trilha sonora e até mesmo inimigos, a junção de todos esses fatores na revelação do jogo deixa claro o quanto alguns pontos da história foram pensados e fragmentados no jogo para criar um ambiente totalmente quebrado que tem uma junção e explicação no fim de forma proposital.

Pode não ser a melhor forma de tentar explicar tudo isso, já que carece realmente do jogador ter a experiência em mãos, mas tenha certeza de que todos esses aspectos fazem sentido até mesmo na construção narrativa como um todo durante sua campanha de 25 a 30 horas. Diversas reviravoltas, revelações de personagens, locais, histórias menores e mais estarão presentes dando corpo em tudo o que a expedição 33 irá enfrentar pelo caminho, mas, além disso, a capacidade do roteiro e os temas abordados talvez seja o que realmente dá um toque específico em toda essa história.

Clair Obscur Expedition 33

Tratando a morte como o tema principal, as perguntas e respostas ao redor disso são pontos primordiais para qualquer evento encontrado no caminho da expedição. Por exemplo, o próprio gommage deixa claro a mudança dos sobreviventes quanto ao aspecto de viver a vida e mudar o luto para outro foco. Sabendo da sua própria morte, o que o faria tentar aproveitar mais a vida? Ou isso seria uma batalha perdida a ponto de se entregar? Além disso, o que seres tão poderosos nesse universo podem fazer como consequência do luto? Diversos questionamentos assim vão moldar a estrutura narrativa encontrada em Clair Obscur, desde seu início até os momentos finais, tratado com excelência em diversos diálogos, ponto de vista dos personagens, motivação de vilões e mais.

Muito disso é reforçado por 2 pontos principais, sendo a química entre os personagens, englobando as consequências de tudo o que já falamos antes, e o excelente trabalho de dublagem. Nomes consagrados da mídia em geral, como Ben Starr, Charlie Cox e Andy Serkis, entregam uma dublagem excelente e cativante durante todo o jogo. Mesmo assim, é Jennifer English, como Maelle, que mais se destaca aqui juntando a capacidade da atriz com a construção da personagem. De toda forma, atuação e dublagem é apenas mais um ponto sublime nas conquistas de Clair Obscur: Expedition 33.

Clair Obscur Expedition 33

Observando ainda sobre o intuito de trazer de volta aspectos dos clássicos RPG’s de anos atrás, uma das mais acertadas é o uso do mapa-múndi como área navegável e explorável, com áreas menores e principais sendo pontos de acesso no mapa. Além do fator nostalgia, aqui funciona bem ao valorizar certa liberdade ao jogador o incentivando na exploração, mas também demonstra mais da capacidade artística do jogo. O design geral do mapa é muito bem construído e, nas partes finais do jogo, isso fica mais evidente com maneiras diferentes de o explorar.

De certa forma, dizer até que há certas semelhanças com Persona e Final Fantasy não é nenhum exagero aqui. Não só em mapas, narrativas e construção de tudo o que vemos na história, mas também no estilo em si. Conversar com seus companheiros de expedição, entender mais de cada um e suas motivações neste universo é algo sempre interessante. Como sempre, luto e morte é trazido à tona e cada um presente ali tem histórias únicas, como Sciel e seu passado de dor, mas que quase nunca demonstra isso. Muito do que é visto aqui quanto a isso e diversos outros pontos de toda narrativa é de um trabalho único, que é valorizado ainda mais quando o estúdio define o jogo como um AA, sem grande produção e com um custo menor quando comparado a outros jogos hoje em dia.

Clair Obscur Expedition 33

Um pilar de toda a jogabilidade importante é o combate por turnos aqui. De forma bastante tradicional ao estilo, a grande diferença fica por conta das ações diretas do jogador nos eventos. Ainda funciona da maneira de como aproveitar o turno de cada personagem e se preparar para o do inimigo, usando pontos de ação para habilidades específicas de cada um, aplicando itens ou ataques básicos. Como interação direta, o jogo permite interagir potencializando seus ataques acertando o momento exato do pressionar do botão X (sendo que isso pode ser deixado no automático) e, no que é ainda mais importante, se defender quando o inimigo ataca.

Aqui fica a grande diferença, já que o jogador vai ter até quatro formas diferentes de reagir ao ataque inimigo, sendo esquiva, parry, pulo e uma habilidade especial de defesa. Todas essas ações possuem um tempo exato de uso e que não há medidor direto do momento na tela, mas sim sendo necessário observar cada inimigo e conhecer seus ataques para descobrir a melhor opção. Cada primeira batalha com um inimigo diferente pode parecer um processo complexo, mas avançando para outras ou mesmo na persistência de uma longa batalha, como nos chefes, é possível aperfeiçoar seus momentos de defesa e entender melhor o sistema.

Clair Obscur Expedition 33

Apesar da esquiva e pular serem fáceis de usar e efetivos, o parry é a ação mais recompensadora de todo o sistema de defesa interativo. Apesar de ter uma janela muito menor para acerto, uma sequência toda defendida, além de extremamente satisfatória, permite um contra-ataque direto e impactante na batalha.
Tudo isso pode ser reforçado pelos sistemas de “pictus” e “luminas” que o jogo entrega. Pictus são habilidades que precisam ser ativadas quase que como um feitiço passivo e que, após alguns usos em batalhas, se tornam luminas e passam a ser ativadas sem necessidade do próprio feitiço em si, abrindo margem para mais opções. Isso, com o tempo, permite uma certa montagem de build específica ou geral, abrangendo ataque, defesa, pontos de vida, ações em batalha e muito mais.

Apesar de todo o sistema ser bem funcional, adicionando à equação as armas, benefícios únicos de cada uma para seu personagem e as habilidade específicas de estilo de cada um, como magias e atributos elementais específicos que pode servir de potencializadores de ataques ou um grande debuff se forem usados contra inimigos errados, a construção de tudo isso só não fica perfeita por causa de uma interface não tão inspiradora ou atraente em alguns momentos. Apesar do estilo artístico, a apresentação de textos, distribuição de informações e mais pode ser um pouco confuso e, principalmente, poluir desnecessariamente a tela de jogo em alguns momentos.

Clair Obscur Expedition 33

Já algo que talvez seja muito particular, fica a questão do jogo não se abrir tanto em direcionamento mais próximo do seu fim ou ao poder explorar o mundo após o término da campanha principal. Haverá uma considerável quantidade de conteúdo a aproveitar e que muito precisará ser feito na base da tentativa e erro, averiguando quais caminhos é possível seguir acompanhando seu nível de poder atual. Haverá áreas, inimigos e missões quase impossíveis de se enfrentar e não há muita sinalização para isso, com o jogador tendo que gastar horas evoluindo sem muito direcionamento ou até mesmo sem muito senso de progresso.

Sobre o já tão elogiado aspecto artístico é impossível não destacar a magistral trilha sonora. Com o jogo fortemente inspirado pela cultura artística da França ao longo dos séculos, muito disso é transferido para a qualidade das trilhas do jogo. Diversas delas, sejam de batalhas ou personagens, são emocionantes e belas em diversos momentos do jogo todo. É quase impossível não se emocionar com o trabalho sonoro no fim dos atos 1 e 2, nas batalhas de alguns chefes e nos arcos, desenvolvimento e conclusão, de alguns personagens específicos.
Entretanto, a parte visual acaba por sofrer com o que parece mais ser limitação da Unreal Engine do que da direção de arte em si. Às vezes borrado ou sem foco, em partes com iluminação não tão precisa, a qualidade visual parece sofrer em alguns pontos pelas já conhecidas insuficiências da engine, como efeitos alpha, cabelo, fogo e fumaça, granulados demais. Mesmo assim, com uma performance forte e com a direção de arte equilibrando esses problemas, vemos muita qualidade também e que é notável, como o design dos personagens principais e algumas localizações espetaculares.

Clair Obscur Expedition 33

Como um todo, Clair Obscur: Expedition 33 é um achado incrível para 2025, ainda que sua campanha de marketing já tenha sido excelente para apresentar isso. Com imensas qualidades e uma produção de alto nível, ainda que se define como um AA e se vendendo abaixo da proposta de mercado em valores atuais, o trabalho da Sandfall Interactive é primoroso e só pode ser pontuado pequenas falhas pelo que parece ser alguma falta de experiência ou de orçamento. Indicado para qualquer fã de RPG, principalmente dos mais clássicos e mais próximos do trabalho japonês no estilo, acompanhar a história da Expedição 33 é praticamente obrigatório.

Clair Obscur: Expedition 33 está disponível para PS5, Xbox Series e PC. Esta análise é da versão PS5 e foi realizada com um código fornecido pela Kepler Interactive.